Professor por vocação

Professor por vocação
Nós...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

PASES / PISM 2011-2013 1ª ETAPA

PASES - UFV- Programa UFV-Língua Portuguesa

O participante deverá demonstrar compreensão de leitura, relacionando-a com a organização dos elementos linguísticos, bem
como habilidade de ordenar e expor idéias. Deverá ainda demonstrar domínio da linguagem padrão – respeitando, quando necessário, os
diferentes registros (formal/informal) da língua. Nesse sentido, a prova de Língua Portuguesa se construirá sob dois eixos estruturantes,
conhecimentos linguísticos e compreensão de textos, conforme os conteúdos programáticos especificados abaixo:

a) CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS – Relação entre oralidade e escrita. Variedades do Português: variantes diatópicas; variantes
diastráticas; variantes diafásicas; variantes diacrônicas. (TEM POSTAGEM AKI MESMO, NO BLOG, a gente já viu tudo isso esse ano e tem exercícios a torto e a direito. ROLA ATÉ LÁ EMBAIXO, LOGO ABAIXO DAS POSTAGENS SOBRE MÚSICA)

Aspectos morfossintáticos:

uso dos processos de formação de palavras no significado dos vocábulos; (VEREMOS EM SETEMBRO)

mecanismos de coesão textual; referenciação; emprego funcional das classes de palavras; (PODEMOS REVER EM AULAS ESPECIAIS)

concordância; regência.(4ºBIMESTRE)

Aspectos semânticos: associação de palavras,
expressões ou estruturas oracionais a outras de sentido
oposto, análogo ou equivalente;(VER CAP 12 DO LIVRO)

compreensão do sentido nas relações morfossintáticas (CLASSES GRAMATICAIS E FUNÇÕES SINTÁTICAS) entre termos, orações e partes do texto.

Emprego dos sinais de pontuação.

b) COMPREENSÃO DE TEXTOS – Serão valorizados o conhecimento dos gêneros discursivos e a capacidade de o participante
compreender adequadamente enunciados da língua. Dessa forma, o aluno será levado a refletir sobre o sentido das palavras,
expressões ou estruturas frasais, bem como sobre o significado global dos períodos, dos parágrafos e do texto.

7.6.2 - Literatura
A prova visa avaliar noções básicas de teoria literária e de história da literatura. O participante deverá ser capaz de interpretar
textos literários, históricos e críticos. Dar-se-á ênfase a questões que permitam avaliar sua capacidade crítica e interpretativa. Poderão ser
abordados temas comparativos entre literatura e outras áreas de conhecimento que façam parte dos conteúdos programáticos do Ensino
Médio.

A) NOÇÕES BÁSICAS DE TEORIA LITERÁRIA: Conceito de literatura. Literatura e sociedade. Literatura e outras artes. Os gêneros literários.(CAPÍTULOS INICIAIS DO LIVRO) Elementos da narrativa: enredo; narrador; tempo; espaço; personagem; tema. Elementos da poesia: verso; estrofe; rima.
Figuras de linguagem como elementos de construção do sentido do texto.(O LIVRO TEM, A GENTE REVÊ)

B) HUMANISMO E O CLASSICISMO PORTUGUÊS: Características estéticas. Características históricas. Características sociais.
Características culturais. Autores: Gil Vicente; Camões.

C) QUINHENTISMO: Literatura informativa. Literatura de viagens. Literatura jesuítica. Características estéticas. Características
históricas. Características sociais. Características culturais.

D) BARROCO: Características estéticas. Características históricas. Características sociais. Características culturais. O Barroco
no Brasil: Padre Antônio Vieira; Gregório de Matos

E) ARCADISMO: Características estéticas. Características históricas. Características sociais. Características culturais. O
Arcadismo no Brasil: Cláudio Manuel da Costa; Tomás Antônio Gonzaga; Silva Alvarenga; Basílio da Gama; Santa Rita
Durão.

LIVROS PARA LEITURA:
1.O fio das missangas – Mia Couto - Ed. Cia das Letras.
2.O pagador de promessas – Dias Gomes – Ed. Bertrand Brasil.
3.Sermões escolhidos – Padre Antônio Vieira – E. Martin Claret.

7.7 - Produção Textual

Consideramos que o aluno de Ensino Fundamental e Médio deve ter como competência fundamental o domínio das práticas sociais de linguagem. Em outras palavras, deve ser capaz de se expressar de maneiras diferentes, conforme as diversificadas cenas
interativas, e de compreender/interpretar os diferentes discursos produzidos na sociedade, seja nas modalidades escrita ou oral tais como cartas, bilhetes, correspondências comerciais, bulas de remédio, “folders”, “outdoors”, “homepages”, “e-mails”, piadas, charges, notícias,resumos, anúncios, dentre outros.
Dessa forma, a prova de Produção Textual no exame de seleção da UFV tem como objetivo avaliar as competências e habilidades do candidato para reconhecer, compreender, analisar e produzir diferentes gêneros discursivos que circulam na sociedade,fundamentalmente os gêneros escritos.
O aluno deverá ser capaz, a partir da(s) proposta(s), de: identificar o assunto, os objetivos e observar a unidade temática e articulação das próprias idéias. Mais especificamente, o aluno será avaliado quanto aos seguintes aspectos: (i) observação das estruturas próprias de diferentes tipos de texto e gêneros; (ii) uso apropriado da linguagem padrão – respeitando, quando necessário, os diferentes
registros (formal/informal); (iii) seleção e tratamento de argumentos e informações; (iv) organização coerente de suas idéias; (v) domínio
dos mecanismos de coesão referencial (tais como pronominalização, substituição lexical, repetição, elipse) e seqüencial (estabelecimento
das relações sintático-semânticas e discursivo-argumentativas).


OBRAS LITERÁRIAS PARA OS PROGRAMAS DE INGRESSO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
PISM I

ATENÇÃO, PESSOAL, a ordem do programa de literatura do PISM não bate com o da escola. A programação deles está alterada em relação ao nosso planejamento, de maneira que, na primeira etapa eles pedem itens que só serão vistos no 3º ano, e vice-versa. Lamento, mas não dá pra atender aos dois programas, com o mesmo planejamento e nas mesmas condições, então eu vou ter que priorizar um dos dois, no caso, o PASES. Não era o que eu keria, e eu vou tentar atender a todos na medida do possível, mas, infelizmente, pra mim... é assoviar ou chupar cana. O que não quer dizer que você não possa fazer as duas provas. Os outros programas batem, inclusive o de estudo da lingua e redação, então, com esforço, eu acho que dá...)

I. Conceitos essenciais e operacionais da leitura do texto literário:
· gêneros literários;
· elementos para leitura da narrativa: o narrador, tempo e espaço;
· especificidades do discurso ficcional: ficção e não-ficção;
· elementos para leitura do poema: o sujeito poético, tempo e espaço;
· especificidades do discurso poético: imagem e ritmo.
II. Tendências na literatura na 2a metade do século XX:
· contistas contemporâneos;
· Poesia concreta, Práxis e poema-processo
· tropicalismo e poesia marginal;
· literatura e engajamento;
· Autores sugeridos: Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector, Ferreira Gullar, Guimarães Rosa,
Rubem Fonseca.
PISM II
I. Conceitos essenciais e operacionais da leitura do texto literário:
· gêneros literários;
· elementos para leitura da narrativa: o narrador, tempo e espaço;
· especificidades do discurso ficcional: ficção e não-ficção;
· elementos para leitura do poema: o sujeito poético, tempo e espaço;
· especificidades do discurso poético: imagem e ritmo.
II. Aspectos da literatura do Romantismo ao Modernismo
· identidade nacional;
· lírica e Modernidade;
· vanguarda;
· regionalismo;
· realismo/naturalismo do XIX e o da década de 30 do século XX
· Autores sugeridos: Castro Alves, Gonçalves Dias, José de Alencar, Machado de Assis, Augusto dos
Anjos, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles,
Fernando Pessoa, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Manuel Bandeira.
PISM III
I. Conceitos essenciais e operacionais da leitura do texto literário:
· gêneros literários;
· elementos para leitura da narrativa: o narrador, tempo e espaço;
· especificidades do discurso ficcional: ficção e não-ficção;
· elementos para leitura do poema: o sujeito poético, tempo e espaço;
· especificidades do discurso poético: imagem e ritmo.
II. Poesia em Língua Portuguesa do século XVI ao século XVIII
· lírica amorosa;
· poesia satírica;
· colonialismo;
· convenção e engajamento no Arcadismo brasileiro.
· Autores sugeridos: Camões, Cláudio Manuel da Costa, Bocage, Gregório de Matos, Tomás
Antônio Gonzaga.

Pra quem vai fazer vestibular, as obras são:
• Helena - Machado de Assis
• Lira dos Vinte Anos - Álvares de Azevedo
• Antologia de Crônicas - Org. Herberto Sales
• O menino do engenho - José Lins do Rego
• Antologia de Contos Brasileiros - Org. Herberto Sales
• Sentimento do mundo - Carlos Drummond de Andrade
• Civilização e Singularidades de uma rapariga loira (contos) - Eça de Queirós
• Incidente em Antares - Érico Veríssimo
• Literatura de Dois Gumes (ensaio) - Antônio Cândido
• O conto da Ilha Desconhecida - José Saramago
• Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto

É bom já ir lendo.
EU TÔ FAZENDO A MINHA PARTE.
VOCÊ TEM FEITO A SUA????

domingo, 21 de agosto de 2011

COMEÇOS DO BRASIL:: A INFLUÊNCIA DAS MULHERES INDÍGENAS NA FORMAÇÃO DA FAMÍLIA E DA IDENTIDADE BRASILEIRA

A mulher e o índio em Casa Grande & Senzala

Por André Cervinskis

(Matéria a ser publicada no Correio das Artes da Paraíba)


Gilberto de Melo Freyre, que, se vivo, teria 106 anos, recebeu diverso títulos internacionais, publicou diversos outros livros (Guia Prático e Sentimental do Recife, Sobrados e Mocambos, Nordeste, Açúcar, entre outros), mas nenhum deles contribuiu tanto para o consagrar como Casa Grande & Senzala.Este livro, escrito em 1933, representou uma nova visão da sociologia brasileira, quando o Brasil passou a ser visto pelos olhos do próprio brasileiro, de todos que compõem o Brasil: negros, brancos e índios. Sendo o primeiro livro do autor, logo o consagrou como “fundador do Brasil em termos culturais”, como diria Darcy Ribeiro, “ como Cervantes fez com a Espanha, Camões com Portugal, Tolstoi com a Rússia, Sartre com a França”.

Nesse artigo, não me deterei numa análise profunda de temas amplamente conhecidos da obra freyriana, como as relações entre senhor e escravo, a influência do clima , da alimentação e mesmo do perfil do colonizador Português. Vou procurar destacar o enfoque que Freyre deu para os mais excluídos dessa sociedade colonial: as mulheres, tanto as senhoras de engenho quanto as negras e indígenas, e os índios. Especialmente do último, por vivermos um período em que tudo que venha esclarecer sobre as nossas origens indígenas, os hábitos e costumes de nossos primeiros ancestrais, interessa de modo particular.

Seu estilo literário de escrever, incomum para os sociólogos, não conseguiu ser bem digerido pelos intelectuais de sua época. Isso porque todo tratado sociológico tinha que seguir uma metodologia rígida, de imparcialidade. Linguagem seca, sem paixão. Freyre, nesse ponto, mereceu diversas repreensões da crítica especializada, que não conseguia captar o porquê de Freyre valorizar termos chulos: Numa obra como a de Gilberto Freyre, porém, sua língua deve ser simples e nossa, não julgo indispensável que seja chula, impura e anedótica, tal como aparece em tantas de suas páginas. É pouco técnico esse linguajar. Pouco científico. Dá ao livro um aspecto literário que seu assunto e as suas graves proporções não comportam. Freyre magistralmente rompe com tal linguagem ao deixar que suas tendências literárias, de bom prosista e até poeta, interferissem na feitura do texto. Várias são as incursões literárias de Freyre que tornam sua obra mais doce de ser lida: “ Terra e homem estavam no estado bruto. Suas condições de cultura não permitiam aos portugueses vantajoso intercurso comercial que reforçasse ou prolongasse o mantido por eles com o Oriente. Nem reis de Cananor nem sobas de Sofala encontraram os descobridores do Brasil com quem tratar ou negociar. Apenas morubixabas. Bugres.” Ele fugia do caráter científico imparcial. Em todos os estudos sobre o Brasil. De fato, nunca negou, mesmo em seu livro, o amor e nacionalismo extremado que tinha pelo seu país.

Vários mitos foram derrubados com o lançamento de Casa Grande & Senzala. O primeiro deles foi quanto à ineficiência da colonização portuguesa para a formação de um país com maior capacidade de desenvolvimento. (como se alguma colonização, mesmo a estadunidense, tivesse o propósito primordial de fundar um novo país na América!). Gilberto Freyre provou que, graças à sua experiência nas colonizações anteriores, como África e Ásia, além das suas características culturais, como o de se reproduzir com facilidade e seu agrupamento, o português foi o povo que se encaixou para a “civilização’ do Brasil. Graças ao contato com povos distantes, indianos, africanos e mouros, estes constituindo a formação da própria identidade nacional portuguesa, o lusitano acostumou-se às agruras da colonização e se desfez de pudores quanto à união com ‘raças inferiores’ .

O segundo mito que Gilberto Freyre derrubou é o de que o índio era ‘inocente’, ‘bom” . O índio idealizado por Gonçalves dias e difundido por José de Alencar não correspondia ao real. Gilberto mostrou ao Brasil a verdadeira cara do nativo da América Portuguesa. Mas não o desvalorizou: mostrou sua contribuição, como ervas, comidas hábitos incorporados ao quotidiano do brasileiro, etc.

O terceiro mito derrubado por Freyre foi o de que o negro se constituiu o lado negativo da formação de nossa identidade. Ressaltou-se muito o caboclo (descendente do português com o índio), mas esqueceu-se o mulato (filho das relações ilícitas dos senhores com suas escravas). Gilberto Freyre provou que a alegria, espontaneidade e integridade do negro muito contribuiu para a formação do caráter do brasileiro. Mostrou a influência de suas línguas (porque foram várias as nações de africanos que par aqui vieram), seus costumes, as comidas os instrumentos adaptados, estudou a religião dos negros, considerada de “ segunda classe’ , enfim, mostrou ser o Brasil negro-índio-português, ou, mais especificamente, caboclo-mulato-cafuso.

O capítulo 2 do livro Casa Grande & Senzala é dedicado aos primeiros habitantes do Brasil, os índios. Este capítulo, como o subtítulo indica, procura mostrar a influência que o indígena exerceu sobre nossa cultura. Analisa a relação que se estabeleceu entre ele e os portugueses, a evangelização da Igreja, os hábitos e costumes que herdamos deles, as ervas e culinária e algumas particularidades.Os críticos, sociólogos e historiadores muito se inclinaram para comentar sobre os negros e suas relações com o senhor de engenho. Mas, quanto aos índios, essa preocupação praticamente não existe.

Primeiramente, Freyre mostra como a realidade do português era bem diferente do espanhol em termos de colonização. Se, ao chegar às Américas, o espanhol se defrontou com uma civilização hierárquica e militarmente organizada, tendo que empreender vigorosa campanha para estabelecer se domínio sobre as terras dos astecas e incas, o português encontrou no Brasil povos vivendo ainda um sistema sócio-econômico pré-histórico, subdivididos em nações muito diferentes umas das outras. Ao contrário dos espanhóis, que estabeleceram com os pré-colombianos uma relação hostil logo de início, com os índios os portugueses procuraram estabelecer trocas e favores, para conquistar sua confiança. Mas logo mostraram a que vieram, e tentaram dominar as terras e os próprios nativos, para escravizá-los. Os nativos se mostraram inaptos para o serviço, além de oferecerem bastante resistência por meio de fugas constantes, e já em l536, há relato da primeira remessa de negros para a América Portuguesa

Os portugueses, imbuídos de uma cultura ainda medieval, tentaram trazer ‘as luzes’ da fé e civilização para os ‘ selvagens’ . Por isso, logo nas primeiras expedições, jesuítas e franciscanos foram enviados com o intuito de catequisar e ensinar ‘ bons hábitos’ aos índios. Cumprindo este papel civilizador, a Igreja contribuiu para o extermínio da cultura, língua e religião dos ameríndios. Os jesuítas, por meio de suas missões, foram os principais agentes dessa doutrinação europeizante. Gilberto critica a posição dos jesuítas, de uma catequese que não levou em conta o respeito aos costumes e tradições indígenas. Estrategicamente concentrando-se nos ‘culumins’ ou crianças índias, os jesuítas pretendiam formar uma nova sociedade cristianizada e esquecida de seus valores ‘ pagãos’ . Por vezes imbuídos do mais genuíno espírito religioso, os jesuítas amoleceram o caráter guerreiro dos indígenas com suas canções decoradas em homenagem a Nossa Senhora, sempre de cabeça baixa, resignados. Mesmo com todas essas críticas, Freyre elogia a unidade nacional que não seria possível se o português não fosse estabelecido com língua padrão. Espalhando-se por todo litoral, adentrando no sertão, os Companheiros de Jesus impuseram o português como idioma comum a nações tão diferentes quanto os jês, tapuios, caetés. Não obstante o esforço de uns poucos, como José de Anchieta, elogiado por Freyre como tendo uma visão de autêntico apóstolo de Cristo, por ter compilado um dicionário tupi-guarani–português, os jesuítas prepararam os índios para serem explorados pelos portugueses ou por eles mesmos nas missões, onde estabeleceram um regime de produção ‘ cooperativo’ , unindo a ação evangelizadora ao trabalho da agricultura. Freyre chega a afirmar a inadaptação dos jesuítas ao estilo de vida dos ameríndios, por prestigiar muito mais o intelecto que o manual. Puxar mais pela memória que pelo braço do indígena. Os franciscanos, ao contrário, amigos da natureza, com um regime de divisão de bens, aproximou-se mais da realidade do evangelizando, e obteve mais sucesso.

Esta religiosidade imposta pelo branco, porém, não sairia ileso do contato cultural com o nativo. Tanto que se estabelece no Brasil um catolicismo mais folclórico, menos ritualístico, cheio de superstições. A própria umbanda, adaptação da religião dos negros à realidade da colônia, possui algumas influências indígenas, como o caboclo e ervas para tirar maus espíritos. De raiz totêmica e fetichista, a religião primitivista dos índios, que levava em conta o culto aos elementos da natureza, teve dificuldade em se submeter ao monoteísmo judaico-cristão. A única aproximação possível foi a veneração aos santos, levando mesmo assim, em conta os rituais próprios dos índios, que reverenciavam suas entidades com festas, sacrifícios, deles recebendo curas e ações sobrenaturais por meio dos pajés ou feiticeiros das tribos. Muitas dessas práticas ainda resistem ao tempo, no Sertão, por meio das rezadeiras, que não deixam de constituir um ritual mágico de pedir a saúde.

Gilberto exalta o índio com feitos antes não reconhecidos. Segundo ele, ‘ a contribuição do indígena (...) foi formidável: mas só na obra de devastamento e de conquista, dos sertões, de que ele foi o guia, o canoeiro, o guerreiro, o caçador e pescador. Muito auxiliou o índio ao bandeirante mameluco, os dois excedendo ao português em mobilidade, atrevimento e ardor guerreiro; sua capacidade de ação e de trabalho falhou, porém, no ramo-rame tristonho da lavoura de cana, que só as reservas extraordinárias de alegria e de robustez animal do africano tolerariam tão bem. Compensou-se o índio, amigo ou escravo dos portugueses, da inutilidade no esforço contínuo pela extrema bravura no heróico e militar. Na obra do sertanismo e de defesa da colônia contra espanhóis, contra tribos inimigas dos portugueses, contra corsários.” (FREYRE 1984:94-5)

Da culinária, herdamos dos índios a cultura de mandioca, praticamente substituindo o trigo no começo da colonização. Dela, se extraía um veneno que, se ingerido, provocava a morte de quem a consumia. O indígena, sabendo disso, processava por meio de técnicas artesanais, a goma de mandioca, que servia para fazer tapiocas, um prato hoje típico do Nordeste. E a farinha, que dava para fazer bolos e comidas salgadas. Também o milho, um cereal totalmente americano, era muito utilizado para diversas utilidades.

Para cada doença, o indígena tinha um chá ou uma bebida especial. Unindo superstição ao conhecimento empírico, os nativos desenvolveram uma medicina natural que hoje em dia tem servido de base para muitas pesquisas médicas, algumas já comprovadas. Ainda hoje, nos mercados populares do país, encontram-se ervas para todos os males, das dores de barriga até a inapetência sexual.

O hábito de dormir em redes apenas atiçou mais a preguiça do europeu, que considerava o Brasil o próprio Éden, onde ele, apartado das famílias de origem, amancebava-se com as índias que desfilavam nuas em sua frente. De todos os hábitos, porém, o do banho diário foi o que mais escandalizou o português. Considerado até prejudicial à saúde, o português com dificuldade se adaptou ao regime higiênico da colônia, cujo calor era causa principal dos quase 15 banhos diários tomados pelos índios que os cronistas coloniais registraram.

Considerado por muito tempo como viril, o índio na verdade se revelou apático sexualmente, segundo as observações de Freyre. Freud explicou que, quando não há atividade sexual, procura-se transferir a energia empregada em outro fim. Em breves palavras, isso seria a sublimação. E é isso que Gilberto constata, quando percebe ser comum, em diversas regiões do Brasil, nações indígenas com danças com objetos fálicos (FREYRE 100). E, por conta disso, concluíram os cronistas, o motivo da submissão e até o gosto que a índia tinha de ser submetida aos impulsos sexuais dos brancos. Encontravam nesse último a virilidade que faltava aos seus companheiros. (FREYRE, 1984: 100.102)

Gilberto vasculha mais e descobre a importância das cores, especialmente o vermelho, como instrumento de profilaxia para algumas doenças, que se supunha provirem dos ‘ maus espíritos’ . A isso, atribui a preferência até hoje do vermelho nas roupas das mulheres do interior, além da presença dessa cor nas nossas manifestações populares, como o reisado e maracatu. Os europeus, sendo dominadores, impuseram sua moral para os indígenas.

Uma das primeiras imposições a que os padres da Companhia de Jesus sujeitaram os indígenas foi obrigá-los a andarem vestidos, com pudor de mostrarem o sexo. O que provocou uma série de epidemias, de doenças de pele a pneumonia, entre as tribos. Sendo um ambiente propício ao estabelecimento de relacionamentos não-convencionais de portugueses e ‘bugras’ , como eram chamadas as índias, os padres apressaram-se em convencer os indígenas sobre a moral da monogamia. O português que aqui chegava, mal-acostumado do contato com as moças árabes, onde o islamismo pregava a poligamia, viu terreno fértil para relaxar na sua conduta e entregar-se a aventuras amorosas com as nativas. O incesto, prática comum entre os índios, que não viam problema algum em juntar tio materno com sobrinha e oferecer mulheres para acompanhar noturnamente os hóspedes, tratou logo de ser erradicado pelos jesuítas. Era um escândalo para os soldados de Jesus tamanha naturalidade.

A estrutura familiar indígena era extremamente patriarcal. As mulheres cuidavam do serviço doméstico, da criação dos filhos e do artesanato. Os homens se preocupavam

com o sustento da prole. A educação dos culumins era rígida, embora gozassem de uma infância mais solta e livre que o das crianças européias. Porém, havia uma necessidade muito grande de incutir medo nelas, a fim de não desobedecerem os pais ou se afastarem sozinhas da aldeia e não somente as crianças, mas também as mulheres. Havia entre os indígenas a lenda do Jurupari, que Gilberto acredita ter sido a origem do nosso Bicho Papão.

O hábito de cantar para os meninos dormirem foi outro traço de nossa identidade nacional provinda dos índios. Afirma Freyre: “a mãe selvagem ninava o pequeno, deitado na rede, com palavras cheias de ternura pelo meninozinho que, sob a influência do catolicismo, ia ser idealizado em anjo”. Mas Freyre também constata uma série de rituais que iniciam o adolescente na fase da reprodução. Os meninos cortavam o cabelo, eram segregados das mulheres nas casas secretas, fechada a entrada para as mulheres. Afirma o autor: “Durante a segregação, o menino aprendia a tratar a mulher de resto; a sentir-se sempre superior a ela; a abrir suas intimidades não com a mãe nem com mulher nenhuma, mas com o pai e com os amigos. As afinidades que se exaltavam eram as fraternas, de homem para homem; as de afeto viril. Do que resultava ambiente propício para a homossexualidade’. Homossexualidade que não era vista da mesma forma pelas duas raças; nas tribos, papéis importantes, de magia, curandeirismo e medicina, estavam reservados aos bissexuais ou efeminados; acreditavam serem eles portadores de bons espíritos.

Cedo portanto, os meninos aprendiam a cantar. E esse hábito foi muito bem aproveitado pelos jesuítas, que procuraram ensinar o catecismo e as orações básicas, como ave-maria e pai-nosso, adaptadas, por vezes na própria língua indígena, em forma de música. Ora, encontraram amplo terreno de influência, assim, sobre os pais, que aprendiam as canções dos filhos e eram evangelizados por eles, com um modelo inverso à catequizarão tradicional.

Até nossos jogos de azar e brincadeiras infantis, envolvendo animais, seriam provenientes dos índios. Num clima de irmandade, que mereceu até o elogio de Padre Cadinho, os meninos jogavam e se divertiam, sem xingar um ao outro nem a seus pais. Como diria Gilberto: a verdade é que, ao contrário do que se observa noutros países da América e da África de recente colonização européia, a cultura primitiva – tanto a ameríndia quanto a africana – não se vem isolando em boles duros, secos, indigestos, inassimiláveis ao sistema social do europeu. Muito menos estratificando-se em arcaísmos e curiosidades etnográficas. Faz-se sentir na presença viva, útil, ativa, e não apenas pitoresca, de elementos, de elementos com atuação criadora, no desenvolvimento nacional. Nem as relações sociais entre as duas raças, a conquistadora e a conquistada, aguçaram-se nunca na antipatia ou no ódio cujo ranger, de tão adstringente, chega-nos aos ouvidos de todos os países de colonização anglo-saxônica e protestante. Suavizou-as aqui o óleo lúbrico da profunda miscigenação, quer a livre e danada, quer a regular e cristã sob a bênção dos padres e pelo incitamento da Igreja e do Estado.

Em relação às mulheres, o livro Casa Grande & Senzala também inova, ao dar destaque a alguns hábitos culturais das mulheres indígenas e negras, construindo um perfil sociológico dessas classes sociais no Brasil colonial. Começando pela mulher indígena, nossa primeira mãe por ser o primeiro cruzamento de nossas raças, nos diz Gilberto: à mulher gentílica (indígena), temos que considerá-la não só a base física da família brasileira, aquela em que se apoiou, robustecendo-se e multiplicando-se, a energia de reduzido número de povoadores europeus, mas valioso elemento de cultura, pelo menos material, na formação brasileira. Por seu intermédio enriquece-se a vida no Brasil de uma série de alimentos ainda hoje em uso, de drogas e remédios caseiros, de tradições ligadas ao desenvolvimento da criança, de um conjunto de utensílios de cozinha, de processos de higiene tropical – inclusive o banho freqüente ou pelo menos diário, que tanto deve ter escandalizado o europeu porcalhão do século XVI .

A mulher negra também não foi esquecida, por meio do elogio à mãe preta, negra escolhida para ser ama de leite do senhorzinho: “quanto às mães-pretas, referem as tradições o lugar verdadeiramente de honra que ficavam ocupando no seio das famílias patriarcais. Alforriadas, arredondavam-se quase sempre em pretalhonas enormes. Negras a quem se faziam as vontades: meninos tomavam-lhe bênção; os escravos tratavam-nas de senhoras; os boleeiros andavam com elas de carro. E dia de festa, quem as visse anchas e enganjentas entre os brancos da casa, havia de supô-las senhoras bem-nascidas; nunca ex-escravas vindas da senzala.

Mas não era qualquer escrava que poderia ser mãe-preta e gozar, portanto, desse privilégio; havia alguns critérios: a negra ou mulata para dar de mamar a nhonhô, para niná-lo, preparar-lhe a comida e o banho morno, cuidar-lhe da roupa, contar-lhe histórias, às vezes substituir a própria mãe – é natural que fosse escolhida dentre as melhores escravas de senzala. Dentre as mais limpas, as mais bonitas, as mais fortes. Dentre as menos boçais e mais ladinas – como então se dizia para distinguir as negras já cristianizadas e abrasileiradas, das vindas há pouco de África; ou mais renitentes no seu africanismo.

Mesmo a mulher branca não foi esquecida por Freyre, quando nos revela despotismo dos pais e dos maridos sobre a filha ou esposa, mostrando a dificuldade que havia, para elas, de realizarem aventuras amorosas. Dificuldades, mas não impossibilidades. Deste modo, Freyre lança o olhar sobre a mulher branca que, ao mesmo tempo dominadora, era excluída do sistema que valorizava o homem e não ficava, política e socialmente, numa posição diferente do negro e do indígena.

Por tudo que foi exposto, podemos identificar a preocupação de Gilberto Freyre em mostrar para nós, num época de preconceitos acadêmicos e sociais, figuras tão esquecidas da História oficial durante séculos: o negro e o índio. Este último com mais veemência, pois que vivemos a época do resgate de nossas raízes, quando comemoramos o encontro das três raças que formou o que hoje chamamos Brasil.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Freyre, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro: l984.

Fonseca, Edson Nery. Casa Grande & Senzala e a crítica de 1933 a 1943. Recife: Cia. Editora de Pernambuco, l985.

Melo Franco, Afonso Arinos. Uma obra rabelaisiana. In: Casa Grande & Senzala e a crítica de l933 a 1943. Organizada por Fonseca, Edson Nery . Recife: Cia. Editora de Pernambuco, l985.


COMEÇOS DO BRASIL: A MULHER INDÍGENA
Por Gilberto Freire

O ambiente em que começou a vida brasileira foi de quase intoxicação sexual.
O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia precisavam descer com cuidado senão atolavam o pé em carne. Muitos clérigos, dos outros deixaram-se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente, ou um caco de espelho.
(...)Nos primeiros tempos do Brasil o amor foi só o físico: com gosto só de carne, dele resultando filhos que os pais cristãos pouco se importavam de educar ou de creiar à moda européia ou à sombra da igreja. Meninos que cresceram à toa, pelo mato, alguns tão ruivos e de pele tão clara, que descobrindo-os mais tarde a eles e a seus filhos entre o gentio, os colonos dos fins do século XVI facilmente os identificaram como descendentes de normandos e bretões.
A mulher gentia temos que considerá-la não só a base física da família brasileira, aquela em que se apoiou, robustecendo-se e multiplicando-se, a enenrgia de reduzido número de povoadores europeus, mas valioso elemento de cultura pelo menos material, na formação brasileira. Por seu intermédio enriqueceu-se a vida no Brasil, como adiante se vê, de uma série de alimentos ainda hoje em uso, de drogas e remédios caseiros, de tradições ligadas ao desenvolvimento da criança, de um conjunto de utensílios de cozinha, de processos de higiene tropical - inclusive o banho frequente ou pelo menos diário, que tanto deve ter escandalizado o europeu porcalhão do século XVI.
Ela nos deu ainda a rede em que se embalaria o sono ou a volúpia do brasileiro, o óleo de coco para o cabelo das mulheres, um grupo de animais domésticos amansados pelas suas mãos.
Da cunhã é que no veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O mingau. O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente e espelho no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão temotas avós. (De Casa-Grande e Senzala, 9ª. ed., Rio de Janeiro. 1958)

sábado, 13 de agosto de 2011

O Amor e a Viktória, a Viktória e o Amor...

Por Viktória Placides



Olha...
É realmente necessário ter vínculos frente a realidade em que vivemos: uma sociedade que atropela a tudo e a todos. Vínculos universais como uma amizade verdadeira, a solidariedade que move uma nação ou o amor que aproxima essas diferenças. A música You belong with me (Você me pertence) da cantara americana Taylor Swift ilustra bem um caso de amor que supera as diferenças, a história é de uma menina diferente, do tipo“nerd”, ela é completamente apaixonada pelo vizinho, o mais bonito do colégio e que para sua tristeza, tem uma namorada líder de torcida. Em meio a tantos obstáculos eles descobrem gostos iguais, por exemplo nas musicas favoritas, o jeito como um entende o outro e como compartilham sonhos. No final em um baile, genuinamente americano, eles se encontram e descobrem que pertencem um ao outro.
Ter um amigo é não se importar com a opinião de terceiros. Amizades são feitas para superar diferenças e complementar a alma, mesmo sendo cada um de nós únicos.
A solidariedade é o sentimento que desperta em nós o desejo de ajudar. Por exemplo, em meio aos desastres ambientais que assolaram o país, o que não faltou foram pessoas dispostas a abrir suas casas para os desabrigados, mesmo sendo pessoas desconhecidas. Ser solidário é dar esperança, a quem perdeu tudo, ou, a quem, por conta do destino nunca teve nada.
É fato notório que superar barreiras é coisa de amor. Para amar é necessário ter seu próprio jeito, seu modo de pensar e essas características nem sempre são as da pessoa amada. Dessa forma basta diferenciar o sonho idealizado da realidade.
Dado o exposto, percebe-se que são nas particularidades de cada um que descobrimos nossos reflexos. A amizade, a solidariedade e o amor são sentimentos eternos. A máxima bíblica do apóstolo Paulo “ Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, se não tivesse amor de nada adiantaria” significa, efetivamente, que toda ação tem que ser movida por um sentimento puro e gratuito.
Em outras palavras... amar pra mover montanhas.
Bjo
Vik

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Platônico, Petrarquiano, lírico, apaixonado, conflituoso...CAMÕES, CAMÕES, CAMÕES...

Bom, pessoal...
(Antes de qualquer coisa, se vc quiser saber mais sobre Camões, tem uma coluna bem abaixo no blog preparada só pra vc satisfazer a sua curiosidade. é logo depois da coluna sobre música. Quando terminar os vídeos, desce lá... Vai ser legal!!)
Pra entender os sonetos de Camões que a gente precisa interpretar, temos que conhecer alguns conceitos importantes que são, toda hora, citados nos textos teóricos. A lírica camoniana é profundamente influenciada pelas ideias de Platão, principalmente em realação ao amor, assim como há vestígios claros da concepção de Petrarca também.
Segundo meus estudos,a lírica de Camões aborda o amor em duas vertentes: o amor simples, ingênuo, otimista,e realizado; e o Amor enquanto conflito, contradição, sofrimento.
Para Camóes existe o amor individual, que implica em sofrimento e dor; e o Amor essência, ideia. Que é perfeito e absoluto.
A diferença entre "Amor(ideia) e amor(sombra)" é o que leva o ser humano a estar em constante busca, em constante imitação do ideal. Estabelece-se um conflito entre o amor sensual(romântico) e o Amor espiritualizado(platônico). Camões trabalha mais com o conceito de amor do que propriamente com os sentimentos, os quais ele prefere universalizar.
Tem muito mais a ser dito sobre Camões, é claro. Mas pra ilustrar esse tópico, em especial, estão aí os vídeos da aula de hoje, com as músicas e tudo.
Pensem sobre as letras e sobre tudo o que falamos. Próxima aula, vamos conversar sobre Camões épico.
Divirtam-se com os vídeos.