Professor por vocação

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pepita Jimenez - Juan Valera - resumo

A história de Pepita Jiménez e D.Luis se passa em Andalucía. D.Luis um jovem de 20 anos que aspira ao sacerdócio, mas quando conhece Pepita se encanta e fica apaixonado por ela.

Pepita embora seja jovem, é viúva. Casou-se com um tio já idoso e após três anos de comunhão ele morre, deixando Pepita rica e bela.

A jovem se entrega a uma vida religiosa e reforça isso com uma amizade muito sincera com o padre da cidade.

Pepita têm muitos pretendentes, porém diz não a todos eles. Quando conhece o jovem aspirante a sacerdote, a jovem viúva também sente o coração balançar, mas este amor está condenado à morte por causa da vocação do jovem, cujo pai é um dos pretendentes da viúva Pepita. D. Pedro, pai de D.Luis, é apaixonado por Pepita e sonha casar-se com ela.

O jovem está passando as férias na casa de seu pai e escreve constantemente para seu D. Deán, seu mentor espiritual, que se encontra no seminário. O teor das cartas é o dia a dia na fazenda com seu pai, o amor por Pepita, os passeios etc.

Em suas cartas D. Luis também ao seu tio que interceda por ele para que não caia em tentação. Por mais que lute contra seus sentimentos D.Luis vê em Pepita o exemplo de mulher ideal, tudo isto faz com que ele tenha uma forte crise existencial, não sabe o que fazer, pensa em fugir da cidade e voltar ao seminário. Pede ao seu tio que interceda junto ao seu pai para que este o deixe ir embora, porém D.Pedro não aceita a sua partida e a adia o quanto pode.

O tempo passa e o amor de Pepita e D.Luis aumenta cada dia, Pepita como amiga do vigário da cidade pede a este conselhos no que é criticada duramente. Dom Luis continua a escrever ao seu tio D. Deán, e diz que quer voltar ao seminário antes que ele não consiga mais vencer a tentação. Como foi criado no seminário com seu tio, D. Luis não sabe andar a cavalo e isto lhe causa constrangimentos. Um dia ao visitar as hortas de Pepita junto com seu pai, seu primo Currito, o vigário e uma tia idosa. D.Luis é escarnecido por Currito, todos vão a cavalo, exceto a tia, o vigário e D.Luis. E este fica muito bravo consigo mesmo, mas seu pai trata de resolver a situação ensinando-o a andar no animal

O amor de Pepita e D.Luis aumenta a cada dia e o jovem já não consegue disfarçar seus sentimentos e toma a atitude de ir embora para sempre daquele lugar entregar-se aos seus estudos e rezas esquecendo-se daquele amor, que para ele é uma maldição em sua vida.

Nisto Antoñona, aliada de Pepita resolve interceder na vida de sua ama que está muito doente e vai a procura de D.Luis e lhe diz que, antes de ir embora que ele vá até sua ama e dê a ela satisfações e lhe explique que não a está trocando por coisa vil, mas pelo amor de Deus e que suas convicções quanto ao sacerdócio são sólidas e que nada poderá abalar.Talvez desta forma ela concorde em esquecê-lo , reaja a enfermidade e a tristeza que lhe abateu.

Após relutar, D Luis concorda e vai ao encontro de Pepita, a encontra triste e muito abatida, conversam e a princípio ele busca todas as soluções possíveis para negar o amor contido em seu coração. Se negam ao amor por causa da vocação pensam estar ofendendo à Deus, se negam pelo que o povo irá dizer acerca dos dois, principalmente D.Luis que é um seminarista e por fim pensam na inimizade entre pai e filho que amam a mesma mulher.

Após várias horas de conversa e lágrimas, chegam a conclusão de que não podem viver separados. D.Luis decide tomar a decisão de enfrentar a situação e a primeira coisa a fazer é contar para seu pai, que reage de forma surpreendente, recebendo com alegria o romance do filho com Pepita. Seu pai já sabia de tudo há alguns meses através das cartas enviadas por seu irmão D.Deán

D. Pedro sabia de tudo, inclusive de seu duelo com o conde Genazahar, que ofendera a honra de Pepita com palavras, a verdade é que para o pai de Luis foi uma alegria, pois ele não concordava no fato de seu filho ser padre. Talvez a idéia de casar-se com Pepita partira do fato de que não teria herdeiros, mas relembra que com a chegada do filho a jovem viúva abandona o luto e passa a se vestir de maneira mais alegre, confessa que por um momento pensou ser ele o motivo de tão grande mudança. D. Luis larga a batina de vez e se casa com Pepita Jiménez, o padre amigo da família falece em virtude da avançada idade, o que deixa Luis bastante entristecido, mas isso logo é superado com a abnegação de Pepita. Os dois tem um filho, deixando D. Pedro muito feliz, o casal segue a vida buscando sempre em Deus o estímulo, o conforto, a tranqüilidade para superarem todos as situações opostas;Tornam-se um exemplo em Andalucía de respeito, amor e obediência à Deus e reconhecem que o amor de ambos não é uma queda, mas começo de uma grande mudança na história de suas vidas.

Respostas do teste surpresa, de 16/02/11


EXPLICAÇÕES

01. Resposta c
A palavra que atrai para junto de si o pronome situado na mesma frase.

02.
a) Condições meteorológicas. O adjetivo meteorológico deriva de meteoro, que é qualquer fenômeno perceptível que ocorre na atmosfera terrestre, desde chuva até estrelas cadentes.
b) Caranguejo. Alguns estudiosos acreditam que a palavra caranguejo tem origem do espanhol cangrejo, que por sua vez é o diminutivo do termo cangro, derivado do latim cancer, cancris.
c) Chimpanzé. O i nasal é decorrente de sua origem africana. O termo vem do congolês ki(m)penzi e se transformou em quimpenzé pelos franceses.
d) Supetão. A palavra é o aumentativo de súpeto, forma popular de súbito.
e) Cabeleireiro. Termo derivado de cabeleira.

03. Resposta b
Um evento bimensal ocorre duas vezes por mês, já o bimestral se realiza de dois em dois meses.

04. O problema central da frase é de nexo lógico entre os termos. Tal como está a escrita, o "uso indevido" - aquilo que não é fabricado na empresa - é que apresentaria defeitos. Mais exato seria dizer: "A fábrica garante o produto contra todos os defeitos de fabricação. Problemas provocados por uso indevido não são responsabilidade da empresa." Para evitar o cacófato "fábrica garante", deve-se trocar "garante" por "assegura".

05. "As participações" deveriam ser trocadas por "a participação". Trata-se do uso indevido do plural, uma das distrações, enganos ou impropriedades mais comuns e menos discutidas da língua. Se uma propriedade se refere a sujeitos diversos, deve-se manter no singular. E mais: quando são vários os possuidores, o nome da coisa possuída fica no singular, inclusive partes do corpo, se unitárias, ou atributos da pessoa. Ex. O correto é dizer "eles balançaram a cabeça" e não "eles balançaram as cabeças".

06.
a) a
b) a
c) à
d) à
e) a

07. O 'se' está sobrando. Em construções como essa, o verbo no infinitivo já carrega a noção de passividade. É só lembrar de casos como "Indispensável para produzir", "Difícil de fazer" e "Fácil de amar". Todos eles dispensam a partícula.

08. Resposta a
No enunciado I, como o objeto do verbo denunciar não vem marcado por preposição, pode ser interpretado como sujeito e o sujeito como objeto. Não se sabe, com isso, se é o senador que faz a denúncia e o Senado afetado por ela ou vice-versa. Em II e III, como o objeto de desconfiar é marcado pela preposição de, não há ambigüidade alguma.

09. Resposta d
Todo pronome de tratamento comporta-se gramaticalmente como terceira pessoa.

10. Resposta a
Ao dizer que até as universitárias são prostitutas, a frase deixa entrever uma crítica ao regime cubano - atingiu tal degradação, que ocorre o que menos se espera: universitárias prostituindo-se. Já ao dizer que até as prostitutas são universitárias, o sentido da frase é o avesso do anterior: o regime é tão rico de possibilidades, que mesmo as prostitutas podem tornar-se universitárias.

E aí?? Como é que foi??
Anota quantas questões vc acertou e vamos discutir.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

'A MÃO DE OBRA NEGRA NO SÉCULO XIX: NEGRAS(OS) DE ALUGUEL E DE GANHO' - * Por Adomair O Ogunbiyi

'A MÃO DE OBRA NEGRA NO SÉCULO XIX: NEGRAS(OS) DE ALUGUEL E DE GANHO'

* Por Adomair O Ogunbiyi
* Publicado 15/01/2009
* História
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Negros(as) de Ganho

A MÃO DE OBRA NEGRA NO SÉCULO XIX: NEGRAS(OS) DE ALUGUEL E DE GANHO"

Rechaço o individualismo porque pertenço a todos os negros. Sou José o peão, João o porteiro e Moisés o mineiro. Quando estão em apuros estou também.

Maulana Ron Karenga

O elemento negro, raptado em África, foi trazido ao Brasil para trabalhar, isto é um fato. Este modo de produção que surgiu com o mercantilismo e a expansão do capitalismo, sendo um dos elementos constituintes básicos da acumulação primitiva do capital, conforme nos ensina o Professor Clóvis Moura (2004).

A escravidão moderna ou colonial expandiu-se nas colônias da Inglaterra, Portugal, Espanha, Holanda, França etc., tendo como elemento escravizado os filhos do continente africano. Calcula-se que cerca de dez milhões de africanos foram transplantados para várias partes do mundo.

E de seu trabalho como mão-de-obra não assalariada nosso país foi reconhecido mundialmente como o maior produtor de açúcar, de ouro e por fim de café, respectivamente nos séculos XVII e XVIII conforme afirmou Maurício Goulart (1950), em Escravidão Africana no Brasil.

Mário Meireles registra que antes da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão (6/6/1755), construído por Marques de Pombal, não havia escravatura africana nas capitanias do Pará e Maranhão. (MEIRELES, 1994, p.129)

A primeira introdução africana que se tem notícia data de 1761, segundo César Marques. Contudo, encontramos informações do Senado da Câmara de São Luís, que por vereação de 14.06.1655, resolveu criar um cargo de Juiz da Saúde, por haver muitas moléstias e para visitar os navios que chegavam com negros.

O mesmo César Marques vai relacionar, entre 1812 a 1821, a entrada de 36.356 negros(as) retirados(as) de África e introduzidos no estado. Eram povos Bantos e Sudaneses das mais variadas etnias.

Alguns viajantes vão apresentar os seguintes dados:

Maranhão

Thomas Ewbank


280.000 (em 1845)

Charles Ribeyrolles


370.000 (em 1856)

São Luís

Daniel Parish Kidder


33.000 (em 1841)

George Gardner


26.000 (em 1841)

Os dados acima estão conforme apontamentos de José Ribamar C. Caldeira (1991, p. 17 e 19).

Em 1821, Maria Graham, apontara que a população escravizada era cerca 71% de negros(as) e 29% de não-negros(as), exemplificando:

Condição Jurídica


População Total

nº Habitantes


Trabalhadores(as) da

Lavoura

Livres


35,618


19.960

Escravizados(as)


84.434


68.534

Total:


120.052


89.494

Fonte: Maria Graham (1821)

D'Orbigny notou, em 1832, que a população da capital maranhense era composta, em sua maioria, de "crioulos portugueses e negros(as) escravizados(as).

Em São Luís o(a) escravizado(a) de ganho – comerciante – só era permitido pela Câmara Municipal se estivesse portando autorização escrita de que o enviou.

Uma das regras da segunda metade do século XIX, em São Luís, dizia que o escravizado só poderia estar fora de casa até às dez horas da noite e daí em diante, somente com a autorização escrita de seu/sua senhor(a). (Martins, 2000, p. 76).

É interessante assinalar as diversas profissões exercidas segundo as condições jurídicas, em 1821:

Profissão


Número de trabalhadores(as)

Livres


Escravizados(as)

Pedreiro os e canteiros


404


608

Carpinteiros


138


326

Alfaiates


61


96

Entalhadores


96


42

Carpinteiros navais


80


38

Ourives


49


11

Ferreiros (em S. Luís)


37


23

Marceneiros


30


27

Pintores e caiadores


10


5

Caldeireiros


4


1

Seleiros


4


1

Serralheiros


5


-

Curtidores


4


-

Tanoeiros (em s. Luís)


2


-

Fonte: Spix e Martius, 1981, II, p. 285

Interessante citar a existência do Código de Posturas de 1882, que tratava da legislação trabalhista.

A escassez da mão-de-obra escravizada, na cidade de São Luís, no final do século XIX era evidente.As motivações variavam desde as compra de cartas de alforria, fugas para quilombos - aqui localizamos a Balaiada (1838-1841), tendo como um dos líderes Negro Cosme, sociedades de manumissão, libertação por batismo e por herança.

Negros de ganho ou de canga, em São Luís, se reuniam na "esquina da rua Formosa com a de Santana" , [...] "era o Canto Pequeno, ponto de reunião". (LIMA, 2002, 179).

O abolicionista Joaquim Nabuco enfatizava que a população negra era "os pés e mãos do senhor". Essa população se encontrava na lavoura, nas cidades. Dentro de casa, nas senzalas, fugidos no mato – nos quilombos espraiados de norte a sul do Brasil. Prestando serviços nas grandes cidades, como Rio de Janeiro, Salvador, Maranhão[2]: vendendo água, comida, panelas, miçangas, badulaques. Exercendo ofícios especializados, como pode se observar nos relatos sobre a vida brasileira realizados por Jean-Baptiste Debret:

[...] o oficial de barbeiro no Brasil é quase sempre um negro ou pelo menos escravizado. Esse contraste, chocante para um europeu, não impede ao habitante do Rio de entrar com confiança numa dessas lojas, certo de aí encontrar numa mesma pessoa um barbeiro hábil, um cabeleireiro exímio, um cirurgião familiarizado com o bisturi e um destro aplicador de sanguessugas".

(DEBRET, Jean Baptiste. apud: TOLEDO, Roberto Pompeu, 1996, p. 52)

Negros africanos das mais variadas origens eram, também, carregadores. Carregavam as cadeirinhas onde os(as) brancos(as) iam sentados(as), baús, caixas, caixões, caixotes, sacas de café, os barris com água ou dejetos (tigres)[3], etc.

Encontravam-se na minas, na extração de pedras preciosas e ouro.

Havia diversos tipos de escravizados(as). De propriedade do senhor(a) ou alugados(as). Empregados(as) no eito ou nos serviços domésticos. Havia os(as) escravizados(as) "ao ganho" – aqueles(as) que o senhor punha a realizar determinado serviço para fazer algum dinheiro. Os(As) que trabalhavam nas cidades, exercendo diversos ofícios, podiam ser libertos(as), mas podiam ser também escravizados(as) "ao ganho". Ou escravas, que tanto podiam vender quitutes como serem prostituídas, para proveito de seu senhor ou senhora. (SANTOS NETO, Manoel, 2004, p. 101).

As profissões exercidas por negras e negros de ganho eram de: carregadores, moços de recado, cirurgiões[4], "sangradores" e aplicadores de sanguessugas, fabricantes e vendedores de cestos (indústria do trançado), vendedores de aves, serradores de tábuas, caçadores, vendedores de milho, de leite, de capim e de sapé, transportes de cana de corte, calçadores de rua (calceteiros), etc. As mulheres negras eram vendedoras de angu, sonhos, refrescos, pães-de-ló, quitandeiras e lavadeiras.

ESCRAVOS(AS) DE GANHO

Tudo parece negro: negros na praia, negros na cidade, negros na parte baixa, negros nos bairros altos. Tudo o que corre, grita, trabalha, tudo o transporta e carrega é negro.

Robert Ave-Lallemant (1860)

Escravizados(as) de ganho ou "ao ganho" eram aqueles(as que trabalhavam fora da casa do(a) seu/sua proprietário(a), como jornaleiro(a). Vendia nos mercados ou nas ruas da cidade água, frangos, comidas e doces, poucas, perfumes, tecidos e bagatelas, ou eventualmente, agenciava prostituídas.

Outra profissão ambulante para um negro escravizado de ganho era a de barbeiro. Eram também carregadores de cadeirinha, de barracas, de sacas de café etc. Enquanto esperavam que alugasse os seus serviços, trançavam chapéus e esteiras, vassouras de piaçava, enfiavam rosários de coquinhos, faziam correntes de arame para prender papagaios, pulseiras de couro e assim conseguiam algum dinheiro que juntavam para comprar sua alforria[5]. (SANTOS NETO, 2004, p.101; MARTINS. 2000, p. 78)

A respeito de alforria e "ganhadeiras" Dunshee de Abrantes nos relata que Amélia, que era dona de uma quitanda onde vendia café, mingau de milho, caruru, arroz-de-cuxá, folhe, manuê, e cuscuz – a Princesa da Calçada do Açougue - primogênita de um português com a conhecida Emília (mi'ama) mãe de leite do autor:

A muito custo fora redimida por ocasião do batismo, no dia de São Benedito, pelo pai, um português. Aprendera a ler e escrever; crescera sempre robusta e sadia; e, virgem ainda aos 27 anos, repelia sistematicamente todas as proposta de casamento ou de sedução, com risadas cristalinas e ritmadas, dizendo que só pensaria em amores no dia em que tirasse a sua mão do cativeiro. Para tanto juntou 200 mil reis e foi fazer o pedido de alforria de sua mãe, Emilia, também por ocasião do dia de S. Benedito, ocasião em que "era uso anos antes fazere-se as tradicionais libertações na pia de pequenos escravizados(as), ora pelos próprios senhores(as), ora custeadas pelos cofres da Sociedade Manumissora, a Dona Evarinta que recusou dar alforria. E, em resposta disse: "Isso não pode ficar assim: você embarca, minha mãe, e vou atrás. Lá no Rio há de haver juízes. Irei até aos pés do Imperador!"Ante a negação de Dona Evarinta justificada com a afirmação de que "não poderia passar sem a Emilia é quem me trata nas minhas doenças; e como vamos para a Corte nestes dias, preciso que me acompanhe, e lá então decidirei com ela o que desejar, e eu quero fazer [...]".Passado dois meses foi ao Rio e entregou ao Senador Nunes Gonçalves (Visconde de São Luís do Maranhão) a quantia solicitada para alforriar sua mãe.

(ABRANTES, 1992. p.135)

Outros casos exemplares, no Maranhão, apresentados por Dunshee de Abrantes em "O Cativeiro" (1992) como de Catarina Mina (Catarina Rosa Ferreira de Jesus), escravizada e posteriormente alforriada, tornando comerciante "ao sopé do Beco da Praia Grande, hoje com o nome de Beco Catarina Mina; e o de Adelina Charuteira que:

Era uma escravizada, quase branca, de cabelos compridos ligeiramente ondulados, de 16 anos de idade, inteligente, arguta, de discrição a toda prova. Sempre bem calçada e de vestidos modestos, mas bem feitos, tinha traços finos e formosos que traíam a família ilustre de seu pai que, apesar de abastado, não teve a coragem ou a caridade de adota-la nem redimi-la ao nascer. Ela e sua mãe continuaram assim escravizadas da família conhecida por Boca da Noite; e seu senhor, empobrecendo dia a dia, vivia então de fabricar charutos. Daí o apelido que deram à jovem cativa de Adelina Charuteira. Sabia ler e escrever; fazia e conhecia a costura de cortes.

(ABRANTES, 1992, p. 156-158).

E, ainda pegando exemplos da importante participação feminina no "comércio de produtos indispensáveis para a população e realizando atividades que, que certa forma, dependiam a ordem econômica e política" nos centros urbanos temos o "vai-e-vem das mulheres a alguns tráfico proibido e/ou comunicação com negros aquilombados". Aí, situa-se o, também, emblemático/simbólico caso da quitandeira Luiza Mahim[6] que participou da Revolta dos Malês, 1835, na Bahia. (SOARES, 2006, p.77).

O escravizado carregador, quase sempre de ganho, carregava malas, pipas e outros objetos. Um mercenário alemão que serviu às tropas de D. Pedro I, entre os anos de 1824 e 1826, observou na cidade um negro que carregava pesada mala e cantava a seguinte cantiga traduzida por Gustavo Barroso (1961):

Vou carregando por meus pecados

Mala de branco pra viajar.

Quem dera ao Tonho, pobre do negro,

Pra sua terá poder voltar.

O(A) escravizado(a) de ganho entregava ao seu/sua proprietário(a) uma quantia fixa, freqüentemente uma vez por semana, e em geral tinha de prover seu próprio sustento. Era possível também o arranjo pelo o pagamento era entregue integralmente ao(à) senhor(a), que então ficava obrigado a sustentar o(a) escravizado(a).

Usavam "os ganhadores ou trabalhadores do "canto", no serviço diário, vestimenta de pano de algodão grosso (de saco de farinha de trigo, ou de sacos de aniagem (tecido na juta usado em sacaria, servindo especialmente naquele tempo para enfardamento de xarque).

O(A) escravizado(a) de ganho dava um jornal fixo, em 1837, seria de 320 mil-réis diários, dos quais metade pelo menos seria necessário para seu sustento, segundo Burlamarque. (1837, p. 64).

Negros de ganho podiam morar com seus/suas donos(as) e deles receber refeições ou se alojar em algum cortiço e suprir as refeições por conta própria.A obrigação, à qual não podiam faltar, era a de entregar ao dono(a) uma renda fixa, por dia ou semana, ficando somente com o que lhes sobrasse. Aquele(a) que descumprisse esta obrigação se sujeitava a surras de palmatória. Os(as) recalcitrantes eram entregues à delegacia de polícia para reclusão e açoitamento.

Gorender (1988) afirma que nem mesmo o negro aleijado não estava dispensado de trabalhar.

Ao contrário destes(as) os escravos de aluguel eram alugados pelo seu/sua senhor(a) a outro(a) em troca de um pagamento. Podiam ser domésticos, artesãos, amas-de-leite, cozinheiros(as), governantes, carpinteiros, sapateiros, barbeiros, ferreiros, ceramistas pintores, pedreiros etc. (MOURA, 2004, p.150; GORENDER, 1988, XXXIII)

Contrapondo-se à falácia da "democracia racial", tese gilbertofreiriana, Manuela Carneiro da Cunha (1985, p. 17) assevera:

O escravismo é um sistema hierárquico de produção, e seus aspectos específicos são esclarecidos por referência ao sistema. Em particular, como qualquer sistema hierárquico, ele tem contidos nele loci da violência e de opressão que estarão eventualmente situados em pontos diferentes em diferentes sociedades, mas não poderão deixar de existir.

As duas modalidades apresentadas – negros(as) de ganho e negros(as) de aluguel – diferem uma da outra, conforme argumentos contundentes do Professor/Mestre Clóvis Moura (2004) e seguindo seus ensinamentos entende-se que nas relações de trabalho, nos dias atuais, encontram-se similitudes, no caso de negros(as) de ganho, nas Empresas do tipo Gelre, que surgiram nos anos 70 e as terceirizadorasdo anos 80 e 90 – empresas que oferecem a mão-de-obra de trabalhadores(as) ao mercado efetuando seus pagamentos mensalmente, após o recebimento dos proventos recebidos das empresas ou indivíduos contratantes.

Não basta escrever um canto revolucionário para participar da revolução [...]; é preciso fazer esta revolução com o povo. Com o povo, e os cantos surgirão sozinhos e por mesmos.

Não há nenhum lugar fora deste combate único nem para o(a) artista, nem para o(a) intelectual que não esteja ele(a)próprio(a) empenhado(a) empenhado e totalmente mobilizado com o povo na grande luta da África e da humanidade.

Sékou Touré

Não concluindo, propomos que a presente reflexão seja uma pista para pesquisas mais profundas e amplas acerca do tema. Esperamos, contudo, que tenhamos conseguido contribuir para estimulo do espírito artístico e crítico daqueles que pensam uma sociedade justa e igualitária.

Bi Olorun ba fe!

Adomair O. Ogunbiyi

REFERÊNCIAS:

ABRANTES, Dunshee. O Cativeiro. 2. ed. São Luís: Alumar, 1992.

AZEVEDO, Paulo César de. LISSOVSKY, Maurício. (orgs.). Escravos Brasileiros do século XIX na fotografia de Christiano Jr. São Paulo: Ex Libris, 1988.

CALDEIRA, José Ribamar C. O Maranhão na literatura dos viajantes do século XIX. São Luís: AML/SIOGE, 1991.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Negros, Estrangeiros: Os escravos libertos e sua volta à África. São Paulo: Brasiliense, 1985.

GOULART, Maurício. Escravidão Negra no Brasil. 2. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1950.

LIMA, Carlos. Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos. São Paulo: Siciliano, 2002.

MARTINS, Ananias Alves. São Luís: Fundamentos do patrimônio cultural – séc. XVII, XVIII e XIX. São Luís: 2000.

MEIRELES, Mário M. Dez Estudos Históricos.São Luís: Alumar, 1994.

MOURA, Clóvis. Dicionário da Escravidão Negra no Brasil. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004.

SANTOS NETO, Manoel. O negro no Maranhão. São Luís: 2004.

SOARES, Cecília C. Moreira. Mulher Negra na Bahia no Século XIX. Salvador: EDUNEB, 2006.

TOLEDO, Roberto Pompeu de. À Sombra da escravidão.São Paulo: Veja, edição 1.444. Ano 29 – nº. 20 – 15 de maio de 1996, p.52-65.

VERGER, Pierre. Notícias da Bahia – 1850. Salvador: Corrupio, 1981.

[1] Militante do Movimento Negro Unificado – MNU, desde 1981, atua como Coordenador de Organização e Formação. Acadêmico de Pedagogia. Assessor Sindical do Sindoméstico – Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Estado do Maranhão.

[2] Maurício Goulart relata que a Fazenda Real contratara com Pascoal Pereira Jansen e ouros negociantes de Lisboa a introdução, no Pará e Maranhão, pelo prazo de vinte anos, de 10 mil escravizados, à razão de 500 por ano. (1950, p. 124 -125). Confirma a entrada de 40.000 escravizados(as) no Maranhão entre 1801-1839 (1950, p. 272).

[3] A existência do Beco da Bosta, hoje conhecida com Travessa 28 de Setembro, nos remete aonde "transitavam os escravizados carregando os tonéis de excrementos das famílias para joga-los na maré, os conhecidos tigres ou cabungos", conforme afirma Carlos Lima (2002, p. 36).

[4] A profissão de barbeiro era outra a que os escravizados se dedicavam, e nela estava incluída a tarefa de aplicação de sangria, isto é, retirada de parte de sangue do paciente para tratar de problemas tão distintos como febre, erisipela, varíola, sarampo, diarréias, machucados e dores. Alguns barbeiros, mesmo libertos ou escravizados de origem africana,obtinham licença especial para praticar o ofício de cirurgião "prático": amputavam membros (em casos como de gangrena),extraíam tumores e dentes e colocavam ossos no lugar. (Relatório de Desenvolvimento Humano 2005, PNUD, grifos nossos)

[5] Havia dois caminhos para a alforria: um podia ser graciosamente concedida e podia ser comprada. A diferença entre elas era falaciosa, pois grande parte das alforrias gratuitas era acoplada a condições suspensivas que estipulavam anos de serviços a serem cumpridos, ou que exigiam que o escravizado servisse determinada pessoa, o senhor, sua viúva, algum herdeiros ou testamenteiro por vezes até a morte destes.

[6] Mãe de Luís Gama, abolicionista.

Ao usar este artigo, mantenha os links e faça referência ao autor:
'A MÃO DE OBRA NEGRA NO SÉCULO XIX: NEGRAS(OS) DE ALUGUEL E DE GANHO' publicado 15/01/2009 por Adomair O Ogunbiyi em http://www.webartigos.com

A Mulher De Trinta Anos (la Femme De Trente Ans) (BALZAC) - Resumo

A MULHER DE TRINTA ANOS
Honoré de Balzac



Tradução: Marina Appenzeller

Do prefácio de Philippe Berthier

"Trata-se (...) de uma meditação complexa, mas profundamente conservadora, sobre os danos da transgressão social e moral, o inelutável cortejo de catástrofes que ela implica: os "primeiros erros" inauguram uma fatalidade que, de elo em elo, semeará a desgraça numa família, inevitáveis seqüelas da irresponsabilidade e da desobediência. Julie é uma jovem encantadora, mas principalmente uma desmiolada que se enamora pelo que há de mais superficial (a beleza física) para ligar sua vida à de um imbecil e egoísta: de nada adiantam as advertências do pai (numa cena que se repetirá na geração seguinte por duas vezes, ilustrando a triste verdade prática segundo a qual, para sua grande desgraça, os filhos não ouvem jamais as advertências dos pais, eterno retorno da cegueira das paixões). Apesar dos sinistros presságios de um número maldito — o décimo terceiro domingo de 1813 —, e já às vésperas da débâcle histórica em que a nação vai se precipitar, um destino individual sela, por frivolidade, seu desastre. Filha rebelde, Julie toma o caminho da afirmação do desejo pessoal a qualquer preço, que, para Balzac, é sempre fatal, porque ignora a necessidade da submissão às altas exigências da existência social.

"O trauma de uma noite basta para aquilatar a brutalidade de Victor, que não tem a menor idéia das expectativas de sua esposa. Incapaz de fazer com que ela partilhe seus prazeres, ele a trata como mero objeto sexual. Esse medíocre inconsciente não vê praticamente nenhuma diferença entre seu cavalo e sua mulher, que logo passa a sentir por ele apenas piedade e desprezo. Balzac não é condescendente com a fatuidade masculina e tampouco com a leviandade feminina. O casamento aparece então como uma odiosa impostura, uma prostituição legal. Nesse mercado de tolos, a mulher tem infinitamente mais a perder que o homem, pois a opinião pública costuma ser indulgente com todas as faltas deste, enquanto que ela permanece prisioneira de seus deveres; a reprovação geral que sancionaria qualquer falta de sua parte afigura-se a Balzac como a punição pela infração às leis ou o sintoma de "tristes imperfeições das instituições nas quais repousa a sociedade européia" (leia-se: os casamentos "arranjados" por questões de interesse). Armadilha mortal para a mulher que não soube (ou não pôde) escolher seu esposo, o casamento exige, com razão, que se honre o pacto solene firmado diante de Deus e dos homens; ele garante aos indivíduos imensas vantagens, mas também exige sacrifícios, e é o cúmulo do ilogismo interessado pretender se furtar a suas obrigações, ao mesmo tempo em que se tira partido de suas prerrogativas. Afinal de contas, comenta ferozmente Balzac, os infelizes sem pão, que respeitam a propriedade alheia, não são menos de lamentar que as mulheres infelizes em função de uma má escolha conjugal. Julie recebe o funesto pagamento à sua imaturidade juvenil, à sua incompreensão dos grandes imperativos — prescritos pela sociedade para que possa subsistir —- do alcance destes. O amor de Arthur — sublime mas, de forma masoquista, repelido — apenas confirma a contrario o caráter carceral que a instituição do casamento tem para a mulher."



Sobre A mulher de trinta anos

Nesta precoce análise das mazelas do matrimônio enquanto cerceamento da mulher —"Casada, ela deixa de se pertencer, é a rainha e a escrava do lar" —, Balzac retrata o casamento como pilar da sociedade burguesa (agora pós-revolucionária, "o encanto do amor desapareceu em 1789") na França. Embora intrinsecamente conservador — talvez por isso mesmo —, a imagem que o autor traz da situação de mulheres curvadas sob o peso de suas obrigações sociais e legais é digna de interesse social, histórico e psicológico. Ideologicamente, sabemos que Balzac respaldava o casamento, e esta obra tinha a função de um libelo contra a "leviandade da mulher", dando origem a uma Julie remoída por abissais sentimentos de desejo e culpa, mas o próprio texto e os personagens se encarregam de traí-lo e fica-nos uma forte impressão de que Balzac o denuncia nas entrelinhas em suas estruturas mais fundamentais. Assim, são deliciosas, se não memoráveis, e um tanto inusitadas para a época, as páginas em que Balzac retrata com derrisão o homem casado, tome-se o marido de Julie, o insípido Victor d'Aiglemont, que parece não discernir com muita clareza entre seu cavalo e a mulher.

O que restou desta obra, para além de algumas falhas de construção (por exemplo, Balzac usa condessa por marquesa, ao descrever a tia de Julie, pois com a Restauração a marquesa recuperaria seu título, mas isso não fica suficientemente claro para o leitor e aparece como lapso do autor — propositadamente não foi corrigido nesta tradução), são trechos de um belo lirismo e forte inspiração sobre o amadurecimento da mulher (Balzac parece ao mesmo tempo lamentá-lo...), justamente sua passagem para a idade balzaquiana e para uma outra beleza, a da maturidade, para cuja construção o casamento seria um mal necessário: "A fisionomia da mulher só começa aos trinta anos".

Vemos aqui um Balzac "em construção", ora tecendo uma reveladora "análise psicológica", ora se inclinando para o "folhetim desvairado", e de uma riqueza notável ao abordar pontos essenciais de sua obra, como nota em seu prefácio Philippe Berthier, um dos mais destacados estudiosos de Balzac na atualidade.

Cerca de meio século antes, Goethe já nos descrevia com maestria, em Os sofrimentos do jovem Werther, as conseqüências trágicas de uma paixão desenfreada que a sociedade, os costumes e as leis proibiam. O século XIX encarregou-se de amainar os excessos românticos dos personagens, a Revolução Francesa deixara suas marcas (é interessante observar a presença de Napoleão em cada um destes autores) e o que não se consumia em Werther já assume contornos algo mais pragmáticos, ou... modernos, em A mulher de trinta anos.

"A mulher de 30 anos" As Balzaquianas por Marcelo Aith"

Neste texto Marcelo Aith faz um breve resumo sobre o livro A Mulher de 30 Anos de Honoré de Balzac para quem ainda não teve a oportunidade de ler (como eu), mas tem interesse em saber do que se trata. O que eu posso antecipar é que é sobre uma mulher de 30 anos.

"Muitos já ouviram ou usaram o termo 'balzaquiana' para designar um certo tipo de mulher. Mas nem tantos, realmente, chegaram a ler "A Mulher de Trinta Anos", de Honoré de Balzac. O escritor francês viveu na primeira metade do século XIX (1799-1850) e é este o ambiente que encontraremos em sua obra. Mais do que um simples romance, é também uma aula de história, onde desfilam os acontecimentos de uma França pós revolucionária, durante o governo de Napoleão Bonaparte.



O livro trata a fundo da questão do destino da mulher na sociedade e, em particular, dentro do casamento. "A Mulher de Trinta anos" contém estudos de psicologia feminina de extrema agudeza. Sua personagem principal, Júlia d`Àiglemont, é o primeiro grande retrato da mulher mal casada, consciente da razão de seus sofrimentos e revoltada contra a instituição imperfeita do matrimônio.

Constitui uma etapa na história da emancipação feminina. Revela-nos os sofrimentos da mulher incompreendida que não encontrou no casamento a realização de seus sonhos. Balzac é um dos primeiros a focalizar o drama da incompatibilidade de casais. Prestou um serviço imenso às mulheres, ao duplicar para elas a idade do amor. Antes dele, todas as namoradas de romance tinha vinte anos. Ele prolongou até os trinta, quarenta anos, sua vida ativa, idade que considerava o ápice da vida amorosa da mulher.

No primeiro capítulo, em uma época onde nem ao menos se sonhava com o divórcio, o pai de Júlia a alerta sobre os cuidados da boa escolha de um marido: "As moças criam freqüentemente nobres, arrebatadoras imagens, figuras ideais, e forjam idéias quiméricas a respeito dos homens, dos sentimentos, do mundo; depois atribuem inocentemente a um caráter as perfeições que sonham e nisso confiam; amam no homem de sua escolha essa criatura imaginária; porém mais tarde, quando não há mais tempo para libertar-se da infelicidade, a ilusória aparência que embelezaram, seu primeiro ídolo, enfim, se transforma num esqueleto odioso." Sobre o futuro genro ele conclui: "'E um desses homens que o céu criou para tomar e digerir quatro refeições por dia, dormir, amar a primeira mulher que apareça e bater-se. Não entende a vida ... não é dotado dessa delicadeza de coração que nos torna escravos da felicidade de uma mulher...".

Mesmo assim nossa heroína casa-se com Vitor, oficial do exército de Napoleão, tornando-se a infeliz Sra. D'Aiglemont. Em carta para uma amiga confessa sua desilusão pelo amor: "Vais casar, Luisa. Essa idéia faz-me tremer. Pobre criança, casa-te; depois, dentro de poucos meses, um dos teus mais cruciantes desgostos será proveniente da recordação do que nós éramos outrora...". Sobre a noite de núpcias, escreve: "Quando meu marido entrou, quando me procurou, o riso que ouvi, riso sufocado sob as musselinas que me envolviam, foi o último lampejo daquela suave alegria que animava os folguedos da nossa infância...".

Um casamento infeliz, e uma filha. A situação de Júlia parece trágica. A descrença no amor toma conta da personagem. O marido, distante espiritualmente, mantendo relações de adultério, não mais lhe pertencia. Todos os seus sofrimentos e sacrifícios para manter a falsa união passam a ser justificados em nome da felicidade de Helena, sua filha, único bem que a prendia à vida.



A tristeza de Júlia seduz um jovem inglês. Artur, que promete o amor perfeito que seu verdadeiro marido nunca lhe proporcionara. Ambos passam a viver um amor irrealizável, o dever do casamento proíbe Júlia de concretizá-lo. "Não quero ser uma prostituta nem a meus olhos nem aos olhos do mundo. Se não pertenço mais ao Sr. d'Aiglemont, também não pertencerei a nenhum outro." As barreiras morais da época condenam-na a infelicidade eterna.


Por insistência de Artur o "affair"continua. Podemos ver, no livro, a tradicional cena em que o amante, surpreendido pelo retorno do marido, esconde-se no armário. Mas, aqui o desfecho é trágico, chegando a ser cômico, pois para salvar a honra da amante, Artur, depois de Ter os dedos esmagados pela porta do quarto de vestir, corre para o peitoril da janela e, morre congelado pelo frio da noite parisiense. O segundo amor de sua vida termina, as trevas invadem seu coração. Júlia, agora com 26 anos, não encontra alegria nem mais em sua filha.

Ela explica sua angústia: "O casamento, a instituição sobre a qual se apoia hoje a sociedade, só a nós faz sentir todo o seu peso: para o homem a liberdade; para a mulher os deveres. Devemos consagrar aos homens toda a nossa vida, eles nos consagram apenas raros instantes... o casamento, tal como hoje se pratica, parece-me ser uma prostituição legal. Daí nascerem os meus sofrimentos. Mas, entre tantas criaturas infelizes... só eu sou a autora do mal, porque quis o meu casamento."

Ao, finalmente, chegar aos trinta anos Júlia conhece o Sr. Carlos Vandenesse, que nos introduzirá às idéias do que viria a ser considerada uma mulher experiente, uma mulher balzaquiana: "Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis para um rapaz... Com efeito, uma jovem tem ilusões, muita inexperiência, e o sexo é bastante cúmplice do amor... ao passo que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem a fazer. Lá onde uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas à do amor, a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, a outra escolhe... dando-se, a mulher experiente parece dar mais do que ela mesma, ao passo que a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar... Uma nos instrui, nos aconselha... a outra quer tudo aprender... Para uma jovem ser amante, precisa ser muito corrompida, e então é abandonada com horror, enquanto uma mulher possui mil modos de conservar a um tempo seu poder e sua dignidade... A jovem... acredita ter dito tudo despindo o vestido; mas uma mulher... se esconde sob mil véus... afaga todas as vaidades... Chegando a essa idade, a mulher sabe consolar em mil ocasiões em que a jovem só sabe gemer. Enfim, além de todas as vantagens de sua posição, a mulher de trinta anos pode se fazer jovem, desempenhar todos os papéis, ser púdica e até embelezar-se com a desgraça."

A paixão passa a freqüentar o coração dos dois, que se tornam amantes, sob o nariz do omisso d'Aiglemont. Júlia tem mais filhos. A trama familiar continua. Mas o fundamental é que estão lançados os fundamentos das idéias de um relacionamento moderno, que respeita o direito da mulher de ser feliz, antes mesmo da mudança nos valores impostos pela coletividade.


Agora a mulher está livre para amar a quem realmente demonstre merecedor de seu amor, está livre do estigma do peso da idade e, tudo isso se deve em parte a um nome, Honoré de Balzac. Escrito no início do Século XIX, "A Mulher de Trinta Anos" aborda tema que continuam atuais até os dias de hoje, sentimentos que não se apagam com o tempo, presentes em todas as sociedades humanas, em todos os tempos, que garantem a universalidade de sua obra. Um grande clássico da literatura. Indispensável a todos os que querem se aprofundar na compreensão do 'ser mulher'!"

Postado por VaneZa em: balzaquianascomz.blogspot.com

A Normalista -Adolfo Caminha - resumo

ogo no primeiro capítulo, o leitor precisa da ajuda do dicionário para saber o que é um “amanuense”, ou captar o sentido de frases ou expressões como “as insinuações malévolas da alcovitice vilã”. E o “víspora”? Será que todo jovem reconheceria nesse jogo um precursor do bingo atual? E “phaeteon”, “caiporismo”, “redingote”, “coxia” (no sentido de calçada), “botica”? E o tratamento de “vossemecê”?

No caso de A normalista, outro problema de linguagem se coloca: o regionalismo. Além de ter de deslocar a sua imaginação e a sua compreensão no tempo, o leitor se vê diante de expressões restritas ao local em que se desenrola a história do romance. Nesse caso específico de A Normalista, em Fortaleza, no Ceará, mas expressões que também podem ser de uso corrente em todo o Nordeste.

O professor e pesquisador literário M. Cavalcanti Proença escreveu que Adolfo Caminha “teve a preocupação de se não tornar pomposo ou oratório, o que abriu lugar para muito material de linguagem regional de estilização do coloquial”.

Assim, recolhemos os exemplos “bichinha”, “rapariga de família”, “o peru era uma excelente bebida”, e mesmo ditos populares como: “pela cara se conhece quem tem lombrigas”, “sem tugir nem mugir”, e muitos outros.

Na verdade, Adolfo Caminha não insiste em demasiado nas palavras de cunho regional, o que fazem outros escritores, para dar uma “cor local” a histórias ambientadas em lugares de fala bem característica.

Surge, ainda, uma terceira dificuldade para a compreensão imediata do texto, pela utilização de palavras eruditas, pouco usadas na comunicação quotidiana das conversas, do jornal, da televisão. Por exemplo: “seródia”, “rótula”, “tabernáculo”, “estiolando”, “almiscarado”.

Mas tudo isso, vocabulário em parte antiquado, regional ou erudito, não deve desestimular o jovem a prosseguir na leitura começada. Literatura também é este enriquecedor contato com o que ainda não sabemos, mundos distantes do nosso, aberturas para o desconhecido.

E a história? O enredo? Também deve o leitor fazer um esforço para entender a problemática, a tensão e o drama que se desenrola dentro do contexto da época e do local onde foi situado o romance.

As reações dos personagens às situações por eles vividas há 100 anos são, certamente, retratadas de forma diferente caso fossem escritas nos dias de hoje.

No entanto, o leitor deve deixar-se envolver por essa atmosfera regional do passado, que Adolfo Caminha descreve com minúcia realista. Josué Montello, em seu ensaio A ficção naturalista, afirma que A normalista “sobressaía pela transplantação fiel e natural da vida da província e vigor na fixação dos temperamentos e dos caracteres”.

O romance relata as muitas tristezas e poucas alegrias de uma jovem que é entregue por seu pai ao padrinho, para criá-la. Ela é uma menina normal, que estuda, que tem uma amiga confidente, um pretenso namorado de nível muito superior ao seu e, desgraçadamente, é engravidada pelo padrinho e acaba casando-se com um alferes da polícia.

O pano de fundo é uma cidade provinciana do século passado, cheia de preconceitos e maledicências. A jovem Maria do Carmo, personagem principal, que dá nome ao romance, sofre as conseqüências desse meio mesquinho, que não oferece oportunidades de um crescimento interior nem alternativas de vida.

Uma história vulgar, passada numa cidade atrasada e vivida por personagens medíocres, sem horizontes nem futuro.

Mas, graças ao talento do escritor Adolfo Caminha, acontece o milagre da criação literária: o texto se ilumina de uma aura de beleza e continua atraindo, ao longo dos anos, a atenção e o interesse de gerações e gerações de novos leitores.

Neste romance de 1893, a normalista Maria do Carmo é o pretexto para Adolfo Caminha apresentar aos leitores sua visão da Fortaleza de finzinho do século XIX.

De um lado, o povinho miúdo: o pequeno funcionário público, a mulher que vendia rendas, o barbeiro, o guarda-livros, o lenhador e o alferes. Na outra banda, o governador da província, o coronel Souza Nunes, seu filho Zuza - estudante de direito - o jornalista José Pereira, o diretor e os professores da escola normal.

A fraqueza do nexo lógico sentimental ou de qualquer natureza entre as várias peripécias da vida de Maria do Carmo sugere que Adolfo Caminha não conta simplesmente a história dela para distrair seus leitores: é a propósito da vida da normalista que ele vai delineando quadros da vida da capital cearense: uma aula na escola normal, o footing no passeio público, uma festa de casamento, um serão familiar, etc...

Nesta espécie de painel de costumes, o autor parece querer demonstrar ao leitor toda a mesquinha sordidez da vida social na Fortaleza de seu tempo.

O mau humor para com a cidade é transparente, e costuma ser apontado pelos críticos e biógrafos de Adolfo Caminha como uma espécie de vingança: o autor jamais teria perdoado seus conterrâneos por estes lhe terem criticado os amores adúlteros e escancarados com a mulher de um colega.



Trecho:

A luzinha da vela de carnaúba agonizava numa poça de cera derretida.

E essa! Era a segunda vez que sonhava com o Romão, sem quê nem p’ra quê... Com certeza estava para lhe suceder alguma desgraça. Que esquisitice! hum, hum,...


A porta do quarto, que se conservava entreaberta, rangeu nas dobradiças, como se alguém a empurrasse de manso. Apoderou-se de Maria um pavor terrível; arrepiaram-se-lhe os cabelos, e uma extraordinária sensação de frio percorreu-lhe o sangue. Ficou assombrada, sem se mexer, com o ouvido alerta e os olhos fechados, numa prostração de quem está sem sentido.

Pareceu-lhe ouvir chamar pelo seu nome e então subiu um ponto o terror que lhe tapava a boca como uma mordaça de ferro. Abriu os olhos para verificar se com efeito estava acordada e tornou a fechá-los mais que depressa. Instintivamente fez um esforço supremo para gritar, para chamar alguém, mas não podia abrir a boca, estarrecida.

Maria? repetiu a mesma voz, que ela julgava ouvir, uma voz fina, mas abafada, como se saísse das entranhas da terra.

E logo:


— Sou eu, Maria. É o padrinho...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Madame Bovary x Lady Chatterley - aprendendo a comparar




Madame Bovary e Lady Chatterley são duas figuras literárias que ressoam com força em nossa cultura. Personagens centrais de dois grandes clássicos da literatura francesa e inglesa, foram também objeto de inúmeras adaptações fílmicas. Em épocas muito distintas, diversos diretores fizeram suas leituras dessas figuras, trabalhando com suas imagens e significados. Claude Chabrol e Pascale Ferran foram os responsáveis pelos mais recentes trabalhos baseados na história de Emma Bovary e Constance Chatterley, respectivamente em 1991 e 2006. A comparação destes dois filmes permite uma reflexão interessante sobre o adultério e a sociedade burguesa na qual estas mulheres estavam inseridas.

No filme de Chabrol, uma adaptação bastante rigorosa e fiel do livro de Flaubert, acompanhamos a história de Emma, uma jovem que conhece e se casa com um médico do interior da França, Charles Bovary. Ela nutre grandes expectativas com as possibilidades abertas com seu casamento, mas rapidamente se desiludi com sua vida e com seu marido, um típico pequeno-burguês sem grandes oportunidades de qualquer ascensão social muito espetacular. Vivendo num pequeno povoado, Emma sente-se presa num mundo que não lhe pertence, sem aventuras ou acontecimentos, apenas o marasmo entediante da rotina ao lado de seu marido, ele mesmo um sujeito deveras apagado.

Mesmo a mudança para uma vila um pouco maior, mas ainda assim extremamente provinciana, não é capaz de sacudir a modorra de Emma. Longe das festas e da sociabilidade burguesa dos grandes centros, seus sonhos e aspirações românticas simplesmente não se realizam. E seu casamento não é nada diferente. Ela logo percebe que não nutre uma paixão poderosa por seu marido, ainda que este lhe dedique uma devoção extrema de cuidados e agrados, não há energia entre os dois. Dessa maneira, não é nenhuma surpresa os devaneios de Emma com um amante que lhe abriria as portas para o grande palco do mundo.

Porém, nem seus amantes realizam os ideais burgueses e românticos que movem sua imaginação. A vida dinâmica e energética nunca se realiza. A prisão provinciana de Emma parece capturá-la com uma força proporcional aos seus sonhos e tentativas de fuga. A paixão inebriante não passa de um engodo no qual a pobre mulher acreditou encontrar sua salvação, e seus amantes se revelam tão fracos e apagados quanto seu marido, incapazes de fazer frente a força de Emma.

Lady Chatterley de Pascale Ferran trata do mesmo problema. Adaptado a partir da segunda versão do excelente romance (acredite, é um livro fora do sério!) de D. H. Lawrence, o filme da diretora francesa nos apresenta Constance, uma jovem casada com um homem que voltou paraplégico da Primeira Guerra Mundial. Imersa num ambiente bastante aristocrático – seu marido é dono de uma importante mina de carvão – seu cotidiano também é retratado como uma espécie de prisão entediante, desprovida de qualquer vitalidade. Além disso, a impotência provocada pela situação física agravou bastante o temperamento de seu marido, deixando-a profundamente isolada dentro de sua casa.

No entanto, um golpe do acaso provoca uma reviravolta na vida de Constance. Num dia, enquanto passeava pelos campos da sua propriedade, ela encontrou um guarda-caça, um homem rústico e pouco sociável, vivendo numa cabana quase abandonada. Rapidamente nasce nela um desejo imenso de rever aquele homem completamente diferente dos modos burgueses no qual ela estava familiarizada. Este desejo ganha cada vez mais força, contagiando também ao guarda-caça. Logo, eles se tornam amantes.

Ao contrário de Emma Bovary, porém, ela vivencia uma experiência absolutamente poderosa nos braços de seu amante, transformando sua maneira de estar no mundo. Há uma sinceridade despida dos modos disciplinados, tipicamente burguês, no relacionamento dos dois, algo bastante diverso daquilo que Bovary consegue experimentar com seus amantes. Esta clara subversão do sentido do adultério, num caso é uma experiência tão oca de sentido quanto o próprio matrimônio, noutro é repleta de todo sentido que nele falta, é muito importante, e merece algumas palavras.

A obra de Flaubert e de Lawrence guardam cerca de 70 anos de distância. Um espaço não muito largo. O romance do autor francês foi escrito e publicado em meados da década de 1850, enquanto que o trabalho do escrito inglês fora publicado em meados de 1920. O que interessa destacar é que são pontos diversos de uma unidade histórica maior, qual seja, a formação da sociedade burguesa industrial.

É neste momento que ganha força um novo ethos estruturante das subjetividades: a individualidade livre e soberana de cada um. Em outros termos, é aquele ideal do homem que se faz por seus próprios méritos, que guarda dentro de si uma entidade poderosa, um eu interior, absolutamente particular, marcado por uma personalidade, por gostos, afetos, modos e paixões.

É a partir desta idéia sui generis que surgem outras igualmente importantes, entre as quais o amor romântico, uma idéia que ainda nos é muito familiar. É a crença na autenticidade dos sentimentos amorosos como a base de todo relacionamento. Um burguês livre e independente nunca pode aceitar um casamento arranjado, no qual não existe um amor verdadeiro e sincero, baseado na plena harmonia dos sentimentos do casal. Esta idéia esparramou-se com muita força no imaginário social, se convertendo no grande motivo de todas as nossas narrativas afetivas.

O que vemos nos textos de Flaubert e Lawrence, que permanecem como motivo central das duas adaptações fílmicas, é uma espécie de crítica dos limites deste ethos burguês. Eles apontam para a impossibilidade de realização plena dessa liberdade individual dentro da própria sociedade burguesa. É como se esta fosse um espaço corrompido, no qual os indivíduos são forçados a viver uma existência limitada e inautêntica, cheia de convenções sociais e regras, as quais apenas podam as potencialidades de cada sujeito individual.

Assim, Emma Bovary aparece como o grande arquétipo deste sujeito sofredor, incapaz de realizar suas aspirações, marcado por uma fissura entre suas ações exteriores e seus desejos interiores. Esta fissura é a raiz de um sentimento de deslocamento que provoca grande sofrimento. Se há um espaço no mundo burguês para o livre desenvolvimento das potencialidades desta subjetividade, Emma não foi capaz de encontrá-lo. Essa é a sua grande tragédia. Seu final medonho reforça a força desse argumento: a sociedade burguesa exige apenas personalidades apagadas, aquelas que brilham demais serão postas à margem.

Esta dimensão trágica apresenta uma grande afinidade com o momento em que foi elaborado o texto de Flaubert, no momento de apogeu da sociedade burguesa, quando todos os ventos revolucionários pareciam distantes, longe das Guerras Napoleônicas, da Primavera dos Povos ou da Comuna de Paris. Dessa maneira, era pouco crível imaginar um horizonte no qual seria forjada uma nova sociedade, esta sim capaz de garantir uma harmonia entre o eu interior e o mundo exterior.

Já a obra de Lawrence foi elaborada numa época muito distinta. Escrita logo após a Grande Guerra, no qual houve o primeiro abalo significativo deste ethos, deixando marcas profundas na cultura ocidental. Estas marcas fazem eco na história de Constance.

Ela também sentia vivamente o descompasso entre seu mundo íntimo e o exterior, porém, ao contrário de Emma, consegue encontrar um refúgio capaz de restaurar sua autenticidade perdida. É o caminho do desejo, da descoberta e da experimentação de seu corpo e do outro. O adultério é investido de uma força transgressora muito grande, que não existe no romance de Flaubert. É ele que permite a reintrodução de uma espécie de vitalidade perdida, uma vitalidade indisciplinada, não domesticada pela vida burguesa.

Vale mencionar uma diferença importante nos adultérios das duas mulheres. Enquanto Emma mantém relacionamentos apenas com indivíduos de sua própria classe social, Constance se envolve com um homem totalmente diferente, proveniente das classes populares, desprovido de uma formação burguesa. Esta diferença mostra bem as diferentes possibilidades do discurso nas duas obras. O escândalo do adultério ganha um desdobramento importante, se tornando também um escândalo classista.

Nesse sentido, os dois filmes recuperam muito bem o espírito das obras literárias. Há uma clara diferença quando comparamos as cenas dos amantes nos dois filmes. Enquanto em Madame Bovary há sempre um distanciamento; um olhar meio oblíquo ao sexo, em Lady Chatterley o erotismo ganha visibilidade e predominância. Estas cenas emanam a paixão libertadora dos personagens, aquelas revelam apenas a impossibilidade de negação da ordem burguesa, ainda inconteste. Poderia tecer comentários similares a respeito das atuações das duas protagonistas: Emma, interpretada por Isabelle Huppert, tem um ar meio maquinal, cheia de emoções contidas; já Constance, interpretada por Marina Hands, vai progressivamente ganhando um ar exuberante, alegre, vivo.

Talvez seja a cena final dos dois filmes que evidenciem com mais clareza a diferença fundamental da representação do adultério nas duas obras. Enquanto Emma Bovary acaba agonizando na cama, numa cena de extrema morbidez, numa espécie de punição de seus atos desvairados, Constance termina se despedindo de seu amante, mas uma despedida sem mágoas ou comiseração. É um movimento de libertação do sentido trágico do adultério, que perde seu significado moral, tornando-se apenas uma experiência repleta de vitalidade e energia.

Por fim, este movimento permite um deslocamento do problema da cisão entre o eu interior e o mundo das aparências. Diferentemente de Emma Bovary, a protagonista de Lady Chatterley não precisa mais existir de maneira cindida, sempre esperando a realização de um amor romântico pleno de sentido. A própria concretude da experiência erótica é que ganha singularidade, tornando desnecessário o retorno para um eu interior prévio e soberano. É como se a potência dessa experiência permitisse a formação de um novo eu, muito diverso daquele ethos burguês.

VEr: ensaiosababelados.blogspot.com

"The Matrix" - Movie Review - Resenha crítica para estudo - 1ºA2 e 1ºA3 - manhã



The Matrix - Movie review



"It's impossible to tell you what "The Matrix" is. You have see it." This is what Laurence Fishburne says. Fishburne plays Morpheus in this sci-fi thriller. But he is not alone.
Keanu Reeves plays Neo, a computer hacker who discovers that the world around him is a computer simulation called Matrix. He learns this from Morpheus (Laurence Fishburne), who also tells him that the Matrix uses humans as fuel in their quest for total domination. Morpheus thinks Neo is the one who can destroy this artificial world. Neo doubts it, but in his adventures with Morpheus and the group of rebels, he starts to believe it an is ready to destroy the Matrix.
The movie is full of mind-blowing special effects. People can dodge bullets and walk on walls. The actors had to go through four months of physical training before making the movie. But if you think they didn't enjoy those months, you're wrong. All of them really appreciated the training before the movie. And they also enjoyed the training that went on during the sooting.



Critics usually don't consider Keanu Reeves a very good actor. But in "The Matrix", he gives a great performance. He looks confused in the firs part of the movie and cool in the second half. Just Perfect. Fishburne is calm and thinks clearly: the perfect leader for the rebels. The audience loves them. Carrie-Anne Moss, who plays Trinity, has no problems in this movie full of male characters.
Directed by Andy and Larry Wachowski, "The Matrix" is one of the best movies ever...

Vocabulary

bullet: bala usada em arma de fogo
character: personagem
to dodge: desviar-se
to doubt: duvidar
fuel: combustível
mind-blowing: super excitante
outstanding: excelente
quest: busca
shooting: filmagem

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

2ºA3 - Último Seminário / 2010 - Orientações e Tarefas - 22/10

1) Reformular plataformas dos blogs com os novos temas:
*"O amor e a mulher na sociedade Realista/Naturalista a partir das obras...(definir quais) - LÍDER: GIZELLE

*O negro, o imigrante e a sociedade Realista/Naturalista a partir das obras... (definir quais) - LÍDER - LEILANE

*Contrapontos Parnasiano-Simbolistas
LÍDER - ANNA CAROLINA

2)Todos deverão iniciar as pesquisas e a produção do trabalho escrito. As partes serão postadas nos blogs para correção, seguindo as orientações dadas aqui e em sala, na medida em que forem sendo produzidas. Essas orientações iniciais valem para os três grupos.
A segunda tarefa é:
-Elaborar e postar resumos indicativos dos textos:
a) da apostila distribuída em sala, sobre Realismo/Naturalismo no Brasil, na Europa e na Rússia;
b) das p. 237 a 239, do livro-didático (Do texto ao contexto realista).
.p. 259 a 269 - Realismo em Portugal
.p. 281 a 290 - Realismo no Brasil
.p. 304 a 309 - O Parnasianismo no Brasil
.p.310 a 317 - Diálogos com o Realismo e o Naturalismo
.p.356 a 361 - O Simbolismo
Não se assustem, porque essas páginas são cheias de imagens e exercícios e os resumos serão feitos, obviamente, apenas da teoria.

OBS:
FAÇAM TEXTOS ORIGINAIS, seguindo os estudos sobre estrutura dos gêneros "Resumo/Resenha"(aula da Karolina, lembram??)
Não tentem copiar da internet, porque... Bom... digamos que eu vou saber.
TODOS devem participar da elaboração dos resumos, FICANDO SOMENTE A RESPONSABILIDADE DA POSTAGEM PARA OS REDATORES. Todos têm de conhecer a teoria Realista antes de analisar os livros. Sugiro que façam isso juntos, em reunião ou mesmo no acompanhamento, mas TENTEM PRATICAR AS TÉCNICAS APRENDIDAS, tanto de escrita quanto de apresentação.

3) Os grupos que estudarão a prosa realista (Gizelle e Leilane) devem escolher as obras básicas até 01/11, impreterivelmente, e postar resumo crítico das obras, até 03/11. Se tiverem dúvidas, ver p. 362 do livro, antes de postar.

4)Para o grupo da poesia (Anna Carolina), os autores centrais do Parnasianismo brasileiro são: Olavo Bilac, Raimundo Correa e Alberto de Oliveira, a chamada Tríade Parnasiana (é importantíssimo analisar as influências européias, é claro). No Simbolismo os nomes são: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens.

Antes dos roteiros, vamos aos resumos, por favor, e em ritmo de fim de ano!
Bom trabalho!!






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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O vermelho e o Negro - Stendhal- Resumo

A obra é o retrato de uma época e de uma sociedade, que conta a história de Julien Sorel, um jovem simples, cujo pai era em rude carpinteiro.Julien se dedica ao estudo das Escrituras Sagradas e ao latim, com o auxilio de um velho Cura. Em face de seus conhecimentos, o jovem é levado para ministrar aulas aos filhos do prefeito de Vérriers, o senhor Rênal de La Monde. Lá, Julien conhece a sra. Le Monde, esposa do prefeito, e ambos apaixonam-se ardentemente.A sra La Monde é uma discreta e aristocrática esposa e mãe devotada, cansada da rotina e da indiferença do marido político, apaixona-se pelo envolvente Julien. O jovem ambicioso e com aspirações ao clero, tem como ídolo Napoleão Bonaparte, sua ascenção e seus feitos históricos. Movido pela ambição, Julien se muda para Paris, onde passa a conviver com a aristocracia e o alto clero. A hipocrisia social, a astúcia política e o poder do clero são criticados e colocados à luz da verdade na obra de Sthendal.Em Paris, Julien apaixona-se por Mathilde, filha de um Marquês do qual ele é secretário. Mas a convivência com a aristocracia e com uma sociedade moralmente decadente, lega a Julien o triste fim de ser condenado à morte, por fatos que ele presencia.Muito se polemiza sobre o paradoxo entre o vermelho e o negro, título da obra, o contrapondo traduz a sobriedade e moralidade aparente de uma sociedade moralmente em decadência, onde os instintos sobrepõe a falsa aristocracia.

Anna Karenina - Resumo (Maria Escrevinhadora)

ANNA KARENINA

Leon Tolstói

“Minha é a vingança e a recompensa” Deuteronômio 32:35


O magnífico romance do grande escritor Leon Tolstoi tem por cenário a Rússia czarista onde a mulher é inserida numa sociedade hipócrita, decadente e dominada por grandes senhores de terras.

Até conhecer o homem que mudaria radicalmente o seu modo de agir, Anna partilha com o marido de uma família aparentemente sólida, sequer desconfia que a vida não se resume apenas às obrigações impostas pelo marido que a exibe nos salões como objeto precioso.

Tudo acontece quando vai a Moscou a fim de tentar salvar o casamento de seu irmão que estava em crise. Consegue, entretanto apaixona-se por um aristocrático militar, por ele abandona o marido e o filho pequeno. Dominada pela intensa paixão esquece as obrigações e viaja com o seu amado para o exterior; o remorso, a saudade do filho devagar destroem a felicidade que ela imaginava encontrar nos braços de seu amante. Devagar a paixão vai se diluindo, Anna percebe que é impossível voltar atrás, entra em desespero, deixa o causador de sua desgraça e atira-se embaixo de um trem.

O livro prossegue com outro personagem, um jovem proprietário de terras rurais que se debate entre conflitos de classe com os lavradores e problemas existenciais, que passam a segundo plano quando ele se apaixona por uma jovem simpática e cheia de vida, que se torna a sua esposa. Apesar de haver encontrado a felicidade ao lado de sua querida Kitty, Lievin mergulha de novo nos problemas existenciais, até conhecer um velho mujique que ensina-o a procurar confiança e Fé em Deus para cuidar da saúde de sua amada esposa. Lievin descobre as respostas para os seus questionamentos, torna-se confiante e vai para os braços de Kitty que espera um filho seu.

Resumos - Os Irmãos Karamazov -

Dostoievsky – foi um escritor russo, considerado um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos.[3] É tido como o fundador do existencialismo, mais frequentemente por Notas do Subterrâneo, descrito por Walter Kaufmann como a "melhor proposta para existencialismo já escrita."[4]

A obra dostoievskiana explora a autodestruição, a humilhação e o assassinato, além de analisar estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio: seus escritos são chamados por isso de "romances de ideias", pela retratação filosófica e atemporal dessas situações.[5] O modernismo literário e várias escolas da teologia e psicologia foram influenciadas por suas ideias.[5]

Dostoiévski logrou atingir certo sucesso com seu primeiro romance, Pobre Gente, que foi imediatamente muito elogiado pelo poeta Aleksandr Nekrassov e por um dos mais importantes críticos da primeira metade do século XIX, Vladimir Belinski. Porém, o escritor não conseguiu repetir o sucesso até o retorno à Sibéria, quando escreveu o semi-biográfico Recordações da Casa dos Mortos, sobre a prisão que sofrera. Posteriormente sua fama aumentaria, principalmente graças a Crime e Castigo.

Seu último romance, Os Irmãos Karamazov, foi considerado por Sigmund Freud como o melhor romance já escrito.[6] Segundo o biógrafo Nicholas Berdiaiev, a obra dostoievskiana vem atingindo grande popularidade no Brasil por causa de "[…][suas] características muito próximas do brasileiro", e salienta que "[a obra de Fiódor] é marcada pelo anticapitalismo, por uma reação ao capitalismo selvagem, algo que parece tocar o leitor brasileiro hoje."[7] A obra de Dostoiévski exerce uma grande influência no romance moderno, legando a ele um estilo caótico, desordenado e que apresenta uma realidade alucinada.

Resumo - Os Irmãos Karamazov
Rússia, século XIX. Um palco de intensos debates e conflitos sociais. O niilismo e o ateísmo são os principais elementos responsáveis pela degeneração familiar dos Karamazov, culminando na tragédia de um parricídio. O crime ocorrera há trinta anos. A vítima do crime, Fiódor Pávlovitch Karamazov, conhecido como "fazendeiro", apesar de mal freqüentar a propriedade. Um burguês mau, devasso, egoísta e pobre de espírito, que fora casado duas vezes e tivera três filhos: Dmítri Fiódorovich Karamazov, da primeira esposa, e Ivã Karamazov e Alieksiéi Karamazov, da segunda. Além da suspeita de um quarto filho, Smierdiákov, um criado imbecil que sofria de epilepsia, mas que não era tão imbecil, já que conhecia o esconderijo na casa, onde o velho Karamazov guardava o dinheiro.

Alieksiéi Karamazov, o filho mais jovem, deixou em dado momento o noviciado nas atividades monásticas, aconselhado por seu mestre espiritual, Zósima, para "voltar ao mundo" e, depois, decidir que caminho seguiria. Jovem, equilibrado e justo, agiu como o fiel da balança da família, apaziguando os ânimos e animando os irmãos, que viviam à beira da autodestruição. Seu irmão, Ivã Karamazov, era o mais viajado e inteligente, o niilista que exercia influência controladora sobre as pessoas, especialmente sobre o criado Smierdiákov. Irônico, corrosivo, era um debatedor de problemas sociais e religião, o autor da célebre frase: "(...) Se Deus não existe, então tudo é permitido (...)". Um imoral que tinha seus mistérios e vivia às expensas do pai, sem manter bom relacionamento com ele. Por sua vez, Dmitri Fiódorovich Karamazov, ou apenas Mítia, o meio-irmão, é instável, confuso, ora pende à bondade, ora à maldade. Perdulário, é o principal suspeito da morte do pai, justamente por disputar com ele o amor de uma mulher, além de também passar por problemas financeiros. É acusado, preso e julgado por um júri popular, que o considera culpado pelo crime de morte premeditada para roubar. Sabidamente, o culpaldo era Ivã, que tivera a idéia e instigara Smierdiákov a pô-la em prática, mas Smierdiákov estava morto e tudo conspirava contra Mítia.
Cobiça, exploração, deslealdade e mentira, são outros temas do enredo desse romance monumental, onde a intensa carga psicológica constitui não apenas o retrato de uma época conflitante, mas o retrato de várias épocas. Um romance atemporal, onde atos de maldade ecoam junto a atos de bondade.
Ao final, num discurso num velório, Alieksiéi Karamazov, o quase-monge diz: "(...) não temais a vida! Ela é tão bela quando se praticam o bem e a verdade! (...)"

Autores referenciais / Realismo/Naturalismo

Brasil: Machado de Assis
Aluísio Azevedo
Raul Pompéia
Rodolfo Teófilo; Inglês de Sousa; Júlio Ribeiro; Adolfo Caminha

Portugual

Eça de Queirós
Antero de Quental

Espanha

Juan Valera
José María de Pereda
Leopoldo Alas "Clarín"
Benito Pérez Galdós
Emília Pardo Bazán
Vicente Blasco Ibáñes

França

Honoré de Balzac
Gustave Flaubert
Emile Zola
Stendhal

Inglaterra

Charles Dickens
Thomas Hardy
Emile Bronte
Charlotte Bronte
Oscar Wilde
Joseph Conrad
Lewis Carrol
Roberth Louis Stevenson
Arthur Conan Doyle

Alemanha

Christian Friedrich Hebbel
Otto Ludwig
Jeremias Gotthel
Gottfried Keller
Conrad Ferdinand Meyer
Gustav Freytag
Theodor Strom
Wilhelm Raabe
Theodor Fontane

(Fonte: www.udoklinger.de)

Rússia

Leon Tolstoi
Dostoievski

Realismo / Naturalismo - Ler com atenção

Letras&Letras

Escolas literárias

Realismo - Naturalismo

Introdução
Em 1857, no mesmo ano em que no Brasil surgia O guarani, de José de Alencar, na França foi publicado Madame Bovary, de Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance realista da literatura universal. Em 1867, Émile Zola publica Thérèse Raquin, inaugurando o romance naturalista.

Tem início, assim, uma nova vertente no campo das artes, genericamente denominada Realismo, voltada para a análise da realidade social, em nítida oposição à arte romântica, de gosto burguês. Na literatura, mais especificamente na prosa, percebem-se duas tendências: o romance realista e o romance naturalista.

Limites entre Realismo e Naturalismo

É muito comum o emprego dos termos Realismo e Naturalismo associados. Algumas vezes, são termos sinônimos; outras vezes, aparecem como duas estéticas literárias muito próximas uma da outra. No entanto, existe uma fronteira entre uma coisa e outra: é possível perceber algumas diferenças entre a prosa realista e a naturalista, apesar do grande número de pontos em comum. Alguns preferem ver o Naturalismo como uma espécie de prolongamento mais forte do Realismo. Sob esse ponto de vista, o Naturalismo seria um Realismo exacerbado. Seria uma forma mais aprofundada de encarar o homem. Os naturalistas sempre estariam vendo o lado patológico do homem, o seu envolvimento com um destino que ele não consegue modificar; as situações de desequilíbrio muito fortes; o homem que se comporta como um animal, obedecendo a instintos; o homem condicionado ao meio em que vive, subjugado pelo fator da hereditariedade física e patológica, que determina o comportamento dos personagens

O Realismo
O Realismo é um movimento literário que surgiu na Europa, na segunda metade do século XIX, influenciado pelas transformações que ali se operavam no âmbito econômico, político, social e científico.

Economicamente, vivia-se a segunda fase da Revolução Industrial, período marcado pelo clima de euforia e progresso material que a burguesia industrial experimentava em virtude das inúmeras invenções Possibilitadas pelas descobertas científicas e tecnológicas.

Apesar dos benefícios trazidos à burguesia, a condição social do proletariado era cada vez pior. Motivados tanto pelas idéias do socialismo utópico, principalmente as de Proudhon e Robert Owen, quanto pelas idéias do socialismo científico, defendidas por Karl Marx e Friedrich Engels, os operários procuram organizar-se politicamente. Fundam então associações trabalhistas e passam a agir melhores condições de trabalho e de vida.

No âmbito científico e cultural, ocorre uma verdadeira efervescência de idéias considerada por alguns como uma segunda etapa do Iluminismo, do século XVIII. Dentre essas idéias, surgidas como conseqüência do aparecimento de várias correntes científicas e filosóficas, têm destaque:

a.. positivismo, de Augusto Comte. para o qual o único conhecimento válido é o conhecimento positivo, ou seja, provindo das ciências;
a.. determinismo, de Hippolyte Taine, que defende que o comportamento humano é determinado por três fatores: o meio, a raça e o momento histórico;
a.. a lei da seleção natural, de Charles Darwin, segundo a qual a natureza ou o meio selecionam entre os seres vivos as variações que estão destinadas a sobreviver e a perpetuar-se, sendo eliminados os mais fracos.


Enquanto no domínio da Física, da Química, da Biologia e da Medicina ocorrem avanços significativos, são lançados os fundamentos de três novas disciplinas: a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia.

Os escritores, diante desse quadro de mudança de idéias e da sociedade, sentem a necessidade de criar uma literatura sintonizada com a nova realidade, capaz de abordá-la de modo mais objetivo e realista do que até então vinha fazendo o Romantismo.

As descobertas científicas, as idéias de reformas políticas e de revolução social exigiam dos escritores, por um lado, uma literatura de ação, comprometida com a crítica e a reforma da sociedade, e de outro, uma abordagem mais profunda e completa do ser humano, visto agora à luz dos conhecimentos das correntes científico-filosóficas da época.

Aparece então o Realismo, que procura, na literatura, atender às necessidades impostas pelo novo contexto histórico-cultural. Suas atitudes mais freqüentes são o combate a toda forma romântica e idealizada de ver a realidade; a crítica à sociedade burguesa e à falsidade de seus valores e instituições (Estado, Igreja, casamento, família); o embasamento no materialismo, o emprego de idéias científicas; a introspeção psicológica das personagens; as descrições objetivas e minuciosas; a lentidão na narrativa; a universalização de conceitos.

Ao lado do Realismo, surgem ainda as correntes literárias denominadas Naturalismo e Parnasianismo, de pequena penetração em Portugal. A primeira, que consiste na verdade em uma forma extremada de Realismo, procura "provar" com romances de tese as teorias científicas da época, particularmente o determinismo. O Parnasianismo por sua vez é uma corrente que combate os exageros de sentimento e de imaginação do Romantismo e tenta resgatar certos princípios clássicos de procedimento, como a busca do equilíbrio, da perfeição formal e o emprego da razão e da objetividade.

Os três movimentos tiveram ciclo na França, com a publicação do romance realista Madame Bovary (l857), de Gustave Flaubert; do romance naturalista Thérèse Raquin, de Émile Zola (l867), e das antologias parnasianas Parnasse contemporain (a partir de 1866).

O Realismo no Brasil

O Realismo no Brasil tem como marco a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881.

A passagem do Romantismo para o Realismo acompanha um período de muitas mudanças na história econômica, política e social brasileira. O Brasil da década de 80, quando se instala o novo movimento literário, não é mais o mesmo de 1850, época em que a segunda geração romântica dividia seus versos entre o amor e a morte, e as "moreninhas" circulavam pelos salões.

O Realismo vai encontrar terreno adubado para florescer, depois de o país ter passado, ao longo de quarenta anos, por fatos importantes que foram alterando aos poucos sua feição atrasada e tacanha. Como exemplo, a Guerra do Paraguai (1864-1870), o crescimento da campanha abolicionista, o enfraquecimento do governo de D. Pedro II, a intensificação das idéias republicanas, a força da economia agrária, que concentrava a renda nas mãos de fazendeiros de açúcar, primeiro, e de café, depois.

A década de 80 será muito agitada: as campanhas abolicionistas e republicanas andam juntas, em comícios, movimentos e passeatas, na maioria de estudantes e intelectuais. A escravidão e o Império caem quase ao mesmo tempo: em 1888 veio a Abolição; em 1889 Deodoro da Fonseca proclamou a República. Esses dois fatos criaram uma nova realidade, ao eliminar o trabalho servil e introduzir o princípio do voto na eleição dos governos, constituindo um índice de que se iniciava o processo de modernização da economia e política nacionais.

Paralelamente, dinamiza-se a vida social e cultural (principalmente no Rio de Janeiro), como sempre soprada por ventos europeus: liberalismo, socialismo, positivismo, cientificismo, etc. Idéias já consolidadas lá fora e importadas por nós, no mais das vezes sem a necessária adaptação. Numa sociedade agrária, escravocrata e preconceituosa, sem indústrias, sem classe operaria, elas surgiam deslocadas, fora de lugar.

A literatura realista e naturalista brasileira passa a refletir essas idéias, no interior da realidade específica do nosso país, através da pena de Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Adolfo Caminha; Olavo Bilac brilha com a poesia parnasiana; Raul Pompéia ensaia sua prosa intimista.

Mudava a literatura porque mudava o país. Aumenta o número de estradas de ferro, incrementa-se o transporte urbano, surge a iluminação elétrica e o cinema. Nas cidades, aumentam a classe comercial, o funcionalismo, os militares e os trabalhadores livres, já em grande parte imigrantes. Nas ruas ainda estreitas e sujas proliferam os salões elegantes, as confeitarias e as lojas que copiavam a moda de Paris.

O Naturalismo

Já sabemos que Realismo e Naturalismo têm, entre si, semelhanças e diferenças. Se o primeiro procura retratar o homem interagindo no seu meio social, o segundo vai mais longe: pretende mostrar o homem como produto de um conjunto de forças "naturais", instintivas, que, em determinado meio, raça e momento, pode gerar comportamentos e situações específicas.

Nas obras de alguns escritores realistas podemos distinguir certas características que definem uma tendência chamada Naturalismo.

O Naturalismo enfatiza o aspecto materialista da existência humana. Para os escritores naturalistas, influenciados pelas teorias da ciências experimentais da época, o homem era um simples produto biológico cujo comportamento resultava da pressão do ambiente social e da hereditariedade psicofisiológica. Nesse sentido, dadas certas circunstâncias, o homem teria as mesma reações, instintivas e incontroláveis. Caberia a escritor, portanto, armar em sua obra uma certa situação experimental e agir como um cientista em seu laboratório, descrevendo as reações sem nenhuma interferência de ordem pessoal ou moral.

No romance experimental naturalista, o indivíduo é mero produto da hereditariedade. Ao lado desta, o ambiente em que vive, e sobre o qual também age, determina seu comportamento pessoal. Assim, predomina o elemento fisiológico, natural, instintivo: erotismo, agressividade e violência são os componentes básicos da personalidade humana, que, privada do seu arbítrio, vive à mercê de forças incontroláveis.

Desse modo, o Naturalismo atribui a um destino inescapável, de origem fisiológica, aquilo que, na verdade, é produto do sistema econômico-social: a retificação do homem, ou seja, a sua transformação em coisa (do latim res = coisa).

Para dar vida a toda essa teoria, os autores colocam-se como narradores oniscientes, impassíveis, podendo ver tudo por todos os ângulos. As descrições são precisas e minuciosas, frias e fidelíssimas aos aspectos exteriores. As personagens são vistas de fora para dentro, como casos a estudar: não há aprofundamento psicológico; o que interessa são as ações exteriores, e não os meandros da consciência à maneira de, por exemplo, Machado de Assis.

O Romance Naturalista

O naturalismo foi cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Sousa e Manuel de Oliveira Paiva. O caso de Raul Pompéia é muito particular, pois em seu romance O Ateneu tanto apresenta características naturalistas como realistas, e mesmo impressionistas.

A narrativa naturalista é marcada pela vigorosa análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando-se o coletivo. Interessa notar que a preocupação com o coletivo já está explicitada no próprio título dos principais romances: O Cortiço, Casa de pensão, O Ateneu. É tradicional a tese de que, em O Cortiço, o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana, mas sim o próprio cortiço.

Por outro lado, o naturalismo apresenta romances experimentais preocupados em formular regras, em conseqüência de seu caráter cientifista. A influência de Darwin se faz sentir na máxima naturalista, que enfatiza a natureza animal do homem (portanto, no embate instinto versus razão, o homem, como todo animal, é dominado num primeiro momento pelas reações instintivas particularmente no comportamento sexual, que a falsa moral burguesa não é capaz de reprimir). Os textos naturalistas acabam por tocar em tema até então proibidos, como o homossexualismo, tanto masculino, como em O Ateneu, quanto feminino, em O Cortiço.

No Brasil, a prosa naturalista foi muito influenciada por Eça de Queirós, basicamente com as obras O crime do Padre Amaro e O primo Basílio. Em 1881 surge o romance considerado o marco inicial do Naturalismo brasileiro: O mulato, de Aluísio de Azevedo.

Pertencem também ao Naturalismo brasileiro, entre outros, O missionário, de Inglês de Souza, e A carne, de Júlio Ribeiro, ambos publicados em 1888. Adolfo Caminha publicou A normalista (1893) e O bom crioulo (1896), considerados boas realizações naturalistas.

Características do Realismo-Naturalismo

Compromisso com a realidade

O Realismo-Naturalismo é contra o tradicionalismo romântico. Trata-se de uma arte engajada: ela tem compromisso com o seu momento presente e com a observação do mundo objetivo e exato.

Presença do cotidiano

Os escritores realistas-naturalistas consideram possível representar artisticamente os problemas concretos de seu tempo, sem preconceito ou convenção. E renovaram a arte ao focalizarem o cotidiano, desprezado pelas correntes estéticas anteriores. Daí que os personagens de romances realistas-naturalistas estejam muito próximos das pessoas comuns, com seus problemas do dia-a-dia, com suas vidas medianas, cujas atitudes devem ter sempre explicações lógicas ou científicas. A linguagem é outra preocupação importante: ela deve se aproximar do texto informativo, ser simples, utilizar-se de imagens denotativas, e as construções sintáticas devem obedecer à ordem direta.

Personagens tipificados

Os personagens de romances realistas-naturalistas são retirados da vida diária e são sempre representativos de uma categoria - seja a um empregado, seja um patrão; seja um proprietário, seja um subalterno; seja um senhor, seja um escravo, e daí por diante. Os personagens típicos permitem estabelecer relações críticas entre o texto e a realidade histórica em que ele se insere: isto é, embora os personagens sejam seres ficcionais, individuais, passam a representar comportamentos e a ter reações típicas de uma determinada realidade.

Preferência pelo presente

Geralmente os escritores realistas-naturalistas deram preferência ao momento presente: as narrativas estavam ambientadas num tempo contemporâneo ao do escritor. Com isso, a crítica social ficaria mais próxima e mais concreta. Nesse sentido, a literatura ganha um papel de denunciadora do que havia de mau na sociedade. Outro aspecto dessa preferência pelo momento presente é o detalhismo com que é enfocada a realidade, fato explicável pela proximidade.

Preferência pela narração

Ao contrário dos românticos, que privilegiaram a descrição, os realistas-naturalistas deram ênfase à narração do fato: o que acontece e por que acontece são as preocupações desses escritores.

Anticlericais, antimonárquicos, antiburgueses

Os realistas-naturalistas são marcadamente contra a Igreja, que apontam como defensora de ideologias ultrapassadas, como, por exemplo, a monarquia. Também criticam acirradamente a burguesia, que encarna o status romântico em geral

O Momento Histórico e as características do período Realista foram muito semelhantes em quase toda a Europa. Na França, país onde nasceu esse movimento, os principais autores foram Gustave Flaubert, Balzac e Emile Zola. Já na Inglaterra os destaques foram Willian Thackeray e George Eliot. A grande surpresa desse período ficou por conta do Realismo Russo. Isso ocorreu porque até esse momento a Russia não ocupava um lugar de destaque no cenário literário, porém, com o advento do Realismo essa situação foi totalmente invertida. Naquele período a Russia vivia uma das piores crises econômicas de toda a sua história. O atraso econômico e cultural do país e as péssimas condições de vida dos camponeses e operários serviram de estímulo para que os autores Realistas Russos, muito influenciados pelo Realismo do resto da Europa, utilizassem a literatura como forma de critica e instrumento de denúncia social. Os autores que mais se destacaram foram: Fiódor Dostoievski e Leon Tolstoi.

Referências bibliográficas

http ://www.mundocultural.com.br/literatura1/realismo/pan_europa.htm

http://www.portalliterario.cjb.net.

http://www.netliteratura.hpg.ig.com.br/index2.htm