Professor por vocação

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Nós...

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Parabéns, Kátia!!!

Parabéeeeeeens!!!!!! Katita!!!


Fechou a prova de Linguagem e língua.
Faz bem tempo que isso não acontece.

A Kátia Márcia é do 3 de Taparuba e deu conta do recado, com toda competência!

Estou muito orgulhosa!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O teatro de Martins Pena

Teatro de Martins Pena

MARTINS PENA (1815-1848)

VIDA: Nasceu no Rio de Janeiro, numa família sem posses. Órfão de pai, foi encaminhado pelos tutores à vida comercial. Ainda jovem freqüentou a Academia de Belas Artes, estudando desenho, arquitetura e música. Em 1838, teve sua primeira comédia (O juiz de paz na roça) encenada pela célebre companhia teatral de João Caetano. Neste mesmo ano ingressou no serviço diplomático, exercendo várias funções cargos até atingir a posição de adido. Enviado para Londres, em 1847, acabou contraindo tuberculose. Morreu no ano seguinte, em Lisboa quando retornava ao Brasil. Apesar de falecer com apenas 33 anos, Luís Carlos Martins Pena escreveu 20 comédias e seis dramas.

OBRAS PRINCIPAIS:

Comédias: O juiz de paz na roça (1842); Os três médicos (1845); O judas em sábado de aleluia (1846); O diletante (1846); Quem casa quer casa (1847); O noviço (1853); Os dois ou o inglês maquinista (1871).

Dramas: Itaminda ou o guerreiro de Tupã (1839)

Embora tivesse escrito alguns dramas (todos de péssima qualidade), Martins Pena destacou-se por suas comédias, através das quais fundou o teatro nacional. A origem destas obras resulta de uma curiosa característica da época: normalmente após a apresentação de um drama, os espectadores assistiam a uma breve farsa, provinda da dramaturgia portuguesa, e cuja função era desopilar as emoções excessivas causadas pela peça principal. Favorecido pelo interesse de João Caetano, o mais famoso ator e encenador do período, Martins Pena percebeu que podia dar ao gênero um caráter brasileiro, introduzindo tipos, situações e costumes facilmente identificáveis pelo público do Rio de Janeiro
.
Na verdade, a comédia de costumes (em geral, de um ato apenas) era a única espécie teatral que se adaptava às circunstâncias históricas do Brasil, na primeira metade do século XIX. A exemplo de Manuel Antônio de Almeida, uma espécie de seu discípulo no romance, Martins Pena intuiu que nem o drama, nem a tragédia se ajustariam ao universo que propunha retratar. Porque as elites imperiais, fossem as urbanas ou as do campo, careciam de maior complexidade social e humana, não permitindo a criação de textos psicológicos mais densos. Também as classes médias eram pobres em caracteres e dimensão histórica. Restavam apenas os escravos, estes sim participantes de um drama real e pungente. Só que quando apareciam representados nos palcos o eram unicamente como moleques de recados, amas de leite, etc. Ou seja, não havia outro caminho para o jovem teatrólogo senão a utilização do riso para registrar a sua época.

No conjunto, as comédias são superficiais e ingênuas, os tipos humanos são esboçados de forma primária e as tramas pecam, às vezes, pela falta de coerência e verossimilhança. Mesmo assim, estas peças apresentam tal vivacidade nas situações e no registro dos costumes e tamanha espontaneidade nos diálogos que ainda hoje ainda podem ser lidas ou assistidas com prazer.

TEMAS E SITUAÇÕES PRINCIPAIS

Algumas comédias são sátiras aos costumes rurais, revelando os hábitos curiosos, a fala simples e a extrema candura que delimitam os seres da roça. Estes são criaturas broncas e rústicas, ainda mais quando comparadas aos homens da capital, requintados e espertos. Porém os caipiras têm, com freqüência, melhor índole que os tipos da Corte. Até os pequenos corruptos, como o juiz de O juiz de paz na roça, não deixam de possuir uma certa inocência simpática.

Já as peças que focalizam a vida urbana efetivam, como observou Amália Costa, uma “leitura” irônica dos problemas da época: o casamento por interesse, a carestia, a exploração do sentimento religioso, a desonestidade dos comerciantes, a corrupção das autoridades públicas, o contrabando de escravos, a exploração do país por estrangeiros e o autoritarismo patriarcal, manifesto tanto na escolha de marido para as filhas quanto de profissão para os filhos.

Um tema dominante tanto nas comédias da roça quanto nas urbanas é o do amor contrariado. A maior parte das tramas cômicas gira em torno de jovens cujos desígnios amorosos ainda não se cumpriram. Como bem analisou Sábato Magaldi, tudo se origina do fato de os pais preferirem pretendentes velhos e ricos para seus filhos. Estes, ao contrário, crêem no amor sincero e desinteressado. Contudo, jamais um sopro trágico percorre tais paixões irrealizadas porque todas elas serão resolvidas positivamente, em clima da mais completa farsa, no final das peças. As situações são muitas parecidas (amor impossível pela má-fé de vilões – desmascaramento cômico dos empecilhos – final feliz). Pode-se afirmar que o casamento(ou pelo menos o namoro sério) constitui o epílogo mais comum destas comédias.

Martins Pena não teve seguidores diretos, exceção talvez a Artur Azevedo. Contudo, o teatro de costumes, um teatro semipopular, sem grandes pretensões estéticas, continuou existindo como única veia autêntica do palco nacional, no século passado.

O NOVIÇO

Uma das poucas peças de Martins Pena em três atos, O noviço gira em torno da pérfida ação de Ambrósio que se casa por interesse com Florência, rica viúva, mãe da jovem Emília, do menino Juca e tutora do sobrinho Carlos, este o personagem principal da peça O vilão Ambrósio já havia convencido a mulher a colocar Carlos (o noviço) em um seminário. Agora quer também internar Emília em um convento, pois ela se encontra em idade de casar e teria de receber um dote significativo da mãe. Igual destino aguarda o menino que deve se tornar frade. Assim, Ambrósio ficaria com toda a fortuna de Florência.

Carlos, no entanto, foge do convento e esconde-se na casa da tia, já que quer fazer carreira militar e, sobretudo, desposar a prima Emília, por quem está apaixonado. O acaso o ajuda na luta contra Ambrósio: vinda do Ceará, surge Rosa, a primeira mulher do vilão e da qual ele não se separara oficialmente. Rosa conta a Carlos que o seu marido desaparecera com todo o dinheiro que ela possuía.

O problema imediato de Carlos, porém, é livrar-se do Mestre dos Noviços que está atrás dele para reconduzi-lo ao convento. Em cena hilariante, aproveita-se da ingenuidade da mulher e troca de roupa com ela. Esta, em seguida, é encontrada pela autoridade religiosa com a batina do rapaz. Confundida com o noviço fugido, é remetida imediatamente ao seminário. Enquanto isso, Carlos, vestido de mulher, começa a ameaçar Ambrósio com a história de sua bigamia. Após inúmeras peripécias, o vilão é desmascarado diante da própria Florência, e os jovens Carlos e Emília ficam livres para o mútuo envolvimento amoroso.

OS DOIS OU O INGLÊS MAQUINISTA

Mariquinha e seu primo Felício se amam, mas como este é pobre não há possibilidade de casamento. A moça é cortejada por outros dois homens: Negreiro, um traficante de escravos, e Gainer, um inglês espertalhão. A crítica operada contra os dois personagens – ambos desejosos de obter a fortuna pessoal da jovem mediante o casamento – parece transcender à banalidade das tramas de Martins Pena. Funciona como metáfora da própria realidade nacional, dominada no plano econômico pelos traficantes e pelo capital inglês. À chegada do pai de Mariquinha, a quem todos julgavam morto, soma-se o conflito entre o inglês e o traficante (outra metáfora da história do Brasil da época?), permitindo a revelação dos caracteres degradados dos dois pretendentes. Assim, Mariquinha e o primo Felício podem efetivar a relação amorosa, como se o brasileiro simbolicamente tomasse posse da riqueza da nação.

LEITURA SUPLEMENTAR

Magaldi, Sábato. Panorama do teatro brasileiro. Rio de Janeiro, Funarte, s/d., 2ª.ed.
Costa, Amália. Nossos clássicos - Martins Pena. Rio de Janeiro, Agir, 1961.

Martins Pena – o autor que consolidou o teatro no Brasil!

Luís Carlos Martins Pena nasceu no dia 05 de novembro de 1815 no Rio de Janeiro (RJ). Seu pai era desembargador e não tinha muitas posses. Ficou órfão muito cedo, com apenas um ano, de pai e aos dez anos, de mãe. Seu padrasto, o militar Antônio Maria da Silva Torres, deixou-o sob tutela, após a morte da esposa em 1825 durante o parto da filha.

Sob orientação dos tutores, ingressou na carreira comercial e concluiu em 1835, aos vinte anos, o curso de Comércio. Estudou, ainda, literatura, teatro, desenho, música, arquitetura, história, além do estudo de outras línguas. Este último foi responsável pelo ingresso do autor na carreira diplomática, o que o levou a Londres. Na viagem de volta ao Brasil, o autor sofre complicações da tuberculose em Lisboa e falece aos 7 dias de dezembro de 1848 em Lisboa (Portugal).

Martins Pena é considerado o consolidador do teatro no Brasil com suas comédias de costumes que até hoje são representadas.
A primeira representação de uma peça do autor foi em outubro de 1838, a peça era “O juiz de paz na roça”, no Teatro São Pedro.

Ao passo que se despontava como escritor de peças teatrais, exercia diversos cargos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, inclusive como agregado à Legação do Brasil em Londres (Inglaterra).

Além de fundador da comédia de costumes no Brasil, escreveu outros gêneros como farsas e dramas e contribuiu no Jornal do Commercio como crítico teatral.

Sua obra consta do período anterior ao Romantismo, mas é considerado como teatro romântico. Suas peças brincavam com os costumes na época do rei, com personagens populares, como que tiradas das ruas do Rio de Janeiro e colocadas no papel: malandros, moças com ânsias em casar, juízes, estrangeiros, jovens pomposos, velhas solteiras, funcionários públicos, meirinhos, contrabandistas, etc. O âmbito social e o enredo escolhidos por Martins Pena também refletia os da época casamentos, festas na roça, festas da cidade, decisão de herança, pagamento de dotes, e assim por diante.

Martins Pena, com certeza, ofereceu uma identidade ao teatro brasileiro, dando ao mesmo cunho histórico, uma vez que retratava a própria sociedade brasileira da primeira metade do século XIX.

Obras: Um Sertanejo na Corte (1833-37), O Juiz de Paz da Roça (1842), O Judas em Sábado de Aleluia (1846), O Cigano (1845), As Casadas Solteiras (1845), O Noviço (1845), O Namorador ou A Noite de São João (1845), O Caixeiro da Taverna (1845), Os Meirinhos (1845), Os Ciúmes de um Pedestre ou O Terrível Capitão do Mato (1846), Os Irmãos das Almas (1846), O Diletante (1846), Quem Casa, Quer Casa (1847).

Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola

"Engenheiros" na escola...

Era a efervescência do final dos anos 80, princípio da minha vida. Eu tinha 16 anos e namorava o meu vizinho, com quem eu acabei não me casando, mas a quem eu amaria, de certa forma, por toda uma vida...
No dia dos namorados daquele ano incrível (se não me engano, 1990), ele me deu de presente: um álbum duplo, da capa amarela. Eu não gostava de rock n roll, mas não conseguia ignorar aquela banda. Eles eram assim como meu "namorado", impressionantes. Três caras sem nada de anormal, mas muito incomuns, que falavam de coisas às quais as pessoas não deveriam fingir que não entendiam.
Faz mais de 20 anos que não o vejo, mas Os Engenheiros ficaram. Assim como tudo o que aprendi com eles.

Eu tive outros amores e superei a perda, mas outro dia descobri que o cartão de natal que ele me deu naquele ano, ainda está dentro da minha carteira...
Espero que ele esteja bem, onde estiver hoje, porque graças a ele eu ouvi
" Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones", na voz dos Engenheiros, logo que o Humberto Gessinger teve a devassa e esplêndida ideia de ressucitá-la dos anos 70. Eu vi o show pela tv e ainda hoje meu corpo se arrepia quando me lembro dos gritos de "ou ficar a pátria livre...ou morrer pelo Brasil!!" ou quando penso que eu já entendia letras como a do "Herdeiro da Pampa Pobre". Todo mundo herdou a pampa pobre também... mas a banda é uma herança fantástica que aquela época legou aos meus filhos, e aos meus alunos.

Acho que a vida acabou me dando... um amor... pelo outro...

Quanto aos Engenheiros???

"Quem tiver ouvidos pra ouvir, Ouça!!!"






Herdeiro da Pampa Pobre
Engenheiros do Hawaii
Composição: Gaucho da Fronteira - Vaine Darde

Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a história
Não me deixaram nem sequer matizes?

Passam às mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a história
Não me deixaram nem sequer matizes?

Passam às mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Herdei um campo onde o patrão é rei
Tendo poderes sobre o pão e as águas
Onde esquecido vive o peão sem leis
De pés descalços cabresteando mágoas

O que hoje herdo da minha grei chirua
É um desafio que a minha idade afronta
Pois me deixaram com a guaiaca nua
Pra pagar uma porção de contas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai



Depois De Nós
Engenheiros do Hawaii
Composição: Carlos Maltz

Hoje os ventos do destino
Começaram a soprar
Nosso tempo de menino
Foi ficando para trás
Com a força de um moinho
Que trabalha devagar
Vai buscar o teu caminho
Nunca olha para trás

Hoje o tempo voa nas asas de um avião
Sobrevoa os campos da destruição
É um mensageiro das almas dos que virão ao mundo
Depois de nós

Hoje o céu está pesado
Vem chegando temporal
Nuvens negras do passado
Delirante flor do mal
Cometemos o pecado
De não saber perdoar
Sempre olhando para o mesmo lado
Feito estátuas de sal

Hoje o tempo escorre dos dedos da nossa mão
Ele não devolve o tempo perdido em vão
É um mensageiro das almas dos que virão ao mundo
Depois de nós

Meninos na beira da estrada escrevem mensagens com lápis de luz
Serão mensageiros divinos, com suas espadas douradas, azuis
Na terra, no alto dos montes, florestas do Norte, cidades do Sul
Meninos avistam ao longe
A estrela do menino Jesus

Terceira do Plural



3ª Do Plural
Engenheiros do Hawaii
Composição: Humberto Gessinger

Corrida pra vender cigarro
Cigarro pra vender remédio
Remédio pra curar a tosse
Tossir, cuspir, jogar pra fora
Corrida pra vender os carros
Pneu, cerveja e gasolina
Cabeça pra usar boné
E professar a fé de quem patrocina
Querem te matar a sede, eles querer te sedar
Eles querem te vender, eles querem te comprar

Quem são eles?
Quem eles pensam que são?

Corrida contra o relógio
Silicone contra a gravidade
Dedo no gatilho, velocidade
Quem mente antes diz a verdade
Satisfação garantida
Obsolescência programada
Eles ganham a corrida antes mesmo da largada

Eles querem te vender, eles querem te comprar
Querem te matar de rir, querem te fazer chorar
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?

Vender, comprar, vendar os olhos
Jogar a rede... contra a parede
Querem te deixar com sede
Não querem te deixar pensar
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?




Infinita Highway
Engenheiros do Hawaii
Composição: Humberto Gessinger

Você me faz correr demais
Os riscos desta highway
Você me faz correr atrás
Do horizonte desta highway
Ninguém por perto, silêncio no deserto
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar

Mas não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos, nem objetivos
Nós estamos vivos e é tudo
É sobretudo a lei
Dessa infinita highway

Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, medo dessa estrada
Olhe só, veja você
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E à noite eu acordava banhado em suor

Não queremos lembrar o que esquecemos
Nós só queremos viver
Não queremos aprender o que sabemos
Não queremos nem saber
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só
Só obedecemos a lei
Da infinita highway

Escute, garota, o vento canta uma canção
Dessas que a gente nunca canta sem razão
Me diga, garota: será a estrada uma prisão?
Eu acho que sim, você finge que não
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
"Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre"
Se tanta gente vive sem ter como comer

Estamos sós e nenhum de nós
Sabe onde vai parar
Estamos vivos, sem motivos
Que motivos temos pra estar?
Atrás de palavras escondidas
Nas entrelinhas do horizonte dessa highway
Silenciosa highway

Eu vejo um horizonte trêmulo
Eu tenho os olhos úmidos
Eu posso estar completamente enganado
Eu posso estar correndo pro lado errado
Mas "a dúvida é o preço da pureza"
É inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo
"não corra, não morra, não fume"
Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes

Minha vida é tão confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute, garota, façamos um trato:
Você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato
Eu posso ser um Beatle, um beatnik
Ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa do teu lado
Por isso, garota, façamos um pacto
De não usar a highway pra causar impacto

Cento e dez, cento e vinte
Cento e sessenta
Só prá ver até quando o motor agüenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta
E a sombra do sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway

kkkk...Debate sobre a saga "Twilight" - Massa!!



Junqueira Freire - Poemas

Junqueira Freire

À Amizade

Imagem falsa, duvidosa, incerta,
Não mais minha alma illudirás em sonhos.
Não mais me mostrarão ventura occulta
Teus ademães risonhos.

Candido espectro de fallaz doçura,
Não mais meus olhos te olharão saudosos;
Não mais por ti decorrerão perennes
Meus prantos tão gostosos.

Nutante grimpa, furtacôr, travessa,
Não mais meus passos guiarás na vida:
Não mais verás minha alma vacillante
De teu volver pendida.

Mentiroso pharol em mar-tormenta,
Não mais crerei em tua luz instável;
Não mais a ti dirigirei meu rumo
Com peito inabalável.

Ambiguo e vago doudo pyrilampo,
Não mais teus lumes seguirei constante;
Não mais me enganará por invios trilhos
Teu phosphoro brilhante.

Idéa vã, - phantastica Amizade,
A tempo conheci que eras mentira;
Sarcastico, irrisor demônio, ou fúria,
Que pelo mundo gira.


E eu cri um dia em teu olhar mentido,
Irônica Amizade! – e nescio e fatuo
Julguei teu riso um paraiso eterno.
Julguei as vozes que me davas doce,
Do coração mais intimo arrancadas.
Julguei tua alma um throno sacrosanto,
Onde reinava magestoso, excelso,
O genio bom das affecções mais puras.
Julguei teu peito, ó perfido phantasma,
Um thesouro de angelicas virudes.
Julguei que estava em tua bocca ambigua
A expressão da franqueza e da verdade.
Julguei que só moravam nos teus olhos
Os signaes da candura e da constancia.
Julguei-te um anjo que dos céos descias,
- És um demonio que do abysmo surges!

E eu cri um dia em teu olhar mentido,
Ironica Amizade! – e hallucinado
Abracei um anjo em vez de um anjo!

Olhei um dia para o mundo absurdo,
Que me cercava, deslumbrado, - e disse:
- Quantos homens hî vão contentes lindos,
Felizes, juntos! – que me falta emtanto,
Que sou tão triste de desgralçado?... – E o mundo
Me respondeu assim: - Sózinho, ó bardo! –
E eu repeti – sózinho: - e olhei-me em torno,
E vi ao pé de mim o debil junco
Elastico enrolando-se no tronco.
E vi de rojo a perfida serpente
Unificar-se ao vacillante arbusto.
E vi o arbusto, titubando ao vento,
Incarnar a raiz na gleba firme,
E vi a gleba se agarra fundo
Às camadas mais intimas de argilla.
E vi a argilla se internar mais infima
Nos estrados de ferro e prata e ouro.
E vi ainda os ultimos estrados
Ao coração da terra assimilarem-se.
E vi depois a terra – o globo inteiro
Girando em de redor ao sol formoso.
E eu disse então: -

Sou desgraçado e triste,
Porque meu coração – novel e nescio –
Não achou para unir-se em uma essencia
Um coração igual na dôr, no gozo.

Eis-aqui o que disse, - e que al diria? –
Eis o que disse a natureza inteira,
Quando me respondeu: - Sózinho, ó bardo!-

E em torno de mim eu procurei ancioso
Um coração para sentir commigo.

E eu tive um dia uma visão donosa:
- Era um rosto sereno – que trazia
A placidez divina da virtude,
A simples face da innocencia angelica,
- Reminiscencias da primeira vida
Que já vivemos lá no céo co’os anjos.
- E as lindas flôres que os jardins pintavam,
E as seculares arvores dos bosques,
E as namoradas ondas do oceano,
E a branda lua e as vividas estrellas,
E o céo, e a terra, e a natureza inteira
Pareceram dizer-me: - Achaste: é elle! –

E eu tive um dia uma visão terrivel;
- Esse rosto sereno – que trazia
A expressão da virtude e da innocencia,
Continha um coração de braza e ferro!

Do mar extenso a plana superficie
Tambem ás vezes assocega o nauta,
Emquanto lá na urna das procellas
A tempestade horrenda se prepara.

E puz-me a repetir: - Sózinho, ó bardo! –
E muitas vezes increpei injusto
Da natureza o vaticinio equivoco,
Que os olhos da paixao – cegos ou loucos –
Não me deram a ler no proprio espirito.

Reneguei-te, portanto, ó vão phantasma,
Para sempre, de mim, que hallucinado
Um anjo vi, - mas vejo-te um demonio.

Mas ha outro sentimento,
Ainda que mais mundano,
Verdadeiro;
Onde o prazer se desfructa,
Como a torrente perenne
De um ribeiro.

Mas ha outro sentimento
Mais doce, mais prazenteiro,
Mais real;
Que não é mais – Amizade, -
Que não é mais essa imagem
Ideal.

É de essencia differente
O physico sentimento
Do amor:
Sentimento necessario,
Que não póde ser fingido,
Nem traidor.

N’este sentir – todos sentem
Do modo que a natureza
Manda e quer;
Nem sabe ser cotrafeita,
Quando toda unida ao homem,
A mulher,
Eu quero este amor do mundo,
Este bello sentimento
Natural;
Quero: - que é elle sómente
O sentimento da vida
Mais real.

Fonte: br.geocities.com

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Exercicios preparatórios - Concordância Verbal

E aí, pessoal! Esse é só um testezinho bem tranquilo pra vocês descobrirem se estão mesmo afiados pra falar de Concordância Verbal...
Faz aí, e me conta na sala...
Especial para o 2º A3 e para os 3º Anos.

Exercícios preparatórios – Concordância Verbal
1)Assinale a opção em que há erro conjugação verbal em relação à norma culta da língua:
a) Se ele vir o nosso trabalho, ficará muito doente.
b) Não desanimes; continua batalhando.
c) Meu pai interveio na discussão.
d) Se ele reouvesse o que havia perdido.
e) Quando eu requiser a segunda via do documento...

3. A única frase em que as formas verbais estão corretamente empregadas é:

a) Especialistas temem que órgãos de outras espécies podem transmitir vírus perigosos.
b) Além disso, mesmo que for adotado algum tipo de ajuste fiscal imediato, o Brasil ainda estará muito longe de tornar-se um participante ativo do jogo mundial.
c) O primeiro-ministro e o presidente devem ser do mesmo partido, embora nenhum fará a sociedade em que eu acredito.
d) A inteligência é como um tigre solto pela casa e só não causará problema se o suprir de carne e o manter na jaula.
e) O nome secreto de Deus era o princípio ativo da criação, mas dizê-lo por completo equivalia a um sacrilégio, ao pecado de saber mais do que nos convinha.


4. (FUVEST) Complete as frases abaixo com as formas corretas dos verbos indicados entre parênteses.

a) Quando eu _________________ os livros, nunca mais os emprestarei. (reaver)
b) Os alienados sempre ______________ neutros. (manter-se)
c) As provas que _____________ mais erros seriam comentadas. (conter)
d) Quando ele _________________ uma canção de paz, poderá descansar. (compor)


5. (FGV) Nas questões abaixo, ocorrem espaços vazios. Para preenchê-los, escolha um dos seguintes verbos: fazer, transpor, deter, ir. Utilize a forma verbal mais adequada.

1) Se _______________ dias frios no inverno, talvez as coisas fossem diferentes.
2) Quando o cavalo ________________ todos os obstáculos, a corrida terminará.
3) Se o cavalo _______________ mais facilmente os obstáculos, alcançaria com mais folga a linha de chegada.
4) Se a equipe econômica não se __________________ nos aspectos regionais e considerar os aspectos globais, a possibilidade de solução será maior.
5) Caso ela ______________ ao jogo amanhã, deverá pagar antecipadamente o ingresso.


6. (ENG. MACK) As formas que completariam o período “Pagando parte de suas dívidas anteriores, o comerciante ________________ novamente seu armazém, sem que se __________ com seus credores, para os quais voltou a merecer confiança”, seriam:

a) proveu – indispusesse
b) proviu – indispuzesse
c) proveio – indispuzesse
d) proveio – indispusesse
e) n.d.a.


7. (UFSCar) “O acordo não ______ as reivindicações, a não ser que ______ os nossos direitos e _____ da luta.”

a) substitui – abdicamos – desistimos
b) substitue – abdicamos – desistimos
c) substitui – abdiquemos – desistamos
d) substitui – abidiquemos – desistimos
e) substitue – abdiquemos – desistamos



8. Complete os espaços com um dos verbos colocados nos parênteses:

a) ________________os filhos e o pai...
(chegou/chegaram)
b) Fomos nós que _______________ na questão.
(tocou/tocamos)
c) Não serei eu quem _________________ o dinheiro.
(recolherei/ recolherá)
d) Mais de um torcedor _______________________ estupidamente.
(agrediu-se/agrediram-se)
e) O fazendeiro com os peões __________________ a cerca.
(levantou/ levantaram)


9. Como no exercício anterior.

a) _____________ de haver algumas mudanças no seu governo. (há/ hão)
b) Sempre que ______________ alguns pedidos, procure atendê-los rapidamente. (houver/ houverem)
c) Pouco me _______________ as desculpas que ele chegar a dar. (importa/ importam)
d) Jamais ______________ tais pretensões por parte daquele funcionário. (existiu/ existiram)
e) Tudo estava calmo, como se não ________________ havido tantas reivindicações. (tivesse/ tivessem)



10. Complete os espaços com um dos verbos colocados nos parênteses.

a) Espero que se _________________ as taxas de juro. (mantenha/ mantenham)
b) É importante que se _______________ outras soluções para o problema. (busque/ busquem)
c) Não se ______________ em pessoas que não nos olham nos olhos. (confia/confiam)
d) Hoje já não se __________________ deste modelo de carro. (gosta/ gostam)
e) A verdade é que ________________ certos pormenores pouco convincentes. (observou/observaram)

As respostas... kkkkkkk
Só na sala de aula!!
bjinhuuusss

Regência verbal - tire dúvidas pra prova do 2 bimestre

Há alguns verbos que geram dúvidas quanto à sua regência. A regência desses verbos implica em mudança de sentidos nas frases. Estudar a regência verbal dos casos especiais de regência é importante para termos uma correta interpretação do que nos dizem ou do que lemos. Veja a explicação dos verbos mais usados na língua, mas que causam equívocos quanto à regência:

• Agradar: transitivo direto ou indireto
Objeto direto: fazer carinhos. Exemplo: Agrada a esposa todo aniversário.

Objeto indireto: ser agradável: Exemplo: Seu discurso não agrada ao país.

• Aspirar: transitivo direto ou indireto
Objeto direto: inspirar o ar. Exemplo: Aspirei um aroma muito bom agora.

Objeto indireto: desejar, ter ambição. Exemplo: Aspiro ao cargo de prefeito.

• Assistir: transitivo direto, indireto ou intransitivo
Objeto direto ou indireto. auxiliar, prestar ajuda. Exemplos: O médico assiste o paciente nesse horário./ O médico assiste ao paciente nesse horário.

Objeto indireto: ver, presenciar. Exemplo: Assistimos à peça teatral.

Objeto indireto: pertencer, caber. Exemplo: Esse plantão assiste ao novo porteiro.

Intransitivo: morar, residir. Exemplo: A alegria e a humildade assistem em pessoas de princípios.

• Chamar: transitivo direto ou indireto
Objeto direto: mandar vir, solicitar a presença. Exemplo: A professora chamou os alunos. Quando regido da preposição por: Exemplo: Ela chamou por mim.

Objeto indireto: chamar pelo nome, apelidar. Exemplos: Chamaram a menina de balão. Chamaram-na de balão. Chamaram a menina balão. Chamaram-na balão. Chamaram à menina de balão. Chamaram-lhe balão. Chamaram à menina balão.

• Implicar: transitivo direto ou indireto
Objeto Indireto: acarretar, provocar. Exemplo: A sua desobediência implicará em consequências.

Objeto direto: dar a entender, pressupor. Exemplo: Sua obediência implicará bons resultados, como: experiência e maturidade.

Objeto direto e indireto: comprometer, envolver. Exemplo: Implicaram o presidente da república com embasamento em seu discurso.

Objeto indireto: antipatizar. Exemplo: Joana implicava com sua colega de sala.

• Precisar: transitivo direto e indireto
Objeto direto: indicar com precisão. Exemplo: O policial precisou o lugar do crime.

Objeto indireto: necessitar seguido da preposição de: Exemplo: Joana precisa de sua ajuda.

• Querer: transitivo direto ou indireto
Objeto direto: desejar, permitir. Exemplo: Quero pedir-lhe desculpas.

Objeto indireto com a preposição “a”: gostar, ter afeto. Exemplo: Quero muito bem aos meus familiares.

• Reparar: transitivo direto ou transitivo indireto
Objeto direto: consertar. Exemplo: Vou chamar o técnico para que repare nossa televisão.

Objeto indireto seguido de preposição “em”: prestar atenção: Exemplo: Ele reparou na (em+a) cor do cabelo da menina.

• Visar: transitivo direto ou indireto
Objeto direto: mirar, apontar, pôr visto: Exemplo: O arqueiro visou o centro do seu alvo e acertou.

Objeto indireto (complemento precedido de preposição “a”): ter em vista, ter por objetivo. Exemplo: As novas medidas na empresa visam ao bem-estar geral.

Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Visconde de Taunay - Vida e obra

Gentileza Academia Brasileira de Letras www.academiaorg.br

Visconde de Taunay (Alfred d’Escragnolle Taunay), engenheiro militar, professor, político, historiador, sociólogo, romancista e memorialista, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 22 de fevereiro de 1843, e faleceu também no Rio de Janeiro em 25 de janeiro de 1899. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira n. 13, que tem como patrono Francisco Otaviano.

Era filho de Félix Emílio Taunay, barão de Taunay, e de mulher Gabriela de Robert d’Escragnolle. Seu avô, o famoso pintor Nicolau Antônio Taunay, foi um dos chefes da Missão Artística francesa de 1818 e seu pai foi um dos preceptores de D. Pedro II e durante muito tempo dirigiu a Escola Nacional de Belas Artes. Pelo lado materno, era neto do conde d’Escragnolle, emigrado da França pelas contingências da Revolução.

Criado em ambiente culto, impregnado de arte e literatura, desenvolveu bem cedo a paixão literária e o gosto pela música e o desenho. Estudou humanidades no Colégio Pedro II, onde se bacharelou em letras em 1858. No ano seguinte ingressou no curso de Ciências Físicas e Matemáticas da Escola Militar. Alferes-aluno em 1862, bacharel em matemáticas em 1863, foi promovido a segundo-tenente de artilharia em 1864, inscrevendo-se no 2o ano de Engenharia Militar, que não terminou, por receber ordem de mobilização, com os outros oficiais alunos, em 1865, no início da Guerra do Paraguai. Foi incorporado à Expedição de Mato Grosso como ajudante da Comissão de Engenheiros, para trazer ao governo imperial notícias do corpo expedicionário de Mato Grosso, que havia muito se supunha perdido e aniquilado. Trouxe da campanha profunda experiência do país e inspiração para a maior parte dos seus escritos, a começar do primeiro livro, Cenas de viagem (1868). Em 1869, o Conde d’Eu, comandante-em-chefe das forças brasileiras em operação no Paraguai, convidou o primeiro-tenente Taunay para secretário do seu Estado-Maior, sendo encarregado de redigir o Diário do Exército, cujo conteúdo foi, em 1870, reproduzido no livro do mesmo nome. Terminada a guerra, foi promovido a capitão, e terminou o curso de Engenharia, passando a professor de geologia e mineralogia da Escola Militar.

Em 1871, publicou o primeiro romance, Mocidade de Trajano, com o pseudônimo de Sílvio Dinarte, que usaria na maior parte das suas obras de ficção, e, em francês, A retirada da laguna, sobre o desastroso e heróico episódio de que participou. A publicação chama a atenção de todo o Brasil para o jovem escritor. Por indicação do Visconde do Rio Branco, candidatou-se a deputado geral pelo Estado de Goiás, que o elegeu para a Câmara dos Deputados em 1872, mandato que foi renovado em 1875. Foi de 76 a 77 presidente da província de Santa Catarina.

Nunca mais voltaria ao serviço ativo do Exército. Promovido a major em 1875, demitiu-se do posto em 1885, já tomado por atividades na política e nas letras. Em 1878, caindo o Partido Conservador, em cujas fileiras militava, partiu para a Europa, em longa de viagem de estudos.

De volta ao Brasil em 1880, encetou uma fase de intensa atividade em prol de medidas como o casamento civil, a imigração, a libertação gradual dos escravos, a naturalização automática de estrangeiros. Deputado novamente de 81 a 84, por Santa Catarina. Em 1885 foi candidato a deputado pelo Rio de Janeiro, mas foi derrotado. Presidiu o Paraná de 85 a 86, pondo em prática a sua política imigratória. Em 86 foi eleito deputado geral por Santa Catarina e, logo a seguir, senador pela mesma província, na vaga do Barão de Laguna. Foi no Senado um dos mais ardorosos partidários da Abolição. Em 6 de setembro de 1889 recebia o título de Visconde, com grandeza. Estava no início de uma alta preeminência nos negócios públicos quando a proclamação da República lhe cortou a carreira, dada a intransigente fidelidade com que permaneceu monarquista até à morte. Na imprensa da época há numerosos artigos seus que se destinavam a pôr em destaque as virtudes do imperador banido e do regime que a República destruíra.

Foi oficial da Ordem da Rosa, Cavaleiro da Ordem de São Bento, da Ordem de Aviz e da Ordem de Cristo.

Taunay foi um infatigável trabalhador, patriota, homem público esclarecido e apaixonado homem de letras. Teve a plena realização do seu talento no terreno literário. Sua obra de ficção abrange, além do romance, as narrativas de guerra e viagem, descrições, recordações, depoimentos, artigos de crítica e escritos políticos. Foi também pintor, restando dele telas dignas de estudo. Era grande apaixonado da música, tendo deixado várias composições. Estudioso da vida e da obra dos grandes compositores, manteve com escritores e jornalistas polêmicas sobre essa arte, notadamente com Tobias Barreto.

Obras: Mocidade de Trajano, romance (1870); A retirada da laguna, narrativa de campanha (1872, edição francesa; 1874, edição brasileira, traduzida pelo autor); Inocência, romance (1872); Lágrimas do coração, romance (1873); Histórias brasileiras, contos (1874); Ouro sobre azul, romance (1875); Narrativas militares, contos (1878); Céus e terras do Brasil, evocações (1882); Estudos críticos, 2 vols. (1881 e 1883); O encilhamento, romance (1894); No declínio (1899). TEATRO: Da mão à boca se perde a sopa (1874); Por um triz coronel (1880); Amélia Smith (1886).

OBRAS PÓSTUMAS: Reminiscências (1908); Trechos de minha vida (1911); Viagens de outrora (1921); Visões do sertão, descrições (1923); Dias de guerra e do sertão (1923); Homens e coisas do Império (1924). Em sua bibliografia constam ainda obras de história, corografia e etnologia brasileira e sobre questões políticas e sociais.

Junqueira Freire




A POESIA ATORMENTADA DE JUNQUEIRA FREIRE
O poeta e religioso católico baiano Luís José Junqueira Freire (Salvador 1832 – Idem 1855) fez os estudos primários e os de latim precariamente em virtude da saúde abalada. Em 1849, matriculou-se no Liceu Provincial de Salvador no qual se destacou como excelente aluno. Para fugir da pressão familiar ingressou na “Ordem dos Beneditinos”, em 1851. Na clausura do Mosteiro de São Bento, em Salvador, viveu amargurado, revoltado e triste pois não manifestava a menor vocação monástica, mesmo porque tinha tomada a decisão irrevogável dos votos perpétuos. Nesse período, porém, pôde ler muito e dedicar-se à poesia. Trabalhou, também, dentro do mosteiro, como professor; atendia, então pelo nome de Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire. Pediu a secularização em 1853, recurso que o libertava das disciplinas religiosas, mas que, por força dos votos perpétuos, tinha que permanecer sacerdote. De volta à casa da mãe em 1854, redigiu uma pequena autobiografia. Pouco antes de sua morte, aos 23 anos, fez publicar seu único livro em vida que intitulou “Inspirações do Claustro”. A obra de Junqueira enquadra-se na terceira fase do romantismo, também chamada de ultra-romantismo, ligado aos padrões do neoclassicismo. O equívoco na sua escolha monástica refletiu seriamente nos seus escritos. Seu estilo mais fechado não permitiu ao poeta expressar todos os sentimentos reprimidos. A obra de Junqueira Freire mereceu um louvor, como também uma crítica por parte do poeta, contista, cronista, romancista, dramaturgo e ensaísta fluminense Machado de Assis (Rio de Janeiro 1839 – Idem 1908). Foi louvada pela forma sincera como retratou todo o drama de uma pessoa presa a uma falsa vocação; crítica ao modo dessa poesia que caiu no genérico e no prosaico. Machado ainda disse que os versos de Junqueira não são palestras de sacristia nem mexerico de locutório, mas sim um livro profundamente sentido, uma história dolorosamente narrada em versos, muitas vezes duros, mas evidentemente saídos do coração. A sua breve e sofrida passagem pelo mosteiro forneceram ao poeta as características de sua personalidade, conflitantes, porém. Disse Junqueira no prólogo de Inspirações do Claustro: “Cantei o monge, porque ele é escravo, não da cruz, mas do arbítrio de outro homem. Cantei o monge porque não há ninguém que se ocupe de cantá-lo. É por isso que cantei o monge, cantei também a morte. É ela o epílogo mais belo de sua vida: e seu único triunfo”. O sofrimento e a clausura deram a Junqueira o tormento que a sua alma precisava para nos presentear com belíssimos poemas. O poeta é o patrono da Cadeira nº 25 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Franklin Dória (Itaparica 1836 – Rio de Janeiro 1906) poeta, orador e político baiano. Obras: Inspirações do Claustro (1855); Elementos de Retórica Nacional (1869); Obras, edição crítica por Roberto Alvim, 3 vols. (1944); Junqueira Freire, org. por Antonio Carlos Vilaça (Coleção Nossos Clássicos, nº 66); Desespero na Solidão, org. por Antonio Carlos Vilaça (1976); Obra poética de Junqueira Freire (1970). Fiquemos, portanto, com três raríssimas jóias produzidas pelo vasto universo da mente de Junqueira:

Teus Olhos

Que lindos olhos
Que estão em ti!
Tão lindos olhos
Eu nunca vi...

Pode haver belos
Mas não tais quais;
Não há no mundo
Quem tenha iguais.

São dois luzeiros,
São dois faróis:
Dois claros astros,
Dois vivos sóis.

Olhos que roubam
A luz de Deus:
Só estes olhos
Podem ser teus.

Olhos que falam
Ao coração:
Olhos que sabem
Dizer paixão.

Têm tal encanto
Os olhos teus!
— Quem pode mais?
Eles ou Deus?


Sonho

Era um bosque, um arvoredo,
Uma sagrada espessura,
— Mitológica pintura
Que o romantismo não faz.
Era um sítio tão formoso,
Que nem um pincel romano,
Nem Rubens, nem Ticiano
Copiariam assaz.

Ali pensei que sonhava
Com a donzela que me inspira,
Que põe-me nas mãos a lira,
Que põe-me o estro a ferver;
Que me acalenta em seu colo,
Que me beija a vasta crente,
Que me obriga a ser mais crente
No Deus que ela julga crer.

Sonhei com a visão dourada,
Que todo o poeta sonha,
— Idéia gentil, risonha,
Tão poucas vezes real!
Que só, com o peito abafado,
Se vai de noite em segredo
Contar no denso arvoredo
Ao cipreste sepulcral.

Mas, despertando do sonho,
Que aos homens não se revela,
Achei comigo a donzela,
Me apertando o coração,
E ainda presa a meus lábios,
Entre um riso, entre um gemido,
Murmurou-me ao pé do ouvido
— Que não era um sonho, não. —

E não mais, enquanto vivo,
Deixarei esta espessura,
— Mitológica pintura
Que o romantismo não faz.
Era um sítio tão formoso,
Que nem o pincel romano,
Nem Rubens, nem Ticiano
Copiariam assaz.


Soneto

Arda de raiva contra mim a intriga,
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável
A vil calúnia, pérfida inimiga.

Una-se todo, em traiçoeira liga,
Contra mim só, o mundo miserável.
Alimente por mim ódio entranhável
O coração da terra que me abriga.

Sei rir-me da vaidade dos humanos;
Sei desprezar um nome não preciso;
Sei insultar uns cálculos insanos.

Durmo feliz sobre o suave riso
De uns lábios de mulher gentis, ufanos;
E o mais que os homens são, desprezo e piso.



Enzo Carlo Barrocco
Publicado no Recanto das Letras em 24/04/2007
Código do texto: T461759

À Morte de Garrett

No doce arranco
Que o céu lhe abrira,
Garrett ouvia
Seus próprios carmes
De terno amor.

E aos brancos lábios
Franco, improviso,
Lhe veio um riso
Em vez de angústias,
Em vez de dor.

Morreu poeta,
Ledo e gostoso:
Morreu ditoso,
Cingido, ornado
Dos cantos seus.

Lá foi com os anjos,
Que o inspiraram,
Que o sublimaram,
Cantar saudades
Ao pé de Deus.

Cantai, donzelas
Da pátria dele,
Cantai aquele
Hino de amores,
Hino gentil.

Ouvi que entoam
Seu hino etéreo
Em som funéreo
As belas virgens
Do meu Brasil.

(...)

Martírio

Beijar-te a fronte linda:
Beijar-te o aspecto altivo:
Beijar-te a tez morena:
Beijar-te a rir lascivo:

Beijar o ar, que aspiras:
Beijar o pó, que pisas:
Beijar a voz, que soltas:
Beijar a luz, que visas:

Sentir teus modos frios:
Sentir tua apatia:
Sentir até repúdio:
Sentir essa ironia:

Sentir que me resguardas:
Sentir que me arreceias:
Sentir que me repugnas:
Sentir que até me odeias:

Eis a descrença e crença,
Eis o absinto e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!

Eis o estertor de morte,
Eis o martírio eterno,
Eis o ranger de dentes,
Eis o penar do inferno!



Morte

(Hora de delírio)

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dois fantasmas que a existência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
Do prazer que nos custa a dor passada.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és apenas
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.

(...)

Amei-te sempre: — e pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra — esse elemento;
Que não se sente dos vaivéns da sorte.

Para tua hecatombe de um segundo
Não falta alguém? — Preenche-a tu comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Miríadas de vermes lá me esperam
Para nascer de meu fermento ainda.
Para nutrir-se de meu suco impuro,
Talvez me espera uma plantinha linda.

Vermes que sobre podridões refervem,
Plantinha que a raiz meus ossos ferra,
Em vós minha alma e sentimento e corpo
Irão em partes agregar-se à terra.

E depois nada mais. Já não há tempo,
Nem vida, nem sentir, nem dor, nem gosto.
Agora o nada, — esse real tão belo
Só nas terrenas vísceras deposto.

(...)

O Hino da Cabocla

(Canção nacional)

Sou índia, sou virgem, sou linda, sou débil,
— É quando vós outros, ó tapes, dizeis!
Sabei, bravos tapes! — que eu sei com destreza
Cravar minhas setas no peito dos reis!

Sabei que não canto somente prazeres,
Sabei que não gemo somente de amores:
Sabei que nem sempre vagueio nos bosques,
Sabei que nem sempres me adorno de flores.

Meus lábios não beijam os lábios do amante,
Meus lábios combatem tirânicas leis:
Meus lábios são como trovões estupendos,
Que cospem coriscos na face dos reis!

Quem viu-me nas liças, quem viu-me covarde,
Aos silvos da flecha — quem viu-me escorar?
Eu sou como a onça, pequena e valente,
Eu sei os perigos da guerra afrontar!

Enchi meus carcases de agudas taquaras,
Que iguais nas florestas jamais achareis;
E dessa taquaras fatais é que pendem
As vidas infames de todos os reis.

Sou índia, não nego: — meus finos cabelos
— Qual juba ferina — bem longos que são!
Porém esse peito, que férvido pulsa,
É másculo, ó tapes! — ou é de um leão!

(...)



O Jesuíta

Era longe — bem longe: e eu vim primeiro
Cindindo as ondas desse mar profundo.
E por amor da Cruz vaguei sozinho
Nas ínvias matas desse novo mundo.

O tamoio gentil ervava as setas,
Quando pelos vergéis, tão seus, me via:
E co'os olhos fosfóricos ardendo
A taquara fatal a mim tendia.

E tendia a taquara, — mas ao ver-me
Quão sem temor e quão inerme estava,
Trocando em doce o seu olhar fogoso,
O arco e a seta pelo chão rojava.

De mim as tribos bárbaras, indômitas,
De mim o verbo do evangelho ouviram.
E ergui a cruz nos píncaros dos montes,
E após o verbo os povos me seguiram!

Eu disse às tribos: — Todas vós sois ricas,
— Que o ouro e a prata o solo vosso esmalta.
Sois ricas tribos, — mas não sois felizes,
Porque uma crença de um só Deus vos falta.

E eu dei às tribos uma crença doce,
Qual uma chuva de maná celeste:
E as tribos foram desde então felizes,
Qual flor pomposa que os jardins reveste.

E quando os reis da terra se esqueceram
Das tribos dadas a seu cetro forte,
Eu levantei-me, e disse aos reis da terra,
— O povo geme: Transmudai-lhe a sorte. —

Eternos templos eu ergui sozinho,
Eternos como a duração da terra.
E sozinho sagrei altares tantos
Ao Deus que aos ímpios c'o trovão aterra.

Eu dei às tribos uma crença doce,
Eu levantei alcáceres eternos.
Deram-me os homens proscrição e morte,
Deram-me em prêmio as fezes dos infernos.

Vai

Vai, maldita, vai, víbora sangrenta,
Mulher impura, e ávida de infâmias!
O mundo é amplo: arroja-te em seu gúrgite.
Mereces bem seu lodo.

(...)

Vai, desgraçada, vai. Farta-te em crimes,
Sacia as garras, cobre-te de sangue
É esse o gênio teu. Corre, — que eu vejo
Teu exemplar castigo.

Vai, desgraçada, vai. Riso da plebe,
Indigna até de maldições severas,
Hei de ver-te amanhã pedindo um óbolo,
Errando pelas praças.

E adornada de fétidos andrajos,
A mão leprosa estenderás, ao ver-me,
E a boca túmida abrirás mendiga,
Pedindo-me uma esmola.

E eu com o nobre olhar que já receias,
Hei de talvez passar sereno e alegre,
Ou, tremendo tocar-te as mãos imundas,
Jogar-te algum dinheiro.

Tal é minha vingança. A ouvir-me agora,
Um riso, um riso estólido desprendes.
Ah! tu não crês ainda na justiça
Do Deus que nos escuta!

Ri-te outra vez de minhas frases duras!
Sim: tens razão, incrédula. — Mas corre,
Corre depressa, — que amanhã teu riso
Já não será tão grande.

Vai, maldita, vai, víbora sangrenta,
Mulher impura, e ávida de infâmias!
O mundo é amplo, arroja-te em seu gúrgite,
Mereces bem seu lodo.



O Arranco da Morte



Pesa-me a vida já. Força de bronze

Os desmaiados braços me pendura.

Ah! Já não pode o espírito cansado

Sustentar a matéria.



Eu morro, eu morro. A matutina brisa

Já não me arranca o riso. A rósea tarde

Já não me doura as descoradas faces,

Que gélidas se encovam.



O noturno crepúsculo caindo

Já não me lembra o escurecido bosque

Onde me espera a meditar prazeres

A bela que eu amava.



A meia-noite já não traz-me em sonhos

As formas dela - desejosa e lânguida -

Ao pé do leito, recostada em cheio

Sobre meus braços ávidos.



A cada instante o coração vencido

Diminui um palpite; o sangue, o sangue,

Que nas artérias férvido corria,

Arroxa-se e congela.



Ah! É chegada a minha hora extrema!

Vai o meu corpo dissolver-se em cinza;

Já não podia sustentar mais tempo

O espírito tão puro.



É um cena inteiramente nova.

Como será? - Como um prazer tão belo,

Estranho e peregrino, e raro, e doce,

Vem assaltar-me todo!



E pelos imos ossos me refoge

Não sei que fio elétrico. Eis! Sou livre!

O corpo que foi meu, que lodo impuro!

Caiu, uniu-se à terra.

Casimiro de Abreu


BIOGRAFIA

Abreu, Casimiro de (1837-1860), poeta romântico brasileiro. Dono de rimas cantantes, ao gosto do público, Casimiro de Abreu publicou apenas um livro, As Primaveras (1859). Filho de um rico comerciante, Casimiro de Abreu nasceu em Barra de São João (Rio de Janeiro) e cresceu no Rio, então capital do Império e centro cultural do país. Entre 1853 e 1857, estudou em Portugal. A vocação literária, porém, suplantou a vida acadêmica. Em Lisboa, iniciou-se como poeta e dramaturgo. A peça Camões e Jaú estreou no teatro D. Fernando e, nela, o autor proclama sua brasilidade, as saudades dos trópicos e refere-se a Portugal como "velho e caduco". De volta ao Brasil, dedicou-se à atividade comercial, com o apoio paterno. Mas definia este trabalho como uma "vida prosaica…que enfraquece e mata a inteligência". Morreu aos 21 anos, de tuberculose, em Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro. Seu poema mais famoso é Meus Oito Anos. Da segunda geração romântica brasileira, Casimiro de Abreu cultivava um lirismo de expressão simples e ingênua. Seus temas dominantes foram o amor e a saudade. Embora criticado por deslizes de linguagem e falta de embasamento filosófico, Casimiro de Abreu é admirado, justamente, pela simplicidade. Alguns versos acabaram se incorporando à linguagem corrente como, por exemplo, simpatia é quase amor, hoje nome de um famoso bloco do carnaval carioca.

É pequena a obra poética de Casimiro de Abreu. Porém, deixou-nos de forma marcante, a poesia da saudade: "Canção do exílio" ("Meu lar") em que partia da aceitação premonitória, "Se eu tenho de morrer na flor dos anos", para a formulação de um desejo que se realizou plenamente: "Quero morrer cercado dos perfumes / Dum clima tropical.”. Meus Oito Anos, Minha Terra - poemas escritos em Portugal, onde adquiriu sua educação literária.

MEUS OITO ANOS

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!


Índice

A VALSA

Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co'as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranqüila,
Serena,
Sem pena
De mim!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
— Eu vi!...

Valsavas:
— Teus belos
Cabelos,
Já soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P'ra outro
Não eu!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
— Eu vi!...

Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem ?!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas,..
— Eu vi!...

Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!

Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!

Quem dera
Que sintas!...
— Não negues
Não mintas...
— Eu vi!

Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida.
No chão!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
Eu vi!


Índice

MINHA'ALMA É TRISTE


Minh'alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o alvor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.
E, como a rôla que perdeu o esposo,
Minh'alma chora as ilusões perdidas,
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas.
E como notas de chorosa endeixa
Seu pobre canto com a dor desmaia,
E seus gemidos são iguais à queixa
Que a vaga solta quando beija a praia.
Como a criança que banhada em prantos
Procura o brinco que levou-lhe o rio,
Minha'alma quer ressuscitar nos cantos
Um só dos lírios que murchou o estio.
Dizem que há, gozos nas mundanas galas,
Mas eu não sei em que o prazer consiste.
— Ou só no campo, ou no rumor das salas,
Não sei porque — mas a minh'alma é triste!
II Minh'alma é triste como a voz do sino
Carpindo o morto sobre a laje fria;
E doce e grave qual no templo um hino,
Ou como a prece ao desmaiar do dia.
Se passa um bote com as velas soltas,
Minh'ahna o segue n'amplidão dos mares;
E longas horas acompanha as voltas
Das andorinhas recortando os ares.
Às vezes, louca, num cismar perdida,
Minh'alma triste vai vagando à toa,
Bem como a folha que do sul batida
Bóia nas águas de gentil lagoa!
E como a rola que em sentida queixa
O bosque acorda desde o albor da aurora,
Minha'ahna em notas de chorosa endeixa
Lamenta os sonhos que já tive outrora.
Dizem que há gozos no correr dos anos!...
Só eu não sei em que o prazer consiste.
— Pobre ludíbrio de cruéis enganos,
Perdi os risos — a minh'alma é triste!
III Minh'alma é triste como a flor que morre
Pendida à beira do riacho ingrato;
Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Nem doce canto o sabiá do mato!
E como a flor que solitária pende
Sem ter carícias no voar da brisa,
Minh'alma murcha, mas ninguém entende
Que a pobrezinha só de amor precisa!
Amei outrora com amor bem santo
Os negros olhos de gentil donzela,
Mas dessa fronte de sublime encanto
Outro tirou a virginal capela.
Oh! quantas vezes a prendi nos braços!
Que o diga e fale o laranjal florido!
Se mão de ferro espedaçou dois laços
Ambos choramos mas num só gemido!
Dizem que há gozos no viver d'amores,
Só eu não sei em que o prazer consiste!
— Eu vejo o mundo na estação das flores
Tudo sorri — mas a minh'alma é triste!
IV Minh'alma é triste como o grito agudo
Das arapongas no sertão deserto;
E como o nauta sobre o mar sanhudo,
Longe da praia que julgou tão perto!
A mocidade no sonhar florida
Em mim foi beijo de lasciva virgem:
— Pulava o sangue e me fervia a vida,
Ardendo a fronte em bacanal vertigem.
De tanto fogo tinha a mente cheia!...
No afã da glória me atirei com ânsia...
E, perto ou longe, quis beijar a s'reia
Que em doce canto me atraiu na infância.
Ai! loucos sonhos de mancebo ardente!
Esp'ranças altas... Ei-las já tão rasas!...
— Pombo selvagem, quis voar contente...
Feriu-me a bala no bater das asas!
Dizem que há gozos no correr da vida...
Só eu não sei em que o prazer consiste!
— No amor, na glória, na mundana lida,
Foram-se as flores — a minh'alma é triste!


Índice

DESEJO

Se eu soubesse que no mundo
Existia um coração,
Que só por mim palpitasse
De amor em terna expansão;
Do peito calara as mágoas,
Bem feliz eu era então!

Se essa mulher fosse linda
Como os anjos lindos são,
Se tivesse quinze anos,
Se fosse rosa em botão,
Se inda brincasse inocente
Descuidosa no gazão;

Se tivesse a tez morena,
Os olhos com expressão,
Negros, negros, que matassem,
Que morressem de paixão,
Impondo sempre tiranos
Um jugo de sedução;

Se as tranças fossem escuras,
Lá castanhas é que não,
E que caíssem formosas
Ao sopro da viração,
Sobre uns ombros torneados,
Em amável confusão;

Se a fronte pura e serena
Brilhasse d'inspiração,
Se o tronco fosse flexível
Como a rama do chorão,
Se tivesse os lábios rubros,
Pé pequeno e linda mão;

Se a voz fosse harmoniosa
Como d'harpa a vibração,
Suave como a da rola
Que geme na solidão,
Apaixonada e sentida
Como do bardo a canção;

E se o peito lhe ondulasse
Em suave ondulação,
Ocultando em brancas vestes
Na mais branda comoção
Tesouros de seios virgens,
Dois pomos de tentação;

E se essa mulher formosa
Que me aparece em visão,
Possuísse uma alma ardente,
Fosse de amor um vulcão;
Por ela tudo daria...
— A vida, o céu, a razão!

Casimiro de Abreu

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AMOR E MEDO

Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
"Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"

Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.

O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.

É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!

Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?

A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!

Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...

Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...

Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...

Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!

No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!

Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.

Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...

Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...

Casimiro de Abreu

O poeta Casimiro de Abreu.


Vida: Filho de um rico comerciante português e de mãe brasileira, Casimiro de Abreu nasceu em Barra de São João, no estado do Rio de Janeiro, tendo passado a infância numa fazenda, de onde sairia apenas para realizar seus estudos primários em Nova Friburgo. Enviado à capital do Império pelo pai, a fim de praticar o comércio, mostrou-se pouco apto à profissão. O pai não desistiu e com o mesmo objetivo o enviou para Lisboa. Casimiro tinha então quatorze anos. Após quatro anos em Portugal, retornou ao Brasil, entregando-se a uma vida boêmia, sem contudo largar do comércio. A publicação de Primaveras o consagrou nacionalmente, um ano antes de sua morte. Já idolatrado pelo público da época, descobriu que estava tuberculoso, vindo a falecer quase que imediatamente, antes de completar o seu vigésimo-segundo aniversário.


Obra: Primaveras (1850).

Subjetivista como Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu substitui as conotações dolorosas que aquele confere à adolescência por uma visão graciosa e deslumbrada dos tempos juvenis. Se, para o autor de Lira dos vinte anos, a mocidade é um processo noturno de vigílias e tensões, se, para ele, "tristes são os destinos deste século", para Casimiro de Abreu a mesma mocidade é "a primavera da vida", processo diurno, sempre associado a namoricos, jardins com bananeiras, borboletas e salões de baile onde se flerta ao som de valsas langorosas.

De certa forma, sua lírica corresponde ao romance de Joaquim Manuel de Macedo, seja na temática, seja na simplicidade da linguagem. É uma poesia espontânea. E não raro esta espontaneidade - reforçada pelo estilo singelo e pela atmosfera musical - cria o encantamento no leitor, independentemente da visível superficialidade dos versos. A rigor, o livro Primaveras articula-se em torno de três temas básicos:


o lirismo amoroso
a saudade da pátria e da infância
a tristeza da vida

A SAUDADE DA PÁTRIA E DA INFÂNCIA


Vivendo três anos em Portugal, onde elaborou boa parte de Primaveras, Casimiro de Abreu desenvolveu o sentimento de exílio, que tanto perseguia os românticos. Inspirado em Gonçalves Dias, escreveu uma série de poemas impregnados de nostalgia da terra natal, denominados Canções do exílio. Neles, contudo, não chega a alcançar o nível de seu modelo.

No entanto, não é apenas a saudade do Brasil e a correspondente sensação de estar exilado que anima a sua lírica. O que o consagrou foi a nostalgia (tipicamente romântica) daquelas realidades pessoais que ficam para trás: a mãe, a irmã, o lar, a infância. Tornou-se, por excelência, o poeta da "aurora da vida", do tempo perdido, das emoções da meninice. Mesmo sabendo que a infância não significa o paraíso, sucumbiu à doçura dessas lembranças.

À parte isso, o poeta atrai o leitor com o ritmo fácil, a singeleza do pensamento, a ausência de abstrações, o caráter recitativo e o tratamento sentimental que empresta ao tema, garantindo a eternidade de pelo menos um poema, Meus oito anos:

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora de minha vida (...)

TRISTEZA DA VIDA


CASIMIRO DE ABREU (1839-1860)



Em Más notícias, Rodolfo Amoedo expressa aquela tristeza difusa que marca parte da lírica de Casimiro de Abreu.

No final de uma vida breve, pressentindo a morte, o poeta aprofunda o sentimento de tristeza - já presente em seus textos saudosistas, até transformá-lo num sentimento quase desesperado de impotência perante o destino, conforme se pode verificar em Livro negro, composto por doze poemas doloridos. Deles, o mais significativo é Minha alma é triste:



Minha alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o albor da aurora
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.

E, como rola que perdeu o esposo,
Minh'alma chora as ilusões perdidas
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas."


Casimiro escreveu também um texto para teatro, Camões e Jau. Montada em Lisboa, em 1856, às custas do pai, resultou em grande malogro, nada comparado à sua obra.

Tipos de romances

TIPOS DE ROMANCE

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Estudos Literários



A classificação dos tipos de romances é um tanto confusa pelo simples fato de dependerem de pontos de vista. Por isso todas são passíveis de discussão. Nosso objetivo não é discutir o problema, nem os pontos de vista dos estudiosos do assunto, mas, sim, apresentar os tipos como referenciais para pesquisas mais profundas. Assim, relaciono abaixo, apenas alguns, de acordo com o tipo de abordagem (tema principal), conforme pesquisas feitas em diversas fontes:

ROMANCE URBANO

O romance urbano tem como característica predominante retratar e criticar os costumes de uma sociedade. Daí, historicamente, ser sinônimo de romance realista, especialmente no século XIX. Um de seus principais representantes é Thomas Hardy, autor de Judas, o Obscuro (Jude the Obscure, 1896). A fórmula do romance francês conquistou adeptos importantes em todas as literaturas e é nesse estilo que o romance urbaRicardo Sérgio
Publicado no Recanto das Letras em 09/02/2007
Código do texto: T374583no chega ao Brasil.

Seu introdutor foi Joaquim Manoel de Macedo, quando em 1844, publica A Moreninha, um romance adaptado ao nosso cenário, retratando os costumes, as manias, e as mediocridades da sociedade carioca de então. A descrição desses costumes (festas e tradições), a caracterização do espaço urbano, deu a obra também um valor documental. Outros representantes foram José de Alencar, Senhora, Lucíola; Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias; Érico Veríssimo, Clarissa, Olhai os Lírios dos Campos; para só citar esses nomes.

ROMANCE SERTANEJO OU REGIONALISTA

Tipicamente brasileiro, aborda questões sociais a respeito de determinadas regiões do Brasil, destacando as características de cada região. Foi a atração pelo pitoresco e o desejo de explorar e investigar o Brasil do interior, que fizeram o autor romântico se interessar pela vida e hábitos das populações que viviam distantes das cidades. Seguindo o caminho tradicional, iniciado no Romantismo por autores como: Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães, Franklin Távora, uma safra de bons escritores continuam a retratar o homem no ambiente das zonas rurais, com seus problemas geográficos e sociais. Por exemplo: Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Érico Veríssimo, Jorge Amado, só para falar de alguns. Bernardo Guimarães foi um dos iniciadores do regionalismo romântico com a publicação de O Ermitão de Muquém, publicado em 1869.

ROMANCE HISTÓRICO

O romance histórico surgiu no início do século XIX, e tinha como característica a reconstrução dos costumes, da fala e das instituições do passado. Para tanto, servia-se de enredo fictício e a mistura de personagens históricos e de ficção O primeiro romance histórico da literatura universal foi Waverley (1814), de Sir Walter Scott; mas o que serviu de modelo a todos os outros, foi The Heart of Midlothian (O Coração de Midlothian, 1818) do mesmo autor. O maior de todos os romances históricos foi, Guerra e Paz (Voina i mir, 1869), de Tolstoi. Do romance histórico derivou-se o subgênero chamado "romance de capa e espada", cujo mestre foi o francês Alexandre Dumas, autor de Os Três Mosqueteiros (Les Trois Mousquetaires, 1844).

No Brasil, foi um dos principais meios encontrados pelos românticos para a reinterpretação nacionalista de fatos e personagens da nossa história, numa revalorização e idealização de nosso passado. Nessa linha, os autores mais importantes são: José de Alencar, As Minas de Prata, A guerra dos Mascates; Bernardo Guimarães, Lendas e Romances, Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais; Franklin Távora, O Matuto, Lourenço.

Atualmente nosso o romance histórico, consegue fundir narrativa policial, fatos políticos e abordagem histórica como em Agosto, de Rubem Fonseca, que expõe os acontecimentos políticos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio; Olga, de Fernando Morais que retrata a história da esposa de Luís Carlos Prestes, entregue aos alemães nazistas pelo governo de Getúlio; só para citar alguns.

ROMANCE INDIANISTA

Definido em nosso romantismo como corrente literária, traz o índio e os costumes indígenas, como foco literário. Considerado uma autêntica expressão da nacionalidade, o índio era altamente idealizado. Como um símbolo da pureza e da inocência, representava o homem não corrompido pela sociedade, o não capitalista, além de assemelhar-se aos heróis medievais, fortes e éticos. O indianismo fez de certos romances excelentes documentos históricos.

Indianista nos dois melhores romances que escreveu, O Guarani e Iracema (a mais bela lenda indígena transformada em prosa), José de Alencar é o nosso mais representativo autor indianista. Mais modernamente, o indianismo é visível em Macunaína, de Mário de Andrade, Cobra Norato, de Raul Bopp, e Martin Cerrerê, de Casiano Ricar.

ROMANCE PSICOLÓGICO

Em comparação com o romance realista, o romance psicológico dirige sua atenção menos para as forças determinantes, exteriores da sociedade; prefere perscrutar e analisar os motivos íntimos das decisões e indecisões humanas. O primeiro exemplo perfeito do gênero foi: As ligações Perigosas (Les Liaisons Dangereuses, 1782), de Choderlos Laclos. Entretanto, o prestígio do romance psicológico só chegou ao auge por volta de 1880, quando Stendhal foi redescoberto e Dostoievski traduzido. Deste último, Crime e Castigo (Prestuplenie i Nakazanie, 1866) é uma das obras-primas do gênero.

Na Literatura Brasileira o romance psicológico tem seu marco inicial com Dom Casmurro, de Machado de Assis. Perto do Coração Selvagem e Laços de Família, de Clarice Lispector, volta-se para a realidade psicológica dos personagens, revelando influência do existencialismo e estabelecendo as técnicas do fluxo de consciência. Outros romances foram: São Bernardo, de Graciliano Ramos; A Menina Morta Cornélio Pena; Crônica da Casa Assassinada, Lúcio Cardoso; para só citar esses nomes.

ROMANCE GÓTICO

O romance gótico surgiu como uma reação ao racionalismo iluminista e, ao mesmo tempo, ao aristocratismo. Foi cultivado, sobretudo na Inglaterra e caracterizou-se pelo vivo interesse na Idade Média: a beleza da arquitetura gótica, as sociedades secretas, a Inquisição, e os monges. Geralmente, é ambientado em cenário lúgubre e desolado: conventos, castelos assombrados, cemitérios. Aborda toda série de horrores, mistérios terrificantes, torturas etc. A Alemanha produziu um dos mais conhecidos romances góticos, As Drogas do Diabo (Elixiren des Teufels, 1816) de Hoffmann. Nos Estados Unidos, o gênero foi representado por Charles Brockden Brown, que influenciou os contos de horror de Edgar Allan Poe. Na Inglaterra, Mary Shelley, que escreveu Frankenstein (1818), em que já aparecem elementos de ficção científica.

No Brasil, Álvares de Azevedo (1831-1852), nos deixou muitos poemas, contos e peças teatrais com ingredientes que o tornam o mais representativo autor brasileiro da literatura gótica. A Lira dos Vinte Anos (1853) e a coletânea de contos A Noite na Taverna (1855), publicados após sua morte, são considerados o que há de mais gótico na literatura brasileira.

ROMANCE NEGRO

Romance cuja ação é pontilhada de crimes hediondos, cujas personagens são dominadas por vícios e paixões criminosas: Justine ou As Desgraças da Virtude, de Sade.

ROMANCE DIDÁTICO

Utiliza uma história fictícia para divulgar um ensinamento: Émile, de Rousseau.

ROMANCE PASTORIL

Esse gênero parte da antiga tradição bucólica Greco-Latina. A Arcádia, do italiano Jacopo Sannazzaro, publicada em 1504, foi traduzida e imitada em toda a Europa. Os personagens são pastores, situados numa natureza sem qualquer relação com a realidade. Na Península Ibérica, o gênero inicia-se com Os Sete Livros de Diana (1559) do português Jorge de Montemayor. Gil Polo publicou uma continuação da obra de Montemayor intitulada Diana Apaixonada. ®Sérgio.

Escrito por:
Ricardo Sérgio
Publicado no Recanto das Letras em 09/02/2007
Código do texto: T374583

A Moreninha - Joaquim Manoel de Macedo - Análise

A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo

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Análise da obra

A Moreninha é um dos principais romances brasileiros e seu autor, ao lado de Manuel Antonio de Almeida, José de Alencar, Machado de Assis, Aluísio Azevedo e outros (poucos) é um dos mais importantes autores da língua portuguesa. Este livro, centrado no romance entre Augusto e Carolina, é um dos pilares de nossa literatura. Numa época onde a cultura era totalmente voltada para a Europa, A Moreninha é uma das primeiras e magníficas tentativas de fazer literatura brasileira, observando usos e costumes do Brasil do Segundo Império, retratando o cotidiano da vida brasileira em meados do século passado. Joaquim Manuel de Macedo (1820-1881) era médico, mas jamais exerceu a profissão, tendo dedicado sua vida à literatura, à imprensa e ao teatro. A obra retrata as características do movimento literário a que pertence à medida que possui espírito romântico (final feliz), nostalgia medievalista (indianismo), idealismo, culto à natureza, cristianismo (Festa de San’t Ana), sentimentalismo, linguagem popular e liberdade criadora. Retrata também uma realidade fantasiada presente no autor.

Tempo / Espaço / Ação

O tipo de ambiente predominante é físico. Foram encontradas algumas descrições interessantes, a que mais nos agradou foi: "A Ilha de... é tão pitoresca como pequena. A casa da avó de Filipe ocupa exatamente o centro dela. A avenida por onde iam os estudantes a divide em duas metades, das quais a que fica à esquerda de quem desembarca, está simetricamente coberta de belos arvoredos, estimáveis, ou pelo aspecto curioso que oferecem. A que fica à mão direita é mais notável ainda; fechada do lado do mar por uma longa fila de rochedos e no interior da ilha por negras grades de ferro, está adornada de mil flores, sempre brilhantes e viçosas, graças à eterna primavera desta nossa boa Terra de Santa Cruz."

A seqüência narrativa e a ação dos personagens se dão em tempo linear - trinta dias. Os eventos narrados desenrolam-se durante os trinta dias pelos quais a aposta era válida. A aposta foi feita em 20 de julho de 1844, uma segunda-feira, e termina no dia do pedido de casamento, 20 de agosto do mesmo ano.

Existe um recuo ao passado. Quando a história se inicia, Augusto está no quinto ano de Medicina e conquistara, entre os amigos, a fama de inconstante. Nos capítulos VII e VIII, o autor conta-nos a origem da instabilidade amorosa do herói. Tudo começara há oito anos, quando Augusto contava 13, e Carolina 7 anos de idade.

Foco narrativo

O narrador, na verdade, é Augusto, pois perdeu a aposta feita com Filipe; mas é narrado na 3ª pessoa, por um narrador onisciente. Aqui e ali, ele se intromete um pouco na história, bancando o moralista.

A importância para a obra e a repercussão no leitor é que a utilização deste tipo de narrador causa o aprofundamento psicológico das personagens, o que não ocorreria se o narrador não fosse onisciente ou em 1ª pessoa. A seqüência narrativa e a ação dos personagens se dão em tempo cronológico pois ocorrem em três semanas e meia.

Temática / Crítica social

O tema da obra é a fidelidade ao amor de infância.

Como crítica social vemos o casamento, pois, na época o ajuste matrimonial era feito pelos pais dos jovens. A união dos filhos ganhava, pois, conotações de negócio indissolúvel, tratado com a seriedade dos adultos pensantes, conseqüência clara do amor arrebatador dos jovens; vemos também referência à escravidão embora sem grande relevo. Mas há, em A Moreninha, referência ao trabalho escravo e aos castigos corporais a que os negros eram submetidos.

Personagens

As personagens mais importantes são Augusto e Carolina. A personagem que mais chama atenção é Augusto que era um estudante de medicina alegre, jovial e inconstante em seus amores. O autor lhe confere complexidade já que no início da história o personagem é descrito de uma forma e no final dela é descrito de outra.

A personagem central é D.Carolina, menina de quatorze anos, possuía cabelos negros, olhos escuros, era travessa, inteligente, astuta e persistente na obtenção de seus intentos.

Enredo

O enredo apresenta unidade e organicidade pois a história possui início, meio e fim. O clímax do enredo ocorre quando D.Carolina revela a Augusto, ao deixar cair um breve contendo um camafeu, que é a mulher a quem ele tinha prometido se casar na sua infância. O desfecho dá-se no final da história.

Augusto, Leopoldo e Fabrício estavam conversando, quando Filipe chegou e os convidou para passar um fim de semana na casa de sua avó que ficava na Ilha de Paquetá. Todos ficaram empolgados, menos Augusto. Filipe comentou a respeito de suas primas e de sua irmã, que provavelmente estariam na ilha. Foi quando surgiu uma discussão que deu origem a um aposta; Filipe desafiou Augusto dizendo que se ele não se apaixonasse por uma das moças ali presentes, no prazo de um mês, seria obrigado a escrever um romance sobre sua história.

Passaram-se quatro dias, Augusto recebeu uma carta, que lhe foi entregue por seu empregado Rafael, a mando de Fabrício. A carta dizia que o namoro de Fabrício com D.Joaninha não estava indo muito bem, pois ela era muito exigente. Ela fazia-lhe pedidos absurdos como escrever quatro cartas por semana , passar quatro vazes ao dia em frente à sua casa e nos bailes ele teria que usar um lenço amarrado em seu pescoço , da mesma cor da fita rosa presa a seus cabelos. Terminando a leitura, Augusto começou a rir porque era ele quem sempre aconselhava Fabrício em seus namoros.

Na manhã de sábado, chegou à ilha e encontrou seus amigos, que estavam a sua espera. Entrando na casa, se dirigiu à sala e se apresentou, em seguida foi procurar um lugar para sentar-se perto das moças. Foi então que ele se deparou com D.Violante, que lhe ofereceu um assento. Ela falou por várias horas sobre suas doenças, e perguntou o que ele achava. Augusto já irritado de ouvir tantas reclamações, disse que ela sofria apenas de hemorróidas. D.Violante se irritou, afirmando que os médicos da atualidade não sabem o que falam.

Fabrício chegou interrompendo a conversa e chamou Augusto para um diálogo em particular. Os dois começaram a discutir sobre a carta, pois Augusto disse que não pretendia ajudá-lo em seu namoro com D.Joaninha. Fabrício então declarou guerra a Augusto.

Logo após a discussão, chegou Filipe chamando-os para o jantar. Na mesa, após todos terem se servido, Fabrício começou a falar em tom alto, dizendo que Augusto era inconstante no amor. Ele, por sua vez, não respondeu as provocações, mas, na tentativa de se defender, acabou agravando ainda mais a sua situação perante todos.

Após o jantar, foram todos passear no jardim e Augusto foi isolado por todas as moças. Apenas D.Ana aceitou passear com ele. Augusto quis dar explicações à D.Ana, mas preferiu ir a um lugar mais reservado. Ela sugeriu então que fossem até uma gruta, onde sentaram num banco de relva.

Começaram a conversar e Augusto contou sobre seus antigos amores e entre eles do mais especial, que foi aos treze anos, quando viajando com seus pais conheceu uma linda garotinha de oito anos, com quem brincou muito na praia, quando um pobre menino pediu-lhes ajuda. Eles foram levados a uma cabana onde estava um velho moribundo a beira da morte. Sua mulher e seus filhos estavam chorando. As crianças comovidas deram todo o dinheiro que possuíam à mulher do pobre velho. O velho agradeceu e pediu de cada um deles um objeto de valor. O menino deu-lhe um camafeu de ouro que foi envolvido numa fita verde e a menina deu-lhe um botão de esmeralda que foi envolvido numa fita branca, transformando-os em breves. O camafeu ficou com a menina e a esmeralda com o menino.

Depois trocados os breves, o velho os abençoou e disse que no futuro eles se reconheceriam pelos breves e se casariam. Foram embora e a menina saiu correndo de encontro a seus pais sem ter revelado o seu nome, e a partir daquele momento nunca mais se viram. Acabada a história Augusto levantou-se para tomar água. Ao pegar um copo de prata foi interrompido por D.Ana que resolveu lhe contar a história da gruta, que era a lenda de uma moça que se apaixonara por um índio que não a amava e de tanto ela chorar, deu origem a uma fonte, cuja água era encantada. Disse também que quem bebesse daquela água teria o poder de adivinhar os sentimentos alheios e não sairia da ilha sem se apaixonar por alguém. D.Ana explicou também que a moça cantava uma canção muito bela, quando de repente eles escutaram uma linda voz. Augusto perguntou a D.Ana de onde vinha aquela melodia e ela explicou que era Carolina que cantava sobre a pedra de gruta e ele ficou encantado.

Logo após o passeio, foram todos até a sala para tomar café e a Moreninha derramou o café de Fabrício sobre Augusto. Ele foi se trocar no gabinete masculino quando Filipe entrou e sugeriu que ele fosse se trocar no gabinete feminino, para que pudesse ver como era.

Augusto aceitou e enquanto se trocava, ouviu vozes das moças que iam em direção ao gabinete. Ficou apavorado, pegou rapidamente as roupas e se enfiou debaixo de uma cama. As moça entraram, sentaram-se e começaram a conversar sobre assuntos particulares. O rapaz ouviu toda a conversa e quase não resistiu ao ver as pernas bem torneadas de Gabriela na sua frente. De repente ouviram um grito e Joaninha disse que a voz parecia com a de sua prima D.Carolina. Todos saíram correndo para ver o que estava acontecendo e Augusto aproveitou para terminar de se trocar e saiu do gabinete para ver a causa daquele grito.

O grito era da Moreninha que viu sua ama D. Paula caída no chão, devido a alguns goles de vinho que tomou junto do alemão Kleberc. D.Carolina não queria acreditar que sua ama estivesse bêbada e levaram-na para o quarto. A Moreninha estava desesperada quando Augusto, Filipe, Leopoldo e Fabrício entraram no quarto e percebendo a embriaguez da velha senhora começaram a dar diagnósticos absurdos. D.Carolina só acreditou em Augusto e não aceitou o verdadeiro motivo do mau estar de sua ama. Todos saíram do quarto e se dirigiram até o salão de jogos. Augusto foi conversar com D.Ana e perguntou sobre o paradeiro da Moreninha. D.Ana disse que ela estava no quarto cuidando de sua ama. Augusto foi até até o aposento e chegando na porta viu uma cena inesquecível; ela lavava com suas delicadas mãos os pés de sua ama e ele comovido se ofereceu para ajudá-la. Depois disso Augusto sugeriu que a deixasse repousar pois no dia seguinte estaria bem.

D.Carolina foi se trocar para em seguida ir ao Sarau, colocou um vestido muito bonito mas fora dos padrões normais, pois mostrava parte de suas pernas. Todos queriam dançar com ela e Fabrício pediu-lhe a terceira dança, mas a garota mentiu dizendo que iria dançar com Augusto. Ele por sua vez dançou com todas as moças e jurou-lhes amor eterno, inclusive para a Moreninha. No fim da festa Augusto encontrou um bilhete que estava em seu paletó, dizendo para ir à gruta no horário marcado e logo após encontrou outro no qual dizia que aquilo era uma armadilha.

No dia seguinte, Augusto foi até a gruta no horário marcado e encontrou as quatro jovens e antes que elas pudessem falar, foram surpreendidas pelo rapaz que contou cada uma o que ouvira no gabinete. As moças ficaram revoltadas e depois de irem embora Augusto foi surpreendido pela Moreninha que começou a contar a conversa dele com D.Ana. Mas primeiro ela tomou um copo da fonte e foi por este motivo que Augusto ficou mais impressionado pois lembrou-se da lenda da fonte encantada, e logo depois do susto, declarou-se a ela.

Depois de acabadas as comemorações, as pessoas voltaram para suas casas. Augusto não se cansava de contar sobre D.Carolina para Leopoldo, que sempre dizia que aquilo era amor. Os rapazes acharam conveniente visitar D.Ana, Augusto se encarregou dessa tarefa no domingo.

D. Ana foi recebê-lo e contou-lhe que D.Carolina estava triste até saber se sua vinda para a ilha. Durante o almoço Augusto viu um lenço na mão de D.Carolina e adivinhou que ela o tinha bordado e após muita conversa D.Carolina resolveu ensiná-lo a bordar.

Depois do almoço, Filipe e Augusto foram jogar baralho, quando ouviram o chamado da Moreninha para a primeira aula de bordado. A lição acabou ao meio dia e Augusto achou prudente ir embora, despediu-se de todos e combinou com D.Carolina, que no domingo seguinte voltaria e traria o lenço já terminado.

No domingo seguinte, Augusto voltou até a ilha e levou o lenço totalmente pronto, para que sua mestra pudesse o ver, ela não acreditou que ele fizera um trabalho tão bem feito e começou a chorar, dizendo que ele tinha outra mestra. Augusto tentou explicar-se de todas as maneiras possíveis, e disse que o lenço fora comprado de uma velha senhora.

Depois de muita insistência a Moreninha aceitou a situação, pois D.Ana disse-lhe que sua atitude era infantil.

Depois do incidente Augusto chamou a Moreninha para um passeio e percebeu que ela estava um pouco nervosa, foi então, que ele perguntou-lhe se havia um amor em sua vida, ela respondeu com a mesma pergunta e Augusto disse que o grande amor de sua vida era ela. A Moreninha ficou imóvel e disse que o seu amor poderia ser ele.

Augusto voltou para sua casa e foi proibido de voltar à ilha por seu pai pois seus estudos estavam sendo prejudicados. D.Carolina não era mais a mesma desde a partida de Augusto que agora estava em depressão. Seu pai, vendo que estava prestes a perder seu filho, achou melhor que Augusto voltasse à ilha e pedisse a mão da Moreninha em casamento.

Chegando próximo à ilha, viram a Moreninha cantando sobre a pedra, e ela ao vê-los ignorou-os. D.Ana foi recebê-los e o pai de Augusto explicou a situação se seu filho. Eles foram até a sala e de repente a Moreninha apareceu com seu vestido branco chamando a atenção de todos, foi então que o pai de Augusto fez o pedido diretamente a Moreninha, pois seu filho não tinha coragem o suficiente. A moça ficou assustada e disse que daria a resposta mais tarde na gruta mas D.Ana disse ao pai de Augusto que não se preocupasse, pois a resposta seria sim.

Augusto, ansioso, foi até a gruta e chegando lá encontrou a Moreninha, os dois conversaram e ela perguntou se ele ainda amava a menina da praia. Ele disse que não pois seu amor pertencia somente a ela. Ela disse que não poderia se casar pois ele já estava comprometido com outra pessoa. Irritado, ao sair da gruta foi surpreendido quando ela lhe mostrou o breve verde. Augusto não agüentou a emoção e pegando o breve ajoelhou-se aos pés da Moreninha, começando a desenrolar o breve reconhecendo o seu camafeu.

O pai de Augusto e D.Ana entraram na gruta e não entenderam o que estava acontecendo, acharam que os dois estavam malucos e Augusto dizia que encontrara sua mulher e a Moreninha por sua vez dizia que eles eram velhos conhecidos. Logo após Filipe, Leopoldo e Fabrício viram a alegria do novo casal, mas Filipe foi logo dizendo que já se passaram um mês, Augusto perdera a aposta e deveria escrever um romance.

Augusto surpreende a todos dizendo que o romance já estava pronto e se intitulava A Moreninha.