Professor por vocação

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Nós...

domingo, 22 de maio de 2011

Atividade avaliativa - todas as turmas

Assista ao vídeo abaixo e reflita com sua família.



O IDEB do Orlando Alves é 4,3 e do Coronel 3.9.
Só a título de informação, se o salário base no RN é 930,00, aqui em Minas, continua sendo 545,00 apesar da greve do ano passado. O sistema de subsídio foi apresentado pelo governo, mas ele é apenas uma armadilha para impedir que a categoria consiga na justiça o piso de 1510,00 a que têm direito.
Muita coisa falta para que nosso índice esteja dentro do aceitável, mas isso depende de muitas coisas além da condição do professor, que não é o único envolvido no processo de ensino aprendizagem. Depois de assistir ao vídeo e considerando tudo que envolve o sistema educacional brasileiro, escreva um texto refletindo sobre o papel do aluno e da família, na busca por uma educação de qualidade. Lembre-se que à família também cabe exigir do sistema que as mudanças aconteçam.

Debateremos os resultados na sala.
bom trabalho e até lá.

sábado, 21 de maio de 2011

Roteiro para interpretação de textos e Textualização dos Discursos

Ok, pessoal!
Eu disse, essa semana´, que pra entender mais profundamente qualquer texto é preciso ficar ligado em alguns detalhes técnicos, que parecem chatos, mas que no fim das contas, são fáceis e aumentam muito o nosso alcance das ideias do autor. Detalhes que a UFV, por exemplo, deixa bem claros na cobrança de suas provas: em relação à reflexão linguística (as relações sintático-semânticas e discursivo-argumentativas presentes) e aos elementos de textualidade (coerência e coesão).

Pra ser bem direta, você deve aprender a reconhecer e a lidar com isso sem ficar assustado com esses nomes chiques, que no fundo, no fundo... só definem as relações entre as palavras e ideias que montam o corpo escrito e compreensível do texto.

Não se esqueça que reconhecer as variedades lingüísticas e os diferentes tipos de registros também. Isso é muito necessário.

Há um roteiro básico pra facilitar o seu trabalho interpretativo, com base nas indicações do CBC e nas provas das Federais (é claro que tudo está ligado porque as Universidades e os colégios federais são órgãos públicos, então nada mais justo do que seguirem as diretrizes que o governo determina para o "ideal" da educação pública quanto ao estudo dos diferentes domínios discursivos), tipo... quando você tiver um texto narrativo ou descritivo à sua frente, o que deve ser observado? Ou quando a estrutura do discurso for predominantemente injuntiva, ou expositiva ou argumentativa... como estamos vendo no Terceirao, e aí?

Bom, pessoal, eu não posso negar que esse estudo é analítico e cheio de detalhes. Mas se você tiver alguma paciência... tipo... paciência de Historiador em arquivo... acho que os textos não terão mais segredo.

Quando for interpretar, logo de cara, observe o contexto de produção, circulação e recepção do texto. Para isso, siga as orientações abaixo:

a) Identifique a situação comunicativa:
- o destinatário previsto a partir do suporte e da variedade linguística (+ culta/- culta) ou estilística (+ formal / - formal); isso, a partir das evidências, marcas, palavras e termos que se apresentam.Lembre-se que, tudo o que vc concluir deve ser provado por algo que esteja no texto.

-Identificar o tempo e o espaço (ambiente, cenário) da produção.

-Identificar o grau de intimidade entre os interlocutores (no caso, quanto de intimidade o autor tem com o leitor-destinatário).

b) Identificar o suporte de circulação (veículo através do qual o texto chega até o leitor: jornal, revista, internet, multimídia, etc) e a localização do texto dentro do suporte (capítulo, artigo integrante de livro, parte da revista, site, etc)

c)Identificar o contexto histórico-situacional do texto. Situá-lo no momento histórico de sua produção a partir de escolhas linguísticas (lexicais ou morfossintáticas) e/ou de referências (sociais, culturais, políticas ou econômicas) ao contexto histórico.

d) Identificar o gênero textual. Reconhecer o gênero de um texto a partir de seu contexto de produção, circulação e recepção.

e) Identificar o domínio discursivo a que o texto pertence(a tipologia textual em questão: narração, descrição, injunção, exposição, argumentação).
- Tente relacionar gênero textual, suporte, variedade linguística e estilística e objetivo comunicativo da interação.

f) Reconhecer o objetivo comunicativo (finalidade ou função sociocomunicativa) do texto. Para que aquele texto foi escrito? O que o autor pretendia, quando o escreveu?

g)Reconhecer as situações sociais de uso do texto / gênero e relacionar o gênero do texto às práticas sociais que o requerem.

h) Identificar as relações entre as variedades linguísticas utilizadas no texto e a situação comunicativa, o contexto de época, o suporte e as situações sociais.

i)Analisar mudanças na imagem dos interlocutores de um textom, em função da substituição de marcas dialetais, níveis de registro, jargão, ou gíria, por outros.

j) Reconhecer, em um texto, marcas da identificação política, religiosa, ideológica ou de interesses econômicos do produtor.

l) Selecionar informações para a produção de um texto sobre temas relacionados.

m)Identifique todas as informações da referência bibliográfica.

n)Quanto à operação de tematização:
- Justificar o título do texto e os subtítulos ou partes.

o)Reconhecer a organização temática do texto, identificando
- a ordem de apresentação das informações;
- o tópico (tema) e os subtópicos discursivos do texto.

p)Reconhecer pelo menos cinco informações explícitas no texto.

q)Apresentar, pelo menos cinco informações implícitas no texto (inferências, conclusões lógicas, fatos, dados, argumentos deduzidos, etc). Use sua capacidade de dedução).

r)Pesquisar sempre outros modelos de textos que falem do mesmo tema e traçar paralelos quanto ao tratamento desse tema pelos diferentes textos pesquisados.


No 3º ano e no 1º de Taparuba, a gente já começou a análise da "Textualização dos discursos". Quando eu escrevi isso no quadro, O Josué foi o primeiro a reproduzir o que todo mundo pensou. Ele disse; "Detestei esse título"

Eu estou acostumada às reclamações inteligentes do Josué, porque ele é um termômetro meio às avessas, mas resolvi que vocês deveriam se aprofundar um pouco, nesses conceitos. Esta é a publicação que eu prometi.

Para os 1º anos(os que ainda não começaram esse estudo) seguem as Textualizações dos discursos Narrativo, Descritivo e de Relato.
O 2º ano deve estudar os discursos Injuntivo e Argumentativo.
O 3º ano, os discursos Expositivo e Argumentativo. Divirtam-se:

8. Textualização do discurso narrativo
• Fases ou etapas:

• exposição ou ancoragem (ambientação
da história, apresentação de
personagens e do estado inicial da ação);

• complicação ou detonador (surgimento
de confl ito ou obstáculo a ser superado);
• clímax (ponto máximo de tensão do
conflito);
• desenlace ou desfecho (resolução do
confl ito ou repouso da ação; pode
conter a avaliação do narrador acerca
dos fatos narrados e, ainda, a moral da
história).
• Estratégias de organização:
- ordenação temporal linear;
- ordenação temporal com retrospecção
(flash-back);
- ordenação temporal com prospecção.
• Coesão verbal:
• valores do presente, dos pretéritos
perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito e
do futuro do pretérito do indicativo.
• Conexão textual:
- marcas lingüísticas e gráficas da articulação
de seqüências narrativas com
seqüências de outros tipos presentes
no texto.

• Textualização de discursos citados ou
relatados: direto; indireto; indireto livre.
• Coesão nominal (referenciação):
- estratégias de introdução temática;
- estratégias de manutenção e retomada
temática.

• Organização lingüística do enunciado
narrativo: recursos semânticos e
morfossintáticos mais característicos e/ou
freqüentes.

Textualização do discurso de relato

• Fases ou etapas do relato noticioso:

• sumário (título, subtítulo e lide): relato
sumariado do acontecimento (quem, o
quê, quando, onde, como, por quê);
• continuação do acontecimento noticiado
no lide: relato com detalhes sobre as
pessoas envolvidas, repercussões, desdobramentos,
comentários.

• Estratégias de organização:

• ordenação temporal linear;
• ordenação temporal com retrospecção
(flash-back);
• ordenação temporal com prospecção.

• Coesão verbal:
• valores do presente, dos pretéritos perfeito,
imperfeito, mais-que-perfeito, do
futuro do presente e do futuro do pretérito
do indicativo.

• Conexão textual:
• marcas lingüísticas e gráfi cas da articulação
de seqüências de relato com seqüências
de outros tipos presentes no texto;
• marcadores textuais da progressão /
segmentação temática: articulações hierárquicas,
temporais e/ou lógicas entre as
fases ou etapas do discurso de relato.

• Textualização de discursos citados ou
relatados:
• direto;
• indireto;
• resumo com citações.

• Coesão nominal:
• estratégias de introdução temática;
• estratégias de manutenção e retomada
temática.

• Organização lingüística do enunciado de
relato: recursos semânticos e morfossintáticos
mais característicos e/ou freqüentes.

10. Textualização do discurso descritivo

• Fases ou etapas:
• introdução do tema por uma forma nominal
ou tema-título no início, no fi m ou
no curso da descrição;
• enumeração de diversos aspectos do
tópico discursivo, com atribuição de propriedades
a cada um deles;

• relacionamento dos elementos descritos
a outros por meio de comparação ou
metáfora.

• Estratégias de organização:
• subdivisão;
• enumeração;
• exemplifi cação;
• analogia;
• comparação ou confronto;
• outras.

• Coesão verbal:
• valores do presente e do pretérito imperfeito,
do pretérito perfeito e do futuro
do indicativo.

• Conexão textual:
• marcas lingüísticas e gráfi cas da articulação
de seqüências descritivas com
seqüências de outros tipos presentes no
texto;
• marcadores textuais da progressão/ segmentação
temática: articulações hierárquicas,
temporais e/ou lógicas entre as
fases ou etapas do discurso descritivo.

• Textualização de discursos citados ou
relatados:
• direto;
• indireto;
• indireto livre.

• Coesão nominal:
• estratégias de introdução temática;
• estratégias de manutenção e retomada
temática.

• Organização lingüística do enunciado
descritivo: recursos semânticos e morfossintáticos
mais característicos e/ou
freqüentes.

Textualização do discurso expositivo

• Fases ou etapas:
• constatação: introdução de um
fenômeno ou fato tomado como
incontestável;
• problematização: colocação de questões
da ordem do porquê ou do como;
• resolução ou explicação: resposta às
questões colocadas;
• conclusão-avaliação: retomada da
constatação inicial

• Estratégias de organização:

• defi nição analítica;
• explicação;
• exemplifi cação;
• analogia;
• comparação ou confronto;
• causa-e-conseqüência;
• outras.

• Coesão verbal:
• valores do presente do indicativo e do
futuro do presente do indicativo;
• correlação com tempos do subjuntivo.

• Conexão textual:
• marcas lingüísticas e gráfi cas da
articulação de seqüências expositivas
com seqüências de outros tipos
presentes no texto;
• marcadores textuais da progressão/
segmentação temática: articulações
hierárquicas, temporais e/ou lógicas
entre as fases ou etapas do discurso
expositivo.

Textualização do discurso argumentativo

• Fases ou etapas:
− proposta: questão polêmica, explícita
ou implícita no texto, diante da qual
o locutor toma uma posição;
− proposição: posicionamento favorável
ou desfavorável do locutor em relação
à proposta, orientador de toda
a argumentação;
− comprovação: apresentação de provas
que sustentam a proposição do
locutor, assegurando a veracidade ou
validade dela e permitindo-lhe chegar
à conclusão;
− conclusão: retomada da proposta e/
ou uma possível decorrência dela.

• Estratégias de organização:

• causa-e-conseqüência;
• comparação ou confronto;
.Concessão restritiva;
− exemplifi cação;
− analogia;
− argumentação de autoridade;

Coesão verbal:
− valores do presente do indicativo e
do futuro do presente do indicativo;
− correlação com tempos do subjuntivo.

• Conexão textual:
− marcas lingüísticas e gráfi cas da articulação
de seqüências argumentativas
com seqüências de outros tipos
presentes no texto;
− marcadores textuais da progressão/
segmentação temática: articulações
hierárquicas, temporais e/ou lógicas
entre as fases ou etapas do discurso
argumentativo.
• Textualização de discursos citados ou
relatados:
− direto;
− indireto;
− paráfrase;
− resumo com citações.
• Coesão nominal:
− estratégias de introdução temática;
− estratégias de manutenção e retomada.

• Organização lingüística do enunciado
argumentativo: recursos semânticos e
morfossintáticos mais característicos e/ou
freqüentes no enunciado argumentativo.

13. Textualização do discurso injuntivo

• Fases ou etapas:
• exposição do macrobjetivo acional:
indicação de um objetivo geral a ser
atingido sob a orientação de um plano
de execução, ou seja, de um conjunto de
comandos;
• apresentação dos comandos:
disposição de um conjunto de ações
(seqüencialmente ordenadas ou não) a
ser executado para que se possa atingir
o macrobjetivo;
• justifi cativa: esclarecimento dos motivos
pelos quais o destinatário deve seguir os
comandos estabelecidos.

• Estratégias de organização:
• plano de execução cronologicamente
ordenada;
• plano de execução não
cronologicamente ordenada.

• Coesão verbal:
• valores do modo imperativo e seus
substitutos (infi nitivo, gerúndio e futuro
de presente).

• Conexão textual:
• marcas lingüísticas e gráfi cas da
articulação do discurso injuntivo com
outros discursos e seqüências do texto;
• marcadores textuais da progressão /
segmentação temática: articulações
hierárquicas, temporais e/ou lógicas
entre as fases ou etapas do discurso
injuntivo.

• Textualização de discursos citados ou
relatados: direto; indireto; resumo com
citação.

• Coesão nominal:
• estratégias de introdução temática;
• estratégias de manutenção e retomada
temática.
• Organização lingüística do enunciado
injuntivo: recursos semânticos e
morfossintáticos mais característicos e/ou
freqüentes.

Imprimam e leiam com muitaaaaaaaa atenção. Na sala a gente conversa melhor.
Até lá.

domingo, 8 de maio de 2011

Intertextualidade... Um primeiro momento

Esta semana, nos 1º anos, a gente vai começar a falar sobre “Intertextualidade”.
É um assunto interessantíssimo, mas que exige inteligência e percepção.

Segundo a prof. Alfredina Nery* os textos conversam entre si e é preciso entender essa conversa.
# Para entender o que é o conceito de "intertextualidade", um exemplo divertido. O jogo do "não confunda": Não confunda "bife à milanesa" com "bife ali na mesa",
# Não confunda focinho de porco com tomada,
# Não confunda "força da opinião pública" com "opinião da força pública".

Como se vê, é possível elaborar um texto novo a partir de um texto já existente, é assim que os textos "conversam" entre si. Mas não é possível entendermos a referência de um texto a outro, se não conhecermos o texto citado. É comum encontrar ecos ou referências de um texto em outro. A essa relação se dá o nome de intertextualidade.

Para entender melhor a palavra, pense em sua estrutura. O sufixo inter, de origem latina, se refere à noção de relação (entre). Logo, intertextualidade é a propriedade de textos se relacionarem.
Intertexualidade na poesia
Veja como Chico Buarque de Holanda, um dos mais importantes compositores brasileiros, utiliza a intertextualidade em uma canção sua. Em "Bom Conselho", ele faz referências a provérbios populares.

Provérbios populares

Canção de Chico Buarque

“Uma boa noite de sono combate os males”

“Quem espera sempre alcança”

“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço"

“Pense, antes de agir”

“Devagar se vai longe”

“Quem semeia vento, colhe tempestade”


Bom Conselho
(Chico Buarque)
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
(Chico Buarque, 1972)

Chico Buarque inverte os provérbios, questionando-os e olhando-os sob outro ângulo, atribuindo-lhes novos sentidos.

Há vários exemplos de intertextualidade na literatura. Veja, a seguir, como Ricardo Azevedo brinca com o famoso poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade.

Quadrilha

Quadrilha da sujeira

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.

(Carlos Drummond de Andrade)


João joga um palitinho de sorvete na
rua de Teresa que joga uma latinha de
refrigerante na rua de Raimundo que
joga um saquinho plástico na rua de
Joaquim que joga uma garrafinha
velha na rua de Lili.
Lili joga um pedacinho de isopor na
rua de João que joga uma embalagenzinha
de não sei o quê na rua de Teresa que
joga um lencinho de papel na rua de
Raimundo que joga uma tampinha de
refrigerante na rua de Joaquim que joga
um papelzinho de bala na rua de J.Pinto
Fernandes que ainda nem tinha
entrado na história.

Ricardo Azevedo (”Você Diz Que Sabe Muito, Borboleta Sabe Mais”, Fundação Cargill)

Enquanto um texto trata do amor não correspondido, por meio da comparação com uma dança (quadrilha), o outro critica o mau hábito de jogar lixo na rua - e mostra como as pessoas prejudicam as outras.

A intertexualidade também é um recurso comumente utilizado pelas crônicas de jornal. Abaixo, veja como José Roberto Torero utiliza uma frase famosa dita por um personagem de Shakespeare. A frase quer dizer, em poucas palavras, que há muita coisa na vida que não compreendemos.

Shakespeare
Deuses do futebol: Urucubaco

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia."


Olímpico leitor, divinal leitora,
há mais coisas entre o céu dos deuses e a terra do futebol do que sonha a nossa vã crônica esportiva.
Determinadas situações do jogo e certas fases pelas quais os times passam não são, como pensam alguns, obra do acaso. Ao contrário, são uma manifestação da vontade de seres superiores, seres que controlam a nossa vida desde o dia em que o Caos gerou a Noite.

(trecho de crônica de José Roberto Torero, Folha de S.Paulo, em17/9/02-pag.D3)

Intertextualidade implícita
Agora, leia o poema a seguir, que aliás, foi uma das questões da prova aberta do vestibular da UFMG, 2010, e veja como ele se parece com um outro tipo de texto...

Receita de herói

Tome-se um homem feito de nada
Como nós em tamanho natural
Embeba-se-lhe a carne
Lentamente
De uma certeza aguda, irracional
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois perto do fim
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim
Serve-se morto.

(Reinaldo Ferreira em "Portos de Passagem" - João Wanderley Geraldi, São Paulo: Martins Fontes, 1991)

Ao falar do como se faz um herói, o poeta usa elementos de uma receita de cozinha. Analise, por exemplo:

# os verbos que indicam ordem (imperativo): "Tome-se", "Embeba-se-lhe", "Agite-se", "toque-se", "Serve-se";
# o advérbio de modo: "lentamente", ou seja, o "modo de fazer", próprio das receitas culinárias;
# em geral, a receita de cozinha termina com a expressão: "Serve-se... (gelado ou frio ou quente etc.). O último verso do poema retoma essa forma da receita, mas o faz de uma maneira realista ou crítica, isto é, um herói "Serve-se morto."

O poema de Reinaldo Ferreira faz uma referência "implícita" às receitas culinárias - a referência não é clara, direta, a nenhuma receita em específico, mas o modo como o texto é construído lembra as tais receitas.

Para terminar, outro exemplo interessante, também de Drummond. Ele fala da "medicalização" do mundo moderno, por meio da criação de palavras que lembram os nomes de diversos remédios...

Receituário Sortido

Calma.
É preciso ter calma no Brasil
calmina
calmarian
calmogen
calmovita.

Que negócio é esse de ansiedade?
Não quero ver ninguém ansioso.
O cordão dos ansiosos enfrentemos:
aspiran!
ansiotex!
ansiex ansiax ansiolax
ansiopax, amigos!


Algumas intertextualidades são famosas e reincidentes nas aulas de literatura. Por isso, eu não vou fazer questão de ser original, e pretendo, como todo mundo, falar do exemplo “clássico” de Renato Russo e de seu “Monte Castelo” absurdamente sensível. É claro que vamos falar de novo dos Engenheiros do Havaí e de Dom Quixote, depois, mas por hora, os meus alunos sabem que precisam ler o cap 10 do livro didático, antes de tudo.
Para servir de exemplo pra quem vai interpretar os sonetos de Camões, Bocage e Gregório nos seminários, eu fiz uma breve análise do soneto que o Renato usou pra compor Monte Castelo, misturando as definições de amor de Camões e de São Paulo, o apóstolos, no cap 13 da célebre carta à Igreja de Corinto. Aquele trecho que fala da caridade...
E o que é a caridade, senão um dos disfarces do amor??

O sonêto 11 de Luiz Vaz de Camões, foi adaptado musicalmente pelo grupo "Legião Urbana". A forma original da música Monte Castelo nos dá uma definição de amor originalmente baseada no soneto e no texto bíblico escrito pelo apóstolo Paulo, na 1ª carta aos Coríntios, cap 13.

Monte Castelo



Legião Urbana
Composição : Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem.
Todos dormem. Todos dormem.
Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
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Quanto à poesia...

Soneto 11
(Luiz Vaz de Camões)
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor

O soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Luís Vaz de Camões, trata de um conceito de amor na concepção neoplatônica, e acentua o dualismo entre o sensível e o inteligível, a matéria e o espírito, o finito e o infinito, o mundo e Deus.
O soneto todo é uma definição poética do amor, no qual Camões tenta elucidar o indefinível e explicar o inexplicável, usando imensos contrastes como caracterização de um “mistério”. Segundo o poeta, o Amor é um tipo de ideal superior, perfeito e único, que não almejamos, mas que sentimos sem pedir, sem querer, sem ter escolha...
Amamos como seres imperfeitos e insignificantes, incapazes de entender a grandeza do sentimento, apresentado em sensações físicas comparadas à emoções espirituais. Existe no poema a incerteza da concretização, que é característica do platonismo (quando um dos pólos ama sozinho, incondicionalmente e sem pedir nada em troca).
A natureza paradoxal do amor fica evidente, e é ressaltada por enunciados antitéticos nos quais a segunda parte de cada verso funciona como complemento da primeira, e enfatiza a aproximação de realidades distintas. O aspecto material, sensível “ferida que dói e não se sente” aproxima-se da substância imaterial “ dor que desatina sem doer”, e assim segue, culminando com a indagação final que se refere à essência contraditória do amor.
Pode-se dizer que a forma do soneto evoca o jogo renascentista típico, e desvenda a arte do autor – centrada na capacidade de pensar profundamente mistérios insondáveis da sensibilidade humana, transformados em atos cotidianos. Isso é Camões.



I Coríntios, 13



“Se eu falasse todas as línguas, as dos homens e as dos anjos, mas não tivesse amor, seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine.

Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas não tivesse amor, nada seria.

Se eu gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres e até me fizesse escravo, para me gloriar, mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria.

O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo.

O amor jamais acabará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá.

Com efeito, o nosso conhecimento é limitado, como também é limitado nosso profetizar. Mas quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito.

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança. Agora nós vemos num espelho, confusamente, mas, então veremos face a face. Agora, conheço apenas em parte, mas, então, conhecerei completamente, como sou conhecido.

Atualmente permanecem estas três: a fé, a esperança, o amor. Mas a maior delas é o amor.”

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Os poemas para os seminários dos 1º Anos

1 - Camões:
a) Amor é fogo que arde sem se ver
b) O dia em que eu nasci moura e pereça
c) Eu cantarei de amor tão docemente
d) Quem diz que Amor é falso ou enganoso
e) Tanto de meu estado me acho incerto
f) Erros meus, má fortuna, amor ardente
g) Enquanto quis Fortuna que tivesse

2 – Bocage:
Lírico:
a) Chorosos versos meus desencontrados
b) Incultas produções da mocidade
c) Fiei-me nos sorrisos da ventura
d) Camões, grande Camões, quão semelhante
e) A frouxidão no amor é uma ofensa
f) Já Bocage não sou... À cova escura
g) Meu ser evaporei na lida insana

Satírico
a) Nariz, nariz e nariz
b) Magro, de olhos azuis, carão moreno
c) Lá quando em mim perder a humanidade

3) Gregório de Matos

Sonetos líricos e satíricos:
a) À Cidade da Bahia
b) Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia
c) Contemplando nas cousas do mundo desde o seu retiro, lhe retira com o
seu apage, como quem a nado escapou da tormenta
d) Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes
e) Aos principais da Bahia chamados os Caramurus
f) A certa personagem desvanecida
g) Pondera agora com mais atenção a formosura de D.Ângela
h) Rompe o poeta com a primeira impaciência querendo declarar-se e
temendo perder por ousado
i) Pergunta-se neste problema qual é o maior, se o bem perdido na posse, ou o
que se perde antes de se lograr? Defende o bem já possuído
j) Namorado, o poeta fala com um arroio
k) A um penhasco vertendo água
l) Aos afetos, e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem

Agora é só procurar os poemas...
Boa sorte aí, galera!!