Professor por vocação

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Nós...

sábado, 28 de janeiro de 2012

Dos Diários do Vampiro ao Silêncio, a sequência do Sussurro, passando pela Rússia de Tolstói




Bom, pessoal,

Pra escrever bem e ampliar vocabulário, o negócio é ler, ler e ler... por isso, uma das leituras da semana é o terceiro livro da série Hush Hush, Sussurro, em português, da americana Becca Fitzpatrick. Aquela história do ex-anjo-sexy-bad-boy Patch Cipriano,






com a estudante sem sal Nora Gray, que eu, particularmente, desprezei no segundo livro, o "Crescendo".

Eu estava, de novo, numa fase lobisomem, depois de ter visto o Breaking Down I, o Amanhecer, que me deixou meio contaminada, tipo uivando pra lua cheia, e na sequência, embrenhei pelas curvas do corpo de um Tyler Lockwood em fase de aceitação.




Cuidado aí pra não errar de lobisomem! "Tyler" e "Taylor" são duas coisas diferentes. Não é porque os dois uivam que é tudo igual...

A não ser pelo fato de que Michael Trevino, o Tyler,




e Taylor Lautner, o Jacob,



competem naquela cláusula que faz a gente perder o sono.





Mas aí... Voltei a gostar de sangue porque Stefan continua sendo meu grande presente de natal e Damon, uma espécie de doce light, já que a glicose tá meio alta.



Aliás, capítulo 3x13 sái no site dia 02 de fevereiro, se o problema da lei antipirataria deixar. Temos que voltar a esse assunto em breve.



Pra rebater, eu vou de anjo caído de novo, até porque eu não resisto a uma sequência... e o segundo livro me deixou meio pra baixo.



Todo mundo sabe que acompanhar os gostos literários e cinematográficos dos meus alunos me deixa meio adolescente tbm. Por isso eu rebati lendo o romântico "Um homem de sorte" do Nickolas Sparks, que não tem nada a ver com os livros adolescentes, mas que me fez pensar sobre como o Nickolas descobriu o caminho das pedras com histórias leves e verdadeiras, tipo essa, ou O diário de uma paixão, Um amor pra recordar, O milagre, Meu querido John, etc, etc... Preciso me preparar para estudar o Romantismo, com os meus segundos anos. Certamente, vai ajudar. O problema é a overdose de emoção, que dá uma ressaaaaaca...

Ok, mas voltando ao Silêncio... a sinopse é o seguinte:"Nora Grey não consegue se lembrar dos últimos cinco meses. Depois do choque inicial de acordar em um cemitério e descobrir que ficou desaparecida por semanas, ela precisa retomar sua rotina, voltar à escola, reencontrar a melhor amiga, Vee, e ainda aprender a conviver com o novo namorado da mãe. Em meio a tudo isso, Nora é assombrada por constantes pensamentos com a cor preta, que surge em sua mente nos momentos mais improváveis e parece conversar com ela. Alucinações, visões de anjos, criaturas sobrenaturais.



Aparentemente, nada disso tem a ver com sua antiga vida. A sensação é de que parte dela se perdeu. É então que o caminho de Nora cruza o de um sexy desconhecido, a quem ela se sente estranhamente ligada. Ele parece saber todas as respostas… e também o caminho até o coração de Nora.



Cada minuto a seu lado confirma isso, até que Nora se dá conta de que pode estar apaixonada. De novo. “O relacionamento tempestuoso entre Nora e Patch, o típico bad-boy, é verdadeira e perturbadoramente sedutor.” Publishers Weekly

Pra desintoxicar, vamos beber numa fonte intelectual (kKKKKK). Essa semana, começo uma série de autores russos: Tolstói, Dostoievski, Gogol e Tchekhov. São pequenos contos e não enredos complexos como Os irmãos Karamazov, ou Anna Karenina, então, acho que vai ser bem legal.

É isso. Volto depois contando o que achei.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Os "Diários de um Vampiro" e eu...




Bom... quem estuda comigo ou me conhece bem sabe que eu sou fã incondicional da série “Vampire Diaries”, “Diário de um Vampiro”, em português, cuja primeira temporada acabou de passar no SBT e cujos livros eu precisei ler pra tirar a cisma, uma vez que eu sempre defendi a lógica de que livros são melhores do que filmes.



Nesse caso__e de todas as sagas que eu vi e li, só esse caso é fato__ pra mim, a série televisiva é infinitamente melhor do que os livros. Isso foi consenso, pelo menos entre os meus alunos leitores que dividiram comigo a experiência da leitura da saga, até o 5º livro: Anoitecer.



A série é eletrizante, além dos personagens padrão (que estão visualmente diferentes das descrições dos livros), o que acontece nas temporadas tem pouco ou nada a ver com os enredos narrados nos livros. Pelo menos até agora, já que o livro 1- O Despertar e o 2- O Confronto, são referência mínima para o que acontece nas temporadas 1 e 2 da televisão. Ainda bem. Porque eu achei os livros chatos enquanto a série está perfeita, a começar pelos atores, passando pelo desenrolar da ação e os finais, que deixam a gente sempre suspenso. Não houve um único episódio que eu não tenha ficado grudada na tela do pc, como adolescente, querendo saber o que viria a seguir.



Aliás, minha filha me critica muito por isso, mas eu não posso evitar porque quando me apaixono por um personagem, (no caso por três, os dois irmãos vampiros Stefan e Damon Salvatore e Elena Gilbert, a duplicada Petrova), eu me apaixono mesmo, profundamente e quero ver até onde posso ir. Sou do tipo que rio e choro, que me descontrolo até falar alto, passo raiva, xingo, mando ir à merda, etc, etc.




Os povos de cultura inglesa, de maneira geral, tendem a gostar de livros e filmes que falam de criaturas da noite, vampiros, lobisomens, bruxas... Isso é da cultura deles e eu não tenho nada contra, desde que a história seja bem contada. Talvez a literatura (porque os roteiros dos filmes são literatura, antes de tudo), ou quem sabe a arte, em geral, seja o que Deus fez de mais legal pra curar as ressacas morais dos homens. É como eu vejo.



Então...
No auge da temporada 3, depois de viver quase um ano de relacionamento perfeito com Stefan, e de aprender a gostar do gênio indomável de Damon, Elena tem que assimilar o golpe de ver Stefan voltar a ser o vampiro estripador que ele lutou, a vida toda, para não ser.



Sua natureza sanguinária entra em confronto com sua humanidade avassaladora, e, pra salvar a vida do irmão detestável, Stefan se vê obrigado a deixar Elena e Mystic Falls, para seguir o Híbrido Klauss, que é indestrutível, sádico e megalomaníaco. Nessa viagem louca, Stefan perde a humanidade, tornando-se frio e capaz de tudo.
Damon, na pele do inacreditavelmente sexy, Ian Somerhalder, vai evoluindo, até perder a personalidade desprezível e tornar-se divertido, protetor e irresistível como Stefan, nas primeiras temporadas.






Dá pra sacar de cara o que acontece?
Bingo!
Damon e Elena se aproximam, mesmo porque já rolava uma atração básica desde antes.




Ela resiste muito, mas acho que, pela pressão dos expectadores pra que Elena fique com Damon, não sei se os produtores vão ser fiéis aos livros e mantê-la com Stefan, que é o que eu queria. Aliás, o ator que faz o Stefan, Paul Wesley, é fantástico. Ele tem umas expressões marcantes, uma seriedade que só pode ser natural, dá pra sentir a tristeza do personagem através da máscara do ator. Talentosíssimo e gatíssimo também.



Isso sem falar que a série tá ganhando moral pela qualidade inclusive na plástica do elenco, que só tem gente bonita.
Eu tenho pra mim que a pressão do povo que torce pelo Damon é também porque Ian Somerhalder é mesmo namorado da linda atriz que faz a Elena: Nina Dobrev, e como o povo tende a misturar realidade e ficção...




O fato é que eu tô sofrendo muito com o afastamento do Stefan, a relação dos dois era incrivelmente verdadeira, baseada na confiança mútua, no respeito, na admiração recíproca e na paixão, tudo como devia ser. Com Damon existe uma eletricidade natural, eles gostam de estar próximos, são íntimos, ela provocou nele sensações que o fizeram mudar, além da atração violenta que ambos sentem. Eu não sei... Quero que ela fique com Stefan, mas se ficar com Damon, a melhor opção para Stefan seria EU, sem sombra de dúvidas (KKKKKK).

O vídeo abaixo traz uma das músicas da trilha sonora, que eu vou trabalhar na escola.
Não vou dar muito detalhe agora, mas a voz é do Ron Pope e o título súper adequado é "A drop in the ocean". Ela ilustra uma das cenas mais bonitas da série, particularmente, uma das cenas mais bonitas que eu já vi na vida. É o final do episódio 1 da 3ª temporada, quando Stefan, depois de passar quatro meses desaparecido, desesperado e impotente, liga pra Elena, só pra ouvir a voz dela.
É de tirar o fôlego.

Depois de ouvir a música e ver a cena, me fala se eu não tenho razão de gostar de vampiro!!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Pra poder te beijar quando eu quiser...”

Crônicas diárias




“Doce lar” é só o título sugestivo de uma história realmente doce, que eu gostei muito de assistir há uns anos atrás. O enredo, no entanto, bateu com aquelas coincidências da vida, que a gente ignora ou menospreza, mas que podem mudar o rumo de qualquer existência.
Melanie Carmichael (Reese Whiterspoon)é do Alabama, mas se torna uma promessa como estilista, em Nova York, depois do segundo grau. Pra completar, ela também namora Andrew, representado pelo bonitão Patrick Dempsey (que aliás eu AMO), um óóóóótimo partido, filho da prefeita da cidade, lindo, inteligente, com futuro promissor na política.
O transtorno começa quando o namorado resolve se tornar marido e faz o pedido, de um jeito irrecusável. Isso a leva de volta ao Alabama, escondida do noivo, pra resolver um “probleminha” do passado.
O “probleminha” é um ex-jogador de futebol americano, loiro, alto de olhos muito verdes, que atende pelo sugestivo nome de Jake, interpretado pelo ator Josh Lucas (a quem eu também AMO. Percebe o drama?)
Embora ela já estivesse em Nova York há anos, Jake e Melanie ainda estão casados, porque ele se recusa a assinar o divórcio. Com o propósito de convencê-lo a esquecer sua história juntos, ela volta às origens, e acaba confrontando seus fantasmas do passado.
Eu adorei. Principalmente quando ele pergunta: “Por que é que você quer que eu seja seu marido?” e ela responde “Pra poder te beijar quando eu quiser!”
Que seria da vida sem as doces ilusões?
Na verdade, creio que a fantasia nos ajuda a passar pelas oscilações, e quando se é saudável, é possível navegar sem tirar o pé do chão, nem mover demais o cursor. A célebre frase “Pra poder te beijar quando eu quiser” abre tantas possibilidades...
Fiquei pensando sobre os casais de hoje em dia, principalmente os casados há um certo tempo. Aqueles que a gente nunca vê namorando, que nem sequer ficam muito próximos, como se fazer isso na condição deles fosse uma coisa estranha ou inconveniente.
Dizem que os relacionamentos deterioram por causa da poeira do tempo. Mas dizem também que as relações verdadeiras ficam fortes à medida que envelhecem. Pensei então nas mágoas ácidas das relações diárias que falham, na ausência do beijo de bom dia, no olhar de desejo que eles já não se dão porque precisam falar das contas, dos problemas, das dores e doenças e sei lá do que mais...
E então pensei em quem consegue falar de tudo isso, e ainda sair sorrindo, e se beijar de manhã, e se olhar com ansiedade, sabendo que, todos os problemas serão enfrentados “a dois”.
“Por que é que você quer que eu seja seu marido?”



Engraçado como as respostas se perdem com o tempo, como se perde a admiração, o afeto, aquele item especial que só “ele” tinha. Onde é que ficou perdida mesmo aquela ânsia que eu sentia, antes de ele vir deitar?
E quando a gente começa a sentir o perfume de outras pessoas, a resposta se perde no ar. “Por que foi mesmo que eu me casei?”
Eu comecei falando do filme, e vou terminar falando de todo mundo. Porque quando começamos a nos fazer perguntas retóricas para as quais já não sabemos as respostas, é que tudo ficou inexato. Por isso, é necessário não perder o brilho nos olhos. Por isso é necessário intensidade nos gestos.
A resposta convicta tem que estar na ponta da língua:
“Pra poder te beijar quando eu quiser”.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Stefan e Damon

CRÔNICAS DIÁRIAS






Dizem que existem “tipos de homens”. Uns são pra vida toda. Outros, só pra uma noite.
Ouvi isso numa balada e não podia estranhar, porque aquele era realmente o momento e o lugar pra ouvir uma coisa assim, mas confesso que depois, em casa, com o controle remoto em punho, acabei testemunhando, na ficção, as palavras proféticas de minha companheira de farra.
É fato que existem homens que bebem, dançam, passam cantadas que funcionam e, às vezes acabam na vida da gente. Esse não é bem o problema. O problema é que, hoje em dia, tudo acontece tão rápido que nem nos damos tempo pra saber mesmo que “tipo” de homem é o tal fulano. Depois que ele já está “dentro”, temos de lidar com a bendita da insegurança, o maldito do amor próprio que muitas vezes falta, enfrentar os erros de julgamento que só aparecem quando passa o impacto inicial de se estar com alguém. Principalmente se o cara for “do tipo bom em tudo”...Aí o problema aumenta.
Não sei se seria legal falar em “tipos de homens” porque isso seria rotular, então talvez seja possível analisar, por exemplo...Homens que choram de emoção, que gostam de criança, que não têm medo de compromisso, que, vez ou outra, cozinham pra você enquanto você bebe vinho no sofá, conversando com ele sobre coisas legais; que te buscam e te levam a lugares necessários, mas inconvenientes; que passam a noite no hospital com você ou com um parente seu, se for preciso; que enfrentam o seu câncer e não se divorciam porque você envelheceu... Homens que dividem problemas, que te dão valor porque você têm trabalhado tanto e continua linda, apesar de tudo; que dormem e acordam do seu lado, sem trocar sua companhia por quaisquer outras...
Em compensação posso pensar em homens que se sentem incompreendidos porque não conseguem falar de outro assunto que não seja o campeonato brasileiro; que acham que te levar em casa e não voltar pra farra é um enorme sacrifício; que fazem da banca de jogo um altar; que enxergam em sua melhor amiga uma oportunidade a mais de mostrarem que são “homens”; que são viciados em sexo, drogas ou rock’n’roll. Não vou dizer que há homens que mentem porque todo mundo mente, mas há homens que além de mentir, traem, enganam, são falsos, traiçoeiros, invejosos, desonestos. E há uma categoria de homens que fazem tudo isso, e ainda agridem.
Posso pensar em mais, mas... ainda não é esse o “x” da questão.
O x da questão é que temos escolha.
E sem essa de que “a coisa tá difícil”, de que “o mercado tá escasso, pega o que aparecer” porque esse é mesmo o cúmulo da baixa estima. Não que seja legal viver esperando o príncipe, mas pelo menos... alguém que se encaixe no meu perfil de bom companheiro, e como não há, de fato, ninguém igual a ninguém, há muitas opções.
Por falar em príncipe, hoje em dia, é difícil até saber que príncipe esperar, porque se pensarmos no que Charles foi pra Diana não teremos expectativas pra William e Kate. Mas se pensarmos em “Charles e Camila”...
Ainda preciso fazer justiça a Damon. Não que ele se encaixe aqui no protótipo do inconveniente, mas, sendo o cara mal da história, ele também é o rosto mais bonito em questão, cheio de atrativos irresistíveis, moreno, alto de olhos azuis, capaz de te levar a loucura e de encher o seu sangue de adrenalina.
Damon é o cara que vai ficar por uma noite. Uma noite inesquecível e intensa, cheia de loucuras e etc... que vai acabar quando o dia amanhecer.
Há quem viva feliz assim.
Mas se quer saber, existe Stefan, que apesar de ser um “vampiro”, vai me amar pela eternidade, ainda que de um jeito imperfeito. No fundo, no fundo... é o que eu quero.
Como eu disse, temos escolha. E é isso o que importa.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Amo-te



(De Elizabeth Barrett Browning – tradução Manuel Bandeira)

Amo-te quanto em largo, alto e profundo
/Minh'alma alcança quando, transportada,/
Sente, alongando os olhos deste mundo,/
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

/Amo-te em cada dia, hora e segundo:/
A luz do sol, na noite sossegada.
/E é tão pura a paixão de que me inundo
/Quanto o pudor dos que não pedem nada.

/Amo-te com o doer das velhas penas;
/Com sorrisos, com lágrimas de prece,
/E a fé da minha infância, ingênua e forte

./Amo-te até nas coisas mais pequenas.
/Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
/Ainda mais te amarei depois da morte.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Crônicas diárias



Ponto Fraco


Estava separada há exatos 34 dias.
Talvez eu pudesse dizer, “trinta e quatro dos dias mais difíceis de minha vida”, mas a verdade é que fazia 34 dias que eu estava sozinha, embora não sentisse mais o pescoço sempre na forca. Eu acordei numa manhã de domingo, e percebi que não tinha que me preocupar com o veneno do ciúme, nem me desgastar com o tempo que ele não tinha pra mim, nem com as dúvidas óbvias sobre se eu ainda tinha alguma importância, ou como conseguiria acabar de criar meus filhos pequenos. Na verdade, eu sempre tivera a maioria dessas respostas.
A noite anterior havia sido especial, muitas coisas vinham acontecendo e eu me sentia num turbilhão de descobertas, como se tudo que não acontecera antes resolvesse acontecer de uma vez. Há uma fase, pós-separação em que se passa a ser o centro das atenções. Se não pelo bate-boca dos outros, pelas observações gerais que recaem sobre os envolvidos, até que outro problema aconteça ou outro casal se separe.
Não era a primeira pessoa que eu beijava, nessa fase-foco. Mas seria a primeira pessoa que se tornaria “especial”, depois daquilo tudo.
Quem estava mais próximo não queria que eu me envolvesse, por motivos óbvios e porque um mês é quase nada nesse tipo de situação, mas... para uma mente infeliz isso não vale como argumento. Especialmente se essa infelicidade tem a ver com uma rejeição.
Imagine o náufrago com o rosto fora d’água, se debatendo pra alcançar apoio. Ou o cara dependurado na corda tendo o precipício abaixo e um galho seco servindo de suporte. Naquele momento, era assim que eu me sentia e faltou maturidade pra que eu tivesse paciência.
A bem da verdade é que faltou fé. Não era privilégio meu ter a fé que renova a vida e remove montanhas... a mesma fé que só viria anos depois, com as amargas experiência e com a idade.
O alívio imediato veio na figura de alguém, cheio de atenções e gestos carinhosos e que foi ganhando espaço na vida e nos meus pensamentos. A esse alívio eu batizei de “Ponto Fraco”.
Ponto Fraco fazia tudo ao contrário do habitual. Para quem vivia uma rotina de tensões emocionais, ter um Ponto Fraco significava descansar de todas as tensões. Eu passei a ter, em muito pouco tempo, a ilusão de que nada era tão difícil, porque eu dormia e acordava num abraço quente, já não fazia nada sozinha, já não pensava por mim, já não ouvia ninguém...
E como num passe de mágica, ele chegava e a amargura saía, mas como tudo o que parece fácil demais merece desconfiança, ninguém que tenha um Ponto Fraco é, afinal, inatingível e todo Ponto Fraco, no fundo, é um problema que pode ser evitado.
E foi aí que eu percebi como somos frágeis e vulneráveis, e como é fácil se deixar levar pelas fraquezas... sem notar que fraquezas geram mais vulnerabilidade.
Hoje, não sei onde foi parar meu Ponto Fraco. Sei que, de coração eu prefiro não tê-lo, porque muitas coisas dependem do meu equilíbrio e da minha força. Aquela fase difícil passou, é bem verdade que, sem Ponto Fraco, foi mais difícil, mas no fim... as coisas mais difíceis duram mais, são mais absolutas e definitivas.
Viver não é fácil, mas vale a pena, e apesar dos sofrimentos, é possível ser forte. Isso porque sempre chega um momento em que se senta no sofá da sala e só se tem lembranças ao invés de rancores... O insuportável ganha dimensões menores, e percebe-se que a única verdade é que tudo passa...
Inclusive as dores.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Dona Carolina

Por Jorge Miguel Marinho
(professor de literatura, ator e roteirista, premiado escritor brasileiro e amante da literatura machadiana)


"Depois... depois, querida, queimaremo o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis. Estamos ambos neste caso; amamo-nos; e eu vivo e morro por ti."


Estas palavras, com um tom de herói romântico, são de Machado de Assis e fazem parte de uma carta íntima. Uma carta escrita para sua futura companheira, Carolina Augusta Xavier de Novais, para nós e para quem teve o privilégio de conviver com ela, simplesmente Dona Carolina.

Nascida em Portugal, culta e solícita, veio para o Brasil cuidar do irmão, o pota Faustino Xavier de Noveis, e foi numa visita de Machado ao amigo doente que os dois apenas deixaram o amor acontecer.

Foi amor à primeira vista, e esquecendo um pouco o ceticismo de Machado, esse amor se eternizou pelo tempo da sua duração: foram trinta e cinco anos de terna e eterna convivência, como se Dona Carolina viesse de Portugal para a enseada mais amorosa de Machado e Machado estivesse predestinado a escrever as suas melhores palavras, primeiro para os olhos sensíveis, críticos e cuidadosos de sua mulher.

Ela cuidou dele e construiu para ele um universo caseiro que se tornou para Machado de Assis a sua mais segura moradia interior.

Costurava suas roupas pondo esmero na rotina. Fazia o seu prato fatiando as carnes e os peixes, sendo também a senhora da sua alimentação. Cuidava da saúde sempre frágil do marido com discreta prontidão. Havia um código entre eles e, ao menor sinal de um ataque epilético, ela protegia o marido dos olhares dos outros nos retiros mais íntimos de um casal. Dizem que era precavida a ponto de trazer rolhas nos bolsos do avental para atenuar a violência das imprevisíveis convulsões.

Todas as manhãs lia os escritos do marido com a fidelidade e a exigência da sua leitora maior. Passava a limpo os originais trocando uma palavra por outra, fazendo sugestões. Era versada em gramática, conhecia muito bem os clássicos portugueses e outras literaturas e, lá na sua terra havia convivido com Camilo Castelo Branco e outros escritores e intelectuais.

Machado abria os braços para tudo o que viesse dela e oferecia o seu maior abraço vindo espontâneo da sua mais correta timidez.

Não é difícil imaginar os dois sentados numa cadeira de balanço dupla, um ao lado do outro, de mãos dadas, vivendo o silêncio das lembranças que vão e vêm. Là em Petrópolis, ela copiando trechos de Memórias Póstumas de Brás Cubas ditados por Machado, que não estava nada bem da vista. Os filhos que não tiveram, os problemas econômicos no início do casamento, a cadelinha chamada Graziela, o jogo de xadrez. E lá no passado mais remoto a família contra o casamento dela com um mulato, de origem humilde, e ela, decidida, apenas anunciando a comunhão:
"Não peço licença. Apenas COMUNICO que vou me casar!"

Quatro anos antes da morte de Machado, contra a vontade de Dona Carolina, que queria cuidar do marido até o fim, ela "se foi". Digamos que para ele provisoriamente, como escreveu ao amigo Joaquim Nabuco numa carta que aqui e ali, se confessa assim:
"Foi-se a melhor parte da minha vida (...) Tudo me lembra a minha meiga Carolina (...) Irei vê-la. Ela me esperará."