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domingo, 1 de abril de 2012

Modelo de montagem do desenvolvimento trabalho "O Romantismo nas criaturas literárias"

VAMPIROS MODERNOS E ROMANTISMO CLÁSSICO:
A RECEITA DA SAGA CREPÚSCULO

Janaina Mari Cerutti

RESUMO
Este trabalho tem por objetivo mostrar os aspectos do Romantismo que foram retomados na saga Crepúsculo, da autora Stephenie Meyer. Para tal, foram analisados três personagens e suas características mais marcantes. Foi realizada a leitura das quatro obras publicadas, e de uma quinta, retirada da internet, em busca de tais características, que estão, de fato, presentes em todos os livros e determinam o comportamento e o futuro dos personagens.

1 INTRODUÇÃO
Os dados e conclusões apresentados neste trabalho têm por objetivo demonstrar em quais aspectos a saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer, retoma o período literário Romântico. A saga, composta por quatro livros (Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer) além de um quinto, incompleto e não publicado por ter “vazado” para a internet, chamado Midnight Sun, apresenta características típicas do período Romântico, tanto em seus personagens, quanto no que eles representam. Para demonstrar tais características, foram analisados três personagens: Edward Cullen, Isabella Swan e Leah Clearwater, dois deles tipicamente Românticos, e um terceiro contraponto que foge a tal norma.
Ao longo do trabalho serão citadas e explicitadas quais característica têm presença mais forte, e de que formas tais características podem ser consideradas como parte do Romantismo clássico, em se tratando de uma obra contemporânea infanto-juvenil.
Por Romantismo, entende-se o período literário apreciado pela burguesia, surgido na Europa na época pós-Revolução Francesa, e que no Brasil coincide com a Proclamação da República, em 1889. Para este trabalho, fixaremos a análise nas características mais proeminentes do Romantismo que podem ser encontradas na saga de Meyer, tais como individualismo, idealização, sentimentalismo exacerbado, egocentrismo, fusão do grotesco e do sublime, medievalismo e byronismo.

2 CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
Realizando a leitura de qualquer dos quatro livros pertencentes à saga Crepúsculo, nota-se a presença de características do Romantismo. Estas características surgem ao longo do texto, mas podem ser melhor observadas se centradas em determinados personagens, que melhor explicitam estas características.
Começaremos pela exposição das características mais marcantes e apresentação delas em relação aos personagens.

2.1 Individualismo e Egocentrismo

Características marcantes do Romantismo, que tinha seu foco no ser humano e suas emoções particulares, o individualismo e o egocentrismo aparecem em Crepúsculo desde o primeiro capítulo, demonstrado na personagem Isabella Swan, protagonista da saga. Ao iniciarmos a leitura, o primeiro aspecto individualista já aparece: o livro é narrado em primeira pessoa, com quase nenhuma consideração ou menção ao que os demais personagens possam pensar sobre as cenas. O ponto de vista é exclusivamente da protagonista.
“Nunca pensei muito em como morreria – embora nos últimos meses tivesse motivos suficientes para isso –, mas, mesmo que tivesse pensado, não teria imaginado que seria assim. [...] Sem dúvida era uma boa forma de morrer, no lugar de outra pessoa, de alguém que eu amava. Nobre, até. Isso devia contar para alguma coisa.” (MEYER, 2008, p.3)
No trecho acima, retirado da aba do livro, já se percebe como toda a trama é centrada apenas nos desejos, pensamentos e anseios da protagonista. Mesmo em frente ao que ela imagina ser a morte certa, ainda se destaca sua visão particular dos fatos. O desenvolvimento da personagem de Bella Swan é inteiramente individualista e egocentrista, mesmo quando ela interage com seu par romântico, Edward Cullen. Seus desejos sempre se sobressaem ao desejo dos demais, e suas posições sobre questões mostradas nos livros sempre ficam em primeiro lugar.
O protagonista masculino, Edward Cullen, também é um exemplo claro do individualismo. Antes de assumir sua atração por Swan, Cullen toma atitudes voltadas apenas para o que seria melhor para ele e sua família, em um segundo plano. No livro da saga não publicado por ter “vazado” para a internet, Midnight Sun, percebe-se ainda mais acentuadamente o traço individualista e egocêntrico de Edward. Seguindo o mesmo padrão dos quatro livros anteriores: centrado no personagem de Edward Cullen e contado em primeira pessoa, Midnight Sun mostra a personalidade não revelada de Edward quando vista de fora por Isabella.
“Eu me afastei dela com asco – revoltado com o monstro desesperado para tomá-la.
Por que ela tinha de vir até aqui? Por que ela tinha de existir? [...] Por que esta humana irritante tinha de ter até mesmo nascido? Ela iria me arruinar. [...]
Por que ela tinha de vir até aqui!” (MEYER, 2008, p.13)[3]
No trecho acima fica clara a maneira como Edward vê as pessoas – em especial os humanos – ao seu redor: detalhes em seu caminho, onde a única pessoa que realmente importa é ele. Mesmo o cuidado que ele tem para com a sua família nasce do desejo de se provar para seu pai adotivo, o vampiro que o transformou, Carlisle Cullen. Conforme o livro progride – tanto Crepúsculo, quantoMidnight Sun, que tratam do mesmo espaço temporal – a maneira como Edward vê Bella se transforma, mas tal transformação não ocorre por apreço a outros indivíduos em geral, mas apenas por apreço aos indivíduos que interessam ao protagonista da vez.
Nos demais livros da saga, as atitudes dos dois protagonistas podem ser vistas como notadamente individualistas e egocêntricas. O fim do primeiro livro, onde Bella e Edward fogem, não leva em consideração o estado emocional do pai da personagem principal, ou mesmo de sua mãe, ou amigos. “Repeti as últimas palavras de minha mãe quando ela saiu pela mesma porta tantos anos atrás. [...] Minhas palavras cruéis fizeram seu trabalho – Charlie ficou paralisado na soleira da porta, atordoado, enquanto eu corria para a noite.” (MEYER, 2008, p.293-294). Edward, ao decidir morrer no final do segundo livro, Lua Nova, pensa muito pouco sobre o impacto que sua morte teria sobre o restante de sua família. “Pensei que já tivesse explicado com clareza. Bella, não posso viver num mundo onde você não exista.” (MEYER, 2008, p. 411)
A um primeiro olhar, ambos os trechos usados como exemplos acima soam simplesmente românticos, mas as implicações de ambos são claras: o que importa para os protagonistas são os seus desejos e suas vontades, não a dos demais, mesmo que estas pessoas se importem com eles.
Com um sem número de exemplos nos cinco livros que contam sua história, os dois personagens demonstram de diversas maneiras que, apesar da maneira como são retratados, idealizados, característica que será tratada no próximo item de discussão, ambos estão centrados apenas em si, e naqueles que importam para eles, marca acentuadamente romântica.

2.2 Idealização

Traço que é o mais marcante durante toda a obra, a idealização dos protagonistas da saga Crepúsculo deixa algumas idealizações classicamente Românticas parecendo quase realistas em seus exageros.
“Foi ali, sentada no refeitório, tentando conversar com sete estranhos curiosos, que eu os vi pela primeira vez. [...] A alta era escultural. Linda, do tipo que se via na capa da edição de trajes de banho da Sports lllustrated, do tipo que fazia toda garota perto dela sentir um golpe na auto-estima só por estar no mesmo ambiente. O cabelo era dourado, caindo delicadamente em ondas até o meio das costas. A menina baixa parecia uma fada, extremamente magra, com feições miúdas. O cabelo era de um preto intenso, curto, picotado e desfiado para todas as direções. [...] Fiquei olhando porque seus rostos, tão diferentes, tão parecidos, eram completa, arrasadora e inumanamente lindos. Eram rostos que não se esperava ver a não ser talvez nas páginas reluzentes de uma revista de moda. Ou pintados por um antigo mestre como a face de um anjo. Era difícil decidir quem era o mais bonito – talvez a loura perfeita, ou o garoto de cabelo cor de bronze.” (MEYER, 2008, p.19)
O trecho acima é a primeira visualização da família Cullen com que o leitor das obras entra em contato. As descrições da autora são idealizadamente perfeitas, levando em consideração não apenas a beleza clássica mítica de vampiros em geral, mas principalmente referências a estilos de beleza da época atual, em que o livro foi escrito. A partir deste momento, a cada vez que os Cullen são de alguma forma citados – em especial Edward – é raro que não haja menções à beleza, riqueza, educação, porte ou bom gosto deste núcleo de personagens.
Edward Cullen recebe mais adjetivos positivos em três páginas do primeiro livro da saga,Crepúsculo, do que alguns personagens em outras obras recebem no livro todo. “É o Edward. Ele é lindo, é claro, mas não perca seu tempo.” (MEYER, 2008, p.21). Ao longo da história, percebe-se que não apenas a sua beleza se destaca, mas também seu senso de humor, seu gosto musical, educação, força e coragem. Edward é perfeito e idealizado até mesmo em sua condição de vampiro: onde o mito clássico morre dolorosamente ao entrar em contato com a luz do sol, a espécie de Edward apenas brilha, com um efeito que Swan descreve como “uma miragem, lindo demais para ser real…” (MEYER, 2008, p.196). Além da beleza física, Edward também tenta se afastar de Bella a princípio, demonstrando indícios de um cavalheirismo que parece não estar presente em Midnight Sun, mas que aos olhos de Bella é encantador. Sua família também se afasta do mito de vilão vampiresco pelo fato de que não se alimentam de pessoas, mas sim do sangue de animais, sendo chamados de “vegetarianos”. Edward é um ser perfeito em todas as dimensões da palavra.
Já Isabella Swan, por outro lado, tem uma idealização que se julga não intencional. A obra, como já foi dito antes, é narrada do ponto de vista da protagonista, e da maneira como ela mesma se vê, Bella é sem graça e comum, pálida, magra, de olhos e cabelos castanhos, uma garota tipicamente normal. No entanto, todos os garotos da escola a notam quando ela muda de cidade. Seu amigo de infância, e rival de Edward pelo amor de Bella, Jacob Black, também a percebe como atraente e interessante o suficiente para que ele se apaixone profundamente. A maneira como ela é representada – retratada como comum através de seu próprio ponto de vista – atribui ainda mais uma qualidade à personagem: Bella não apenas é bonita como também é modesta. “‘Ela vai ficar deslumbrante.’ (Alice disse), Edward rosnou baixinho. ‘Ela sempre foi.’”[4] (MEYER, 2008, p. 285), este trecho, retirado do quarto e último livro publicado da saga, Amanhecer, demonstra um dos poucos momentos em que o ponto de vista principal está focado na opinião de outras personagens que não de Bella. Nele, fica claro que Edward já a via como bela antes mesmo de sua transformação em vampira, o que implica em beleza física, além de traços de personalidade favoráveis.
Um dos traços mais interessantes da idealização nas obras é não apenas a idealização que poderia ser vista como moderna – o gosto musical, as roupas, a riqueza, os carros, o padrão de beleza – mas também momentos em que a idealização transcende a época de Bella Swan, nosso presente atual, e alcança ideais de idealização verdadeiramente Românticos, como a amada intocada. Isabella tem de ser chantageada para que aceite se casar com Edward, mas casa-se virgem, com vestido de época em uma homenagem ao seu futuro marido. Não apenas aí reside este “envelhecimento” da idealização, mas Bella também demonstra grande aptidão para trabalhos domésticos. Em mais de uma ocasião, ela menciona que cozinha e cuida da casa para o pai, que antes parecia sobreviver de fastfood, como no trecho a seguir: “’Pode ficar para o jantar?’, Billy também estava ansioso. ‘Não, preciso alimentar o Charlie, você sabe.’ (MEYER, 2008, p.108) Também em vários momentos, Bella chega a se dizer “culpada” por não cozinhar, ou realizar alguma outra tarefa doméstica, mesmo que seu pai insista que não há necessidade para que ela o faça.
Isabella Swan, como personagem, reúne características que soam como a conjunção das idealizações de todos os tempos: moderna, independente até certo ponto, mas por outro lado inocente e dada a tarefas domésticas. Bonita, mas modesta, inteligente, mas humilde, amigável, divertida e profundamente dedicada às pessoas que ama, não se importando em morrer por elas. Após a sua transformação, no último livro publicado da série, Bella alcança a idealização completa, onde além de todas as qualidades físicas de um vampiro, ela também parece ter uma afinidade natural com sua nova espécie, não tendo nem mesmo que se esforçar para não atacar humanos, ou sua filha recém-nascida, como é comum para vampiros recém-nascidos.
O casal central de Crepúsculo é a mais perfeita exemplificação da característica de idealização romântica, sendo eles considerados como casal, ou observando cada personagem separadamente.
2.3 Medievalismo
A retomada de feitos dos grandes cavaleiros da época medieval era uma constante em obras Românticas. Na saga Crepúsculo, ela aparece com frequência nas ações de Edward e Bella, geralmente sendo ação e reação de uma mesma sequência de eventos. Bella é uma personagem construída para ser a donzela em perigo e Edward, seu cavaleiro, sempre pronto para resgatá-la. A primeira vez que tal posição ocorre é ainda no primeiro livro da saga, em uma cena onde Edward resgata Bella de uma situação de perigo com desconhecidos. Depois do resgate, Edward, em uma demonstração da mais pura nobreza, deixa que os agressores vão embora sem machucá-los.
“Eu não ia cair sem levar alguém comigo. Tentei engolir para poder formar um grito decente. De repente faróis apareceram na esquina, o carro quase batendo no atarrancado, obrigando-o a pular para a calçada. Mergulhei na rua – este carro ia parar ou me atropelaria. Mas o carro inesperadamente deu uma guinada, cantando pneu, e parou com a porta do carona aberta a pouca distância de mim. ‘Entra’, ordenou uma voz furiosa.” (MEYER, 2008, p. 121)
Esta cena de resgate é apenas a primeira de uma cadeia de situações em que Edward resgata Bella de perigos diversos, inclusive de sua própria família. A partir do ponto de vista de Isabella, nos livros, ela soa como uma moça corajosa que tenta, ao menos, se livrar sozinha dos perigos. No entanto, quando o protagonista vampiro some de cena, um outro personagem encarna o herói perfeito – e de certa forma, também o mito do “bom selvagem”. Com o desaparecimento de Edward depois de resgatar Bella de ser atacada pelo seu “irmão” – ato que reforça a característica do Medievalismo em Edward – Bella retoma uma amizade com Jacob Black, um nativo americano que mais tarde se revela também um ser sobrenatural. Jacob resgata Bella não apenas física, mas emocionalmente em diversas ocasiões, colocando-o em lugar de destaque na obra como um todo. Perde-se, com a saída de Edward de cena, o herói classicamente europeu, mas o heroísmo característico do Medievalismo permanece em um traço tão forte quanto: o “bom selvagem”, Jacob Black, continua a resgatar a donzela em perigo, Isabella Swan.

2.4 Sentimentalismo Exacerbado e Byronismo

Lendo a saga de Meyer, torna-se difícil encontrar algum momento dos livros em que o sentimentalismo exacerbado não apareça. Edward é um personagem conflitante, com emoções fortes sobre as questões mais simples possíveis. Suas reações a pequenos problemas do dia-a-dia tendem a ser absolutamente exageradas e fora de proporção. Isabella sofre do mesmo mal, e os dois personagens centrais parecem não conseguir ter um momento de paz e serenidade durante todas as cinco obras. Além do exagero sentimental, os dois personagens são dados a momentos de contemplação sobre a vida e o amor, sem o qual nada parece valer à pena.
Uma das maiores demonstrações de tais características são as reações dos personagens centrais aos acontecimentos do segundo livro da série, Lua Nova. Ao ver Isabella quase ser atacada por Jasper, um de seus irmãos adotivos e também vampiro, Edward decide ir embora e deixar Forks, para que Bella possa ser mais feliz sem os riscos que estar ao lado de um vampiro traz. A ação em si não parece ser algo trágico tanto quanto seria lógica. No entanto, a maneira como Edward a faz é carregada de sentimentalismo, dor e agonia. A maneira como Bella reage à partida de Edward também mostra o quanto a personagem claramente pensa não poder viver sem aquele que julga ser o amor de sua vida.
“Ele se fora. Com as pernas trêmulas, ignorando o fato de que minha atitude era inútil, eu o segui para a floresta. O sinal de sua passagem desapareceu de imediato. Não havia pegadas, as folhas estavam imóveis de novo, mas avancei sem pensar. Não podia agir de outro modo. Precisava continuar em movimento. Se parasse de procurar por ele, estaria tudo acabado. O amor, a vida, o significado… acabados.” (MEYER, 2008, p.64)
Em um dos momentos mais inspirados da saga, Meyer coloca a sequência de meses após a partida de Edward (outubro, novembro, dezembro, janeiro) em páginas separadas e, com exceção do nome do mês, também em branco, demonstrando claramente o vazio na vida de Bella agora que Edward já não está mais ali. A vida da personagem está total e completamente centrada em Cullen. Seu amor é tão verdadeiro e tão intenso que, sem ele, já não há mais razão para continuar, não há mais motivos para seguir em frente – sua vida se torna apenas uma página em branco, em que histórias não são feitas. O tempo apenas passa, mas Bella já não vive, porque nada mais parece valer à pena, quando Edward se vai.
Mesmo a melhora que Isabella tem de seu quadro depressivo não é feita em razão da superação de seu amor. Isabella, depois de retomar a amizade com Jacob Black passa então a arriscar sua vida constantemente, em uma lembrança dos tempos em que quando ela se arriscava, Edward a resgatava.
“Eu estava ansiosa para tentar de novo; agir com imprudência mostrou ser melhor do que eu pensava. Podia deixar a trapaça de lado. Talvez eu tivesse encontrado uma forma de gerar as alucinações – isso era muito mais importante. [...] ‘Vá para a casa de Charlie’, ordenou a voz. Sua mera beleza me maravilhou. Eu não podia deixar que minha lembrança se perdesse, qualquer que fosse o preço. [...] Tinha de ser essa a receita para a alucinação: adrenalina mais perigo mais estupidez. Alguma combinação parecida com essa, de qualquer modo.” (MEYER, 2008, p.151, 152, 153)
No trecho acima, retirado de Lua Nova, Isabella começa a se recuperar de seu quadro de depressão, mas reforça ainda mais a noção de que a vida só valia a pena ao lado de Edward. As “alucinações” a que ela se refere são o eco da voz de Edward em sua mente, que ela julga ouvir ao se colocar em perigo. Repetidamente, ela arrisca a sua vida apenas para ouvir a voz de seu amado.
Se Bella tem momentos byronescos, Edward é a própria personificação de tal característica. Abandona a amada pelo seu bem, mas sofre a tal ponto por ela que, ao ouvir que ela morrera, busca ele também morrer, certo de que a vida sem sua amada não valia de nada. Este traço fortemente marcado em Edward será mais explorado no próximo item de discussão.

2.5 Fusão do Grotesco e do Sublime

Edward Cullen é, para colocarmos de maneira simples, a representação perfeita desta característica romântica. Enquanto Isabella parece fugir deste traço em particular, já que até mesmo como vampira ela tem uma resistência maior à tentação de matar, Edward se sente culpado por tudo de errado que aconteça com aqueles com quem se importa por se julgar um monstro. Em uma das frases mais famosas da saga, “E então o leão se apaixonou pelo cordeiro.” (MEYER, 2008, p. 206), Edward já se coloca na posição em que permanece até o fim da saga: o monstro, o predador, na imagem de um anjo.
São inúmeras as referências de Edward à sua qualidade de “monstro”. Em um dos momentos mais pretensamente profundos da obra, Edward e Carlisle assumem ter uma discussão sem fim sobre a questão da alma imortal. Edward julga que, por ser um monstro – palavra a que ele recorre em diversas ocasiões – ele já não tem alma, e merece ser condenado. Este é, na verdade, um dos maiores argumentos de que Edward se vale para não transformar Bella em uma vampira: de que ela, ao ser transformada, perderia sua alma imortal, condenando-a ao sofrimento eterno que Edward imagina que o espera. Carlisle discorda desta concepção, mas nem mesmo com os argumentos de seu pai adotivo Edward se convence. Ele se imagina o monstro e predador perfeito, e sofre por isso infinitamente.
A contraposição de imagem idealizada e comportamento cavalheiresco com a auto-imagem de monstro que Edward cria perdura por todas as cinco obras lidas, e fica claramente evidente emMidnight Sun, em que sua imagem negativa é refletida através de suas próprias palavras.
“Eu sorri. ‘Bem, nós podemos tentar, eu suponho. Mas eu já estou avisando que eu não sou um bom amigo para você.’
Eu esperei pela sua resposta, dividido em dois – desejando que ela finalmente ouvisse e entendesse [que ele não era bom para ela], pensando que eu poderia morrer se ela o fizesse. Que melodramático. Eu estava me tornando tão humano.” (MEYER, 2008, p. 120)
Ao lermos a obra do ponto de vista de Edward não há, na verdade, um único trecho em que a maneira como ele se julga errado, monstruoso e perigoso não apareça. Seu principal referencial para esta auto-imagem é a época em que ele diz ter se rebelado contra a maneira como Carlisle e o resto de seu coven viviam, alimentando-se apenas de animais. Neste período, Edward decidiu alimentar-se de sangue humano – claramente mais “saboroso” do que o animal. No entanto, mesmo em sua rebeldia e comprovada monstruosidade, Edward não assassinava qualquer humano: ele se alimentava apenas daqueles que ele sabia serem mal-feitores, o que ele conseguia saber por ter o poder de ler mentes.
“’Sou o melhor predador do mundo, não sou? Tudo em mim convida você… Minha voz, meu rosto, até meu cheiro. Como seu eu precisasse disso! [...] Como se pudesse ser mais rápida do que eu’, ele riu amargamente. Ele estendeu a mão e, com um estalo ensurdecedor, quebrou sem esforço um galho de sessenta centímetros de espessura do tronco de um abeto. Balançou-o na mão por um momento, depois o atirou numa velocidade ofuscante, espatifando-o em uma árvore enorme, que sacudiu e tremeu com o golpe. E ele estava na minha frente de novo, parado a meio metro, ainda como uma pedra. ‘Como se pudesse lutar comigo’, disse ele delicadamente. Fiquei sentada sem me mexer, com mais medo dele do que jamais senti. Nunca o vi tão completamente livre de sua fachada refinada. Ele nunca foi menos humano… Nem mais lindo. Pálida e de olhos arregalados, fiquei sentada como uma ave presa pelos olhos de uma serpente. Seus olhos adoráveis pareciam brilhar com uma excitação imprudente. Depois, com o passar dos segundos escureceram. Sua expressão aos poucos assumiu a máscara de uma tristeza antiga. ‘Não tenha medo’, murmurou ele, a voz de veludo involuntariamente sedutora. ‘Eu prometo…’, ele hesitou. ‘Nunca machucar você. Parecia mais preocupado em convencer a si mesmo do que a mim. ‘Não tenha medo’, sussurrou ele novamente enquanto se aproximava, com uma lentidão exagerada. Sentou-se sinuosamente, com movimentos deliberadamente lentos, até que nossos rostos estivessem no mesmo nível, a trinta centímetros de distância. ‘Perdoe-me, por favor’, disse formalmente. ‘Eu posso me controlar. Você me pegou de guarda baixa. Mas agora estou me comportando melhor.’” (MEYER, 2008, p.198-199)
Fica claro em qualquer trecho que Edward mostre suas características de monstro que ele, na verdade, não o é. Ele é um vampiro, mas se alimenta apenas de sangue de animais selvagens. É um predador, mas mesmo quando matava humanos, matava apenas os maus. Deseja o sangue de Bella mais do que qualquer outro, mas nega-se a tomá-lo para preservar sua vida. Finalmente, é um ser sobrenatural com inclinações assassinas, mas tem beleza divina. Ele é, desde a sua composição até suas ações, a personificação deste traço romântico, unindo à perfeição o sublime e o grotesco.

2.6 Leah Clearwater e a negação do Romantismo

Apesar de a saga Crepúsculo ser profundamente Romântica quando se referindo aos seus protagonistas, há nela personagens que quebram de maneira brusca esses paradigmas. O maior exemplo deles é Leah Clearwater, uma personagem secundária de história interessante e quase trágica, mas que exatamente por não possuir traços caracteristicamente Românticos tem um fim não Romântico.
Leah aparece pela primeira vez na saga em Lua Nova, na página 197, quando seu nome é mencionado em referência à família de Henry Clearwater, que acabara de sofrer um ataque cardíaco. Parte do núcleo de habitantes de La Push, Leah tem uma história nada convencional: descendente indígena, ela perde o noivo – por quem permanece claramente apaixonada até o fim da saga – para a própria prima, quando tal noivo, depois de transformar-se em um dos defensores de La Push – um lobisomem -, acaba por ter o que no livro se define por imprinting, o encontro de sua alma gêmea, algo que os lobisomens não controlam, mas também não podem negar. Depois de perder o homem que amava para a prima que, segundo a autora, era quase uma irmã para ela, Leah ainda sofre um segundo trauma: Leah Clearwater, diferentemente das outras índias, torna-se uma lobisomem junto com os homens jovens de sua tribo. Com isso, ela perde a capacidade de envelhecer e amadurecer – e também a capacidade de gerar filhos.
Leah é uma personagem que é a antítese da idealização. Amargurada, sarcástica, geralmente revoltada e sempre com raiva, ela perde tudo que já quis ter e, até o fim da saga, não recebe nada em troca. Sua mãe, que acaba por perder o marido, termina a trama com o pai de Bella. Seu irmão mais novo, Seth, é um dos personagens que fica feliz ao se saber um lobisomem. Todos os demais personagens têm, de uma maneira ou outra, um final feliz – com a exceção de Leah. Leah é, na verdade, a única personagem de toda a trama que foge em absoluto de todos os traços Românticos. Não é estonteantemente bela, nem perdoa com facilidade. Não se encaixa no padrão de donzela em perigo, nem tampouco salva as pessoas pelo prazer de ajudar. Ela é, de certa forma, a personagem mais humana e real de toda a trama, não aceitando o sobrenatural como comum, não dando mais do que recebe em troca e, por isso, sua personagem paga o preço: em uma trama em que todos recebem o que merecem, Leah ganha apenas solidão, amargura e infelicidade, como fica claro neste trecho, de Amanhecer, “[...] Diga-me quem me quer por perto, e eu vou embora.”[5] (MEYER, 2008, p.169).
Um final não-Romântico, para a única personagem não-idealizada de toda a trama.

3 CONCLUSÃO

A saga Crepúsculo, da autora norte-americana Stephenie Meyer, é recheada de traços e características Românticas a ponto de quase poder ser classificada como uma obra deste período. Tais características são extremamente acentuadas em Edward Cullen e Isabella Swan, os personagens centrais da obra, mas manifesta-se também nos personagens secundários, como Charlie Swan, Jacob Black e o restante da família Cullen. Percebe-se que os traços de comportamento destes personagens são Românticos em sua essência, reunindo características das três gerações do Romantismo, mas seus finais tendem à terceira Geração mais urbana, com fins felizes. Percebe-se também que em um dos poucos personagens da saga que não seguem os padrões Românticos, Leah Clearwater, usada neste trabalho como contraponto a Isabella e Edward, o fim da personagem foge à norma Romântica exatamente como suas características o fazem.
Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse, Amanhecer e Midnight Sun são um conjunto de obras modernas que retomam, abundantemente, traços do período literário Romântico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria da Literatura. Coimbra: Almedina, 1968.
Curso de Literatura. Disponível em: http://www.mundocultural.com.br/literatura1/index.html, acessado em 10 de junho de 2010.
MEYER, Stephenie. Breaking Dawn. New York: Little, Brown and Company, 2008.
MEYER, Stephenie. Crepúsculo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008.
MEYER, Stephenie. Eclipse. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008.
MEYER, Stephenie. Lua Nova. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008.
MEYER, Stephenie. Midnight Sun. Download em:http://dc152.4shared.com/download/61668259/aa60269b/Midnight_Sun_Ch_1-12.pdf?tsid=20100610-210625-67b64033, acessado em 10 de junho de 2010.
WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo#Caracter.C3.ADsticas, acessado em 10 de junho de 2010.


Ok,
Não se eskeça que eu ensinei a fazer resumo e introdução de um jeito um tanto mais elaborado. Tente seguir as instruções e fazer o seu trabalho, com as suas impressões, ok??.

Boa sorte!
Mãos à obra
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